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Governo Lula

A imperdoável defesa de Alckmin

O alinhamento do vice-presidente com a extrema direita católica e organizações como a Opus Dei é de conhecimento público. É a isso que uma parte da esquerda quer dar mais poder?

A jornalista Hildegard Angel assinou o artigo A imperdoável descortesia do governo com Alckmin, publicado no último dia 11 no portal Brasil 247, disparando críticas contra a “corte de Lula” por não empossar o vice-presidente Geraldo Alckmin, durante o período em que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, se recupera da cirurgia realizada no último dia 9. “Causa espécie a posição desconfortável conferida a Alckmin durante esse episódio da hospitalização do presidente Lula”, diz a jornalista em sua coluna, acrescentando ainda:

“É inaceitável, e merece chamada à altura, esse modo descortês de agir do Governo do Brasil, para não usar outra palavra, ignorando a função constitucional do Vice-Presidente da República como automático substituto do titular do cargo, em casos de seu impedimento, e de usá-lo como mero chefe de cerimonial, fazendo as honras da casa a um visitante estrangeiro, o 1º Ministro da Eslováquia, porém mantido afastado do dia a dia da gestão presidencial, enquanto Lula se encontra no isolamento de uma UTI, recuperando-se de cirurgia preocupante e prestes a se submeter a outro procedimento cirúrgico.”

Ora, dado o histórico tanto dos governos do PT com vices direitistas, nada mais acertado do que mantê-lo “afastado do dia a dia da gestão presidencial”. Ex-PSDB, a mera presença de Geraldo Alckmin no governo já deveria ser fonte de preocupação para qualquer esquerdista com a cabeça no lugar. Sua trajetória política, especialmente as sucessivas passagens pelo Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista) não deixam dúvidas quanto à natureza fascista de sua política, tendo seus governos se notabilizado por incontáveis massacres contra a população pobre do estado de São Paulo e, também, pela selvageria da repressão a servidores (destacadamente os professores), estudantes e qualquer cidadão que ousasse usufruir do direito de se manifestar no estado.

Os protestos de 2013, durante a etapa mais esquerdista das mobilizações, tinha como foco o repúdio à política neoliberal e fascista de Alckmin que empurrou multidões à avenida Paulista. O Junho de 2013, finalmente, começou como uma expressão do repúdio popular ao governo do PSDB, às privatizações, ao achaque dos servidores e, principalmente, à brutalidade da polícia de Alckmin, que reprimira a manifestação anterior, convocada pelo Movimento Passe Livre, com o padrão de “cortesia” exibido pelos agentes flagrados atirando trabalhadores de ponte e agredindo mulheres. Eis o criminoso que Angel se dedica a defender, sob termos como os abaixo:

“Geraldo Alckmin, ao longo desses dois anos de governo, tem-se revelado um Vice-Presidente dos sonhos para Lula, cortês, cerimonioso, elegante. Um vice exemplar, a exemplo do que foi Marco Maciel para Fernando Henrique Cardoso e, mais ainda, do que foi, por dois mandatos seguidos de Lula da Silva, seu então vice, José Alencar Gomes da Silva.”

Não deixa de ser curioso que Angel use palavras como “cortês” e “exemplar” para descrever Alckmin. A jornalista pode ter sido acometida por uma amnésia temporária, por isso para ajudar tanto ela quanto a outros esquerdistas, lembraremos outro notório exemplo da “cortesia” e da civilidade do vice-presidente: “não é o meu partido que é comandado de dentro de um presídio. Nem minha campanha foi lançada na porta de uma penitenciária. Em São Paulo, bandido pega cana dura”, declarou Alckmin em 2018, quando era postulante ao cargo no qual Angel quer ver empossado. Uma declaração exemplar, sim, mas do fascismo inerente ao “cortês” vice-presidente defendido pela jornalista esquerdista.

A articulista poderia argumentar que esse é o Alckmin que existiu entre o começo de sua vida pública no PSDB até 2022, mas que, em uma reviravolta mágica, Alckmin tenha sido tocado por uma força sobrenatural e inclinado-se à esquerda. Quem acreditar nisso, no entanto, acredita em qualquer besteira.

Seguindo a máxima dos mais astutos criminosos do “quem não é visto, não é lembrado”, é natural que Alckmin evite holofotes nesse momento, permitindo que Lula e sua equipe liderem o governo sem chamar atenção para si. No entanto, reduzir seu papel a um “chefe de cerimonial”, como sugere Angel, é desonesto.

O vice-presidente foi colocado em seu cargo não para ser um figurante, mas para ser uma trava de segurança do imperialismo, uma garantia para que Lula não ultrapasse os limites impostos pela classe dominante. Como figura central do PSDB por décadas, ele foi e continua sendo um operador do neoliberalismo e da repressão estatal, gozando da confiança da direita e, por isso mesmo, sendo escolhido para cumprir o papel de âncora do governo eleito pelos trabalhadores.

A entrada de Alckmin na chapa não foi um movimento de unidade “democrática”, mas um compromisso que limita severamente a possibilidade de Lula atender aos interesses populares. Na verdade, ele é o “plano B” do imperialismo, preparado para reassumir as rédeas caso o presidente petista se rebele com as amarras impostas pela ditadura mundial.

Nada disso é surpresa. O histórico de Alckmin é amplamente conhecido: um governador que entregou o estado de São Paulo aos bancos, ao sucateamento dos serviços públicos e, para lidar com a crise social inevitável, aos esquadrões da morte da polícia.

Seu alinhamento com a extrema direita católica por meio de organizações como a Opus Dei é de conhecimento público, tornando suspeita qualquer tentativa de apresentar Alckmin como um elemento “moderado”. Ao defender que Alckmin assuma mais protagonismo, na melhor das hipóteses, Angel demonstra um desconhecimento sobre quem é o vice-presidente, o que a torna uma péssima conselheira, alguém que não faz ideia dos perigos de chamar a esquerda a confiar em alguém que representa tudo o que o Lula deveria combater.

Dar-lhe mais poder é abrir caminho para que ele possa desempenhar um papel semelhante ao de Michel Temer em 2016. Quando a crise se instaurar – e isso é inevitável, tendo-se em vista a crise mundial -, não será surpresa se, em vez de um vice dos sonhos, Alckmin se mostre um pesadelo. Essa possibilidade deve alertar não apenas Lula, mas toda a esquerda, contra o perigo de subestimar ou romantizar uma figura tão ligada à extrema direita brasileira.

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