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Política internacional

A guerra vem aí

Impasse na Ucrânia e no Oriente Médio levará, inevitavelmente, a uma escalada do conflito entre os países imperialistas e os países atrasados

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou uma série de mudanças em seu governo – o que já era esperado, uma vez que o país acabou de passar por novas eleições e que, ainda que o presidente tenha sido reeleito, forma-se um novo governo. A mudança mais significativa, não apenas pela importância do cargo, mas também pelo seu significado político, foi a substituição de seu ministro da Defesa, seu aliado de longa data Sergei Shoigu, por Andrey Belousov, um civil que já foi vice-primeiro-ministro e que é considerado um especialista em economia. Com a mudança, Shoigu, que liderou o segmento da Defesa por 12 anos, se tornará o vice-presidente da Comissão Militar-Industrial da Rússia.

Em entrevista coletiva, o porta-voz do Crêmlin, Dmitry Peskov, não deu muitas pistas sobre o motivo da mudança. “Hoje, no campo de batalha, o vencedor é aquele que é mais aberto à inovação“, disse ele. “Portanto, é natural que, na etapa atual, o presidente tenha decidido que o Ministério da Defesa da Rússia deve ser liderado por um civil“. O porta-voz ainda destacou que, devido a “circunstâncias geopolíticas bem conhecidas, estamos gradualmente nos aproximando da situação dos meados dos anos 80, quando a parcela de despesas para o bloco de segurança na economia era de 7,4%. Não é crítico, mas é algo extremamente relevante“. Por fim, concluiu que, “no que diz respeito ao componente militar, esta nomeação de forma alguma mudará as coordenadas atuais“.

Em declaração à emissora norte-americana CNN, Mark Esper, ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos, afirmou: “o discurso maior que vem de Moscou agora é que a Rússia está se movendo em direção a uma economia de guerra. Eles estão em pé de guerra“. Por sua vez, Alexandra Prokopenko, ex-conselheira do Banco Central da Rússia, disse que: “a prioridade de Putin é a guerra” e que “a guerra de atrito é vencida pela economia“. Segundo ela, “Belousov é a favor de estimular a demanda do orçamento, o que significa que os gastos militares não diminuirão, mas sim aumentarão“.

A ideia de que a nomeação prepara um investimento ainda maior do Estado russo em um esforço de guerra também foi compartilhada por setores que apoiam o governo de Vladimir Putin. Konstantin Malofeyev, um dos chamados “oligarcas” que apoiam o governo russo e que é considerado um “ultranacionalista”, recebeu com grande entusiasmo a notícia. Segundo ele, a nomeação de Belousov indica que a Defesa estaria “se tornando a prioridade absoluta de toda a política estatal”. O magnata disse ainda que, “com um planejamento competente, do qual o novo ministro da Defesa é capaz, teremos tanto armas quanto manteiga“.

Independentemente dos reais motivos que levaram à substituição do ministro da Defesa, o fato é que ela ocorre na esteira de uma série de acontecimentos importantes que mostram um acirramento da luta de classes mundial.

Em poucas semanas, a repressão aos movimentos de contestação à dominação imperialista aumentaram de maneira exponencial. Nos Estados Unidos, foi aprovada a “lei do antissemitismo”, que estabelece uma censura brutal aos críticos do Estado nazista de “Israel”, e um projeto de lei que propõe o banimento da plataforma TikTok, que vem sendo utilizada largamente para denunciar os crimes cometidos pelos sionistas. Ao mesmo tempo, o governo norte-americano segue reprimindo duramente os protestos dos estudantes de universidades de elite, que exigem o fim do genocídio na Faixa de Gaza.

Nos países árabes, como a Arábia Saudita, a Jordânia e o Egito, a repressão policial aos inimigos do regime não para de crescer. Nos territórios ocupados por “Israel”, os palestinos não apenas seguem sendo presos arbitrariamente, como também estão sendo torturados sadicamente. No Brasil, destaca-se a perseguição contra o Partido da Causa Operária (PCO) e as “aproximações sucessivas” da burguesia em direção ao bolsonarismo. Enquanto a agremiação trotskista teve o seu canal “desmonetizado”, assim como aconteceu com seus três principais canais parceiros, os jornais burgueses têm insistido na “desilusão” com o governo Lula. A isso, se somam as críticas aos métodos ditatoriais de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), indicando que o bolsonarismo terá carta-branca para avançar no regime.

O objetivo de tamanha censura e repressão está cada vez mais claro. É uma tentativa de isolar os governos e os povos que estão em um enfrentamento direto com o imperialismo. Ao banir o TikTok, por exemplo, o imperialismo não só atingiu a resistência palestina, que é apoiada por usuários da plataforma, mas a China, uma vez que a empresa é sediada no país asiático. Iniciativas semelhantes têm sido tomadas contra países como Irã e Rússia.

É por isso, inclusive, que o governo Lula vem sendo cada vez mais hostilizado pela imprensa capitalista. Para o imperialismo, não basta realizar um governo bastante moderado, é preciso estabelecer, nos países-chave, governos que sejam completamente alinhados com sua política, que não apenas não se injuriam diretamente contra os Estados Unidos, o Japão e a União Europeia, mas que corte laços com os países rebeldes. Lula é incapaz de romper relações com a China e com a Rússia. Para o imperialismo, o presidente brasileiro teria de ser alguém como o ultra neoliberal Javier Milei, da Argentina.

A censura e a repressão, por seu turno, são a expressão de uma tendência mais ampla. O imperialismo, diante das sucessivas derrotas na Ásia Central, na África, no Oriente Médio e no Leste Europeu, está levando adiante uma contraofensiva. Uma contraofensiva, no entanto, que não acontecerá somente no âmbito da repressão política ou em medidas econômicas agressivas, mas, sobretudo, no âmbito militar.

Esse isolamento é, contudo, apenas uma preparação para um enfrentamento ainda mais duro. A oposição que China, Rússia e Irã impõem ao imperialismo é algo com o qual os donos do mundo não podem suportar. O imperialismo precisa esmagar esses países – do contrário, será assistir à própria morte de braços cruzados. Se o imperialismo não agir, verá todas as suas semicolônias africanas rompendo suas correntes. Verá o Eixo da Resistência varrendo “Israel” do mapa e derrubando as monarquias árabes reacionárias. É para isso que o mundo se encaminha, caso o imperialismo não consiga reagir à altura.

O domínio do imperialismo sobre o mundo é uma ditadura brutal, e eles não vão permitir nada que escape dessa ditadura. Para tal, estão dispostos a levar adiante, inclusive, uma guerra de grandes proporções. O que prova que existe uma tendência à guerra e não a um acordo com os países oprimidos é a questão da Ucrânia.

O país governado por Vladimir Zelenski está à beira de um colapso social completo. Conforme o comandante Robinson Farinazzo costuma repetir em suas análises, a Ucrânia se tornará um país de órfãos e de idosos, uma vez que os adultos estão sendo enviados sem qualquer preparo para morrer nos campos de batalha e que uma quantidade gigantesca de ucranianos já cruzaram a fronteira e se tornaram refugiados. Qualquer pessoa razoável olharia para a situação e diria: não há mais por que continuar essa guerra, é hora de fazer um acordo com a Rússia.

Mas não é isso que o imperialismo quer. Como já se tornou comum dizer, os norte-americanos lutarão “até o último ucraniano”, pois, para o imperialismo, pouco importa a vida daquela população. Seu único interesse é desgastar o regime russo, ainda que isso custe centenas de milhares de vidas. Por isso, o imperialismo está tomando medidas não para acabar com a guerra, mas para expandi-la. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) está se mobilizando para intervir na guerra. Franceses e norte-americanos já enviaram tropas para apoiar a Ucrânia. Recentemente, surgiram notícias de que outros países, como a Finlândia, teriam feito o mesmo.

Diante do cerco à Rússia, seu presidente, Vladimir Putin, colocou as forças armadas em uma situação de alerta nuclear e começou a fazer exercícios nucleares. Desde a última sexta-feira (10), a Rússia intensificou suas operações militares na cidade de Carcóvia. Em apenas três dias, o exército russo tomou vários vilarejos, com incursões que foram precedidas por bombardeios aéreos, resultando na libertação de Gatische, Krasnoe, Morokhovets e Oleynikovo. A vitória foi tamanha que o próprio governo ucraniano reconheceu o que chamou de “sucesso tático” dos russos.

O reconhecimento de Kiev aconteceu no mesmo dia em que o governo russo anunciou seu novo ministro da Defesa. Em sua participação mais recente no programa Análise Internacional, do Diário Causa Operária, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do PCO, destacou ainda que o novo ministro é considerado um representante dos chamados “falcões do Crêmlin”, que são um setor do regime russo que defendem uma posição mais belicosa.

A operação russa, junto com o anúncio da formação do novo governo, mostram o tamanho da crise imperialista e reforçam a necessidade de os países desenvolvidos agirem imediatamente. Afinal, em uma ditadura mundial, quando os donos do mundo ameaçam algum país, o esperado é que esse país responda somente: “yes, Sir“. Se os russos não apenas não recuaram, como estão aumentando as hostilidades contra os norte-americanos, o imperialismo será obrigado a dobrar a aposta.

O mundo, portanto, se prepara para uma guerra de grandes proporções. De um lado, os oprimidos se mostram dispostos a jogar todas as suas fichas em um enfrentamento militar que leve à sua libertação. É o caso da Rússia, em suas demonstrações mais recentes, é o caso do Irã, que estabeleceu um novo poder de dissuasão no Oriente Próximo, é o caso da Coreia do Norte, que vem declarando publicamente que está preparada para uma escalada nos conflitos com a Coreia do Sul, e é até mesmo o caso da China. De outro lado, os desesperados países imperialistas, que irão para um all-in para manter a sua ditadura.

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