No último dia 14, o norte-americano Philip Locker, militante do partido Socialistas Democráticos da América (DSA, na sigla em inglês), publicou no órgão da agremiação Reform & Revolution o artigo intitulado A Strengthened Trump Must Be Fought with Working-Class Movements and Independent Politics, defendendo uma política que demanda uma atenção por parte dos revolucionários pelas confusões expressas, como observado no trecho a seguir, em seu comentário sobre o caso dos tiros abertos contra o ex-presidente Donald Trump. Diz Locker:
“Os motivos do atirador ainda não são conhecidos. Se eles foram motivados politicamente por um ódio a Trump, suas ações terão um tiro pela culatra terrível. Mesmo com as melhores intenções, métodos terroristas desesperados não servem aos interesses da classe trabalhadora ou dos oprimidos. Em vez disso, eles desmobilizam as massas e criam condições favoráveis para a intensificação da repressão estatal”.
As evidências indicam mais que o atentado fora orquestrado pelo serviço secreto norte-americano e não pela ação de um “lobo solitário”, como tem insistido os monopólios da imprensa imperialista dos EUA. Suponhamos, entretanto, que seja como Locker diz, algum popular cansado da política da burguesia e com as “melhores intenções”, tenha efetivamente atirado. Um marxista iria jogar pedras na pessoa? Óbvio que não.
Longe de atacar o responsável, a política marxista séria é canalizar o mais do que justificado ódio da população a figuras como Biden, Trump e tantos outros políticos burgueses detestáveis para com isso, impulsionar a criação de um partido revolucionário, onde os elementos mais ativos da sociedade e dispostos à ação, encontrem um meio de expressar seu repúdio à burguesia de maneiras mais consequentes e eficazes. O artigo de Locker, no entanto, prossegue:
“Os marxistas não têm nada em comum com esses métodos destrutivos. A esquerda não deve, de forma alguma, se associar a esse ato insano ou fazer pouco caso dele. Se surgirem evidências que liguem o atirador à esquerda, as consequências não serão motivo de pouco. A única maneira viável de combater Trump – e o populismo de extrema direita que ele expressa – é construir um movimento multirracial da classe trabalhadora, massivo e democraticamente organizado. Não há atalhos para criar oposição política a Trump e ao sistema capitalista decadente que está gerando o populismo de extrema direita internacionalmente. Nossos métodos devem se basear na ação coletiva e na auto-organização democrática dos trabalhadores e das comunidades marginalizadas”.
Aqui o militante do DSA incorre no famoso sofisma, partindo de uma premissa apenas parcialmente verdadeira para chegar a uma conclusão absolutamente equivocada. É verdade que os marxistas preferem ações efetivas, mas, nem por isso, desprezam esta ou aquela forma de luta.
Apenas as condiciona à etapa da luta de classes, sem dissociá-las do desenvolvimento da consciência das massas operárias. Isso quer dizer que em circunstâncias onde o terrorismo for necessário para manter a luta viva, ele pode e deve ser usado, e não fazê-lo é ceder às pressões do moralismo burguês, que prega um repúdio ao terrorismo, mas usa-o rotineiramente. Seria uma capitulação abdicar de uma determinada forma de luta por puro preconceito pequeno-burguês.
Ao fim, o texto atinge o ponto alto da esquizofrenia. Após tanto palavrório sobre os “democratas corporativos”, Locker pede aos apoiadores do DSA para votar em Biden onde o voto dos democratas é decisivo. Diz o autor:
“O fortalecimento dos movimentos socialistas, trabalhistas e de solidariedade com a Palestina é agora ainda mais essencial. Junte-se ao DSA e nos ajude a construir uma alternativa política de massa aos republicanos de direita e aos democratas corporativos! A melhor forma de expressar isso em novembro é votar em Jill Stein para registrar o maior protesto da esquerda contra Trump e Biden (ou seu substituto do establishment), ao mesmo tempo em que se vota taticamente nos 7 a 10 ‘estados decisivos’ para que o candidato democrata bloqueie Trump – sem endossar os democratas corporativos como Biden e criticando abertamente suas políticas.”
Após todo o lenga-lenga, eles também se esforçam para despolitizar o país. Pior do que isso, chamam o voto no que existe de pior na política mundial, que é justamente o candidato democrata Joe Biden. Bloquear Trump, não custa lembrar, foi o que resultou no governo Biden, que por sua vez, impulsionou na pior ofensiva do imperialismo contra os países atrasados em muitas décadas.
Recentemente, a OTAN anunciou sua mais agressiva expansão de todos os tempos, fortalecendo as posições da aliança militar na Jordânia, com o Japão e impulsionando a guerra contra a Rússia na Ucrânia. Isso é o que Locker está apoiando, sob o pretexto de “bloquear Trump”, o que indica o quão longe suas posições estão do marxismo, que, antes de tudo, consideraria o problema da classe e não desta ou aquela feição da burguesia.
