O campo de refugiados de Nusseirat, assim como a maioria dos campos de refugiados palestinos, foi erguido no ano de 1948, para abrigar os árabes expulsos de suas terras pelas tropas fascistas israelenses. A maioria dos refugiados veio do sul da Palestina, da planície costeira e da cidade de Birasabi, mais conhecida como Bersebá, no deserto do Negueve, cidade atualmente ocupada pelos israelenses, fazendo parte oficialmente do Estado de “Israel”.
Assim como os demais campos de refugiados, o de Nusseirat foi erguido pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês), como uma forma de controlar a revolta dos palestinos contra a expulsão de suas terras, sua luta pelo direito de retorno e a organização da resistência.
Vale ressaltar que antes da UNRWA ter criado o campo de Nusseirat, cerca de 16 mil palestinos refugiados já tinham se estabelecido no local, utilizando como abrigo uma antiga prisão que estava sob o controle do imperialismo britânico, quando da época do Mandato (administração colonial do Reino Unido sobre a Palestina).
Ainda, antes da Nakba, isto é, a limpeza étnica que os sionistas fizeram na Palestina em 47-48, expulsando quase um milhão de palestinos de suas terras, a região de Nusseirat era povoada grande parte pela tribo Nusseirat, de beduínos, tribo esta que era parte da confederação de tribos de Al-Hanajira, uma das cinco principais que habitava o Negueve antes da vinda dos sionistas.
Nusseirat também era o local de Tell Umm el-‘Amr, um sítio arqueológico reconhecido pela UNESCO, descoberto em 1999, formado pelo Monastério de Santo Hilarion; bem como os edifícios religiosos (igreja, claustro) e todas as dependências necessárias à vida dos monges (sala diversa, dormitório). Além de um complexo hoteleiro e banhos provavelmente utilizados pelos peregrinos visitantes do local.
O monastério é dedicado a Hilarion de Gaza, um anacoreta cristão que passou a maior parte de sua vida no deserto, distante da vida secular, vivendo uma vida orientada à oração, ao ascetismo e à eucaristia. É considerado por muitos o fundador do monasticismo palestino (prática da abdicação dos objetivos comuns dos homens em prol da prática religiosa). É, igualmente, um santo venerado tanto pela Igreja Católica Romana quanto pela Ortodoxa. Tais fatos servem para expor a farsa da propaganda israelense, de que, antes de os sionistas chegarem, a Palestina era só um deserto.
Até 7 de outubro de 2023, data em que “Israel” colocou em marcha mais um genocídio contra o povo palestino, na tentativa de afogar em sangue a revolução desencadeada pela Operação Dilúvio de al-Aqsa, o campo de Nusseirat abrigava 85.409 palestinos, segundo informações da própria UNRWA. Conforme consta no portal da agência, o bloqueio econômico que já era imposto por “Israel” àquela época à Faixa de Gaza tornava a vida dos palestinos de Nusseirat miserável:
“O bloqueio a Gaza, que já dura mais de uma década, tornou a vida cada vez mais difícil para a maioria dos refugiados no campo. As taxas de desemprego e de pobreza aumentaram substancialmente. Hoje, muito menos famílias conseguem sustentar-se a si próprias e uma proporção impressionante da população depende do programa de assistência alimentar e monetária da UNRWA. Tal como acontece nos outros campos de refugiados, a disponibilidade e a qualidade da água são motivo de preocupação no campo de Nusseirat.”
Diante dessa situação, os principais problemas enfrentados pelo campo eram os frequentes cortes de eletricidade; alto desemprego e pobreza; a fome, intensificada pelo colapso do setor pesqueiro, este, por sua vez, causado pelas restrições de pesca impostas por “Israel”; alta densidade populacional; água contaminada como a única disponível para consumo; escassez de materiais de construção (problema agravado pela destruição causada por bombardeios israelenses ao longo dos anos anteriores) etc.
Apesar disto, antes de 7 de outubro, a UNRWA mantinha no acampamento 17 instalações; 15 edifícios escolares, com 26 escolas no total; um centro de distribuição de alimentos; dois centros de saúde; dois escritórios de assistência social e de serviços sociais; um escritório de manutenção e saneamento, conforme exposto no portal da entidade.
A maior parte dessa infraestrutura de ajuda humanitária, senão a totalidade, já foi destruída por “Israel” nestes seis meses de genocídio. Uma intensificação do que foi feito durante toda sua história, contra os palestinos, a exemplo de quando as forças armadas israelenses assassinaram uma garota palestina de quatro anos ao bombardear Nusseirat em 21 de novembro de 2012. Após o Dilúvio de Al-Aqsa, na tentativa de intimidar aqueles que apoia a luta palestina de expor o genocídio, em um ataque aéreo, “Israel” assassinou a esposa, a filha de sete anos e o filho de 15 anos de Wael Hamdan Ibrahim Al-Dahdouh, jornalista da Al Jazeera, chefe do escritório da emissora na cidade de Gaza.
E, nessa última semana, a força aérea do Estado sionista está novamente realizando bombardeios contra o campo de Nusseirat, assassinando palestinos. Conforme noticiado pela agência de notícia chinesa Xinhua, nesta quarta-feira (10), “Israel” bombardeou duas mesquita e vários prédios residenciais no campo. Igualmente, fogos de artilharia foram disparados contra casas, apartamentos e terras agrícolas no entorno de Nusseirat. Ao menos cinco palestinos foram assassinados nestes ataques. Os ataques continuaram nesta quinta-feira (11), com as forças israelenses de ocupação utilizando helicópteros Apache para atacar, novamente, prédios residenciais. Segundo informações do portal de notícias Resistência News Network, na plataforma Telegram, oito palestinos foram assassinados.
Em razão dos ataques genocidas perpetrados por “Israel”, ao fechamento desta edição, a resistência palestina seguia travando intensos combates contra as forças invasoras em Nusseirat: