EUA

A ‘guerra à liberdade de imprensa’ é feita pelo imperialismo

Jornalista dos monopólios de imprensa dos EUA acusa setores menores da burguesia mundial de fazer o que os jornalões fazem rotineiramente

O jornalista norte-americano Arthur Gregg Sulzberger, presidente da The New York Times Company e editor-chefe de seu principal jornal homônimo, escreveu um longo artigo publicado no concorrente The Washington Post, intitulado How the quiet war against press freedom could come to America (“Como a guerra silenciosa contra a liberdade de imprensa pode chegar à América”, em português), destacando que “líderes estrangeiros desenvolveram maneiras insidiosas de restringir o jornalismo básico. Não se surpreenda se os políticos dos EUA usarem o manual deles”, onde cita principalmente os primeiros-ministros da Hungria, Viktor Orbán, da Índia, Narendra Modi, e o ex-presidente brasileiro Jair Messias Bolsonaro. O que o texto faz, longe de defender a liberdade de imprensa, é usá-la como escudo para defender os monopólios de imprensa constituídos e umbilicalmente alinhados ao imperialismo, o que fica demonstrado já no primeiro parágrafo:

“Depois de vários anos fora do poder, o ex-líder retorna ao cargo em uma plataforma populista. Ele culpa a cobertura da mídia sobre seu governo anterior por ter lhe custado a reeleição. Em sua opinião, tolerar a imprensa independente, com seu foco na verdade e na responsabilidade, enfraqueceu sua capacidade de influenciar a opinião pública. Desta vez, ele está determinado a não cometer o mesmo erro. Seu país é uma democracia, portanto, ele não pode simplesmente fechar jornais ou prender jornalistas. Em vez disso, ele se dedica a minar as organizações de notícias independentes de maneiras mais sutis, usando ferramentas burocráticas como legislação tributária, licenciamento de transmissão e compras públicas. Enquanto isso, ele recompensa os meios de comunicação que seguem a linha do partido – sustentando-os com receita de publicidade estatal, isenções fiscais e outros subsídios do governo – e ajuda empresários amigos a comprar outros meios de comunicação enfraquecidos a preços reduzidos para transformá-los em porta-vozes do governo.”

Sulzberger tenta criar uma imagem de um governante que, frustrado com a “imprensa independente”, supostamente busca enfraquecê-la, enquanto impulsiona uma rede de comunicação que segue sua linha política. No entanto, a crítica que o jornalista direciona a esse líder é, na realidade, uma descrição perfeita de como os monopólios imperialistas de imprensa atuam globalmente. Controlando a disseminação da informação com uma ditadura, há muito tempo os monopólios de comunicação utilizam as mesmas ferramentas para manter seu poder sobre a opinião pública e suprimir qualquer oposição que ameace seus interesses econômicos e políticos.

A chamada “imprensa independente”, glorificada no texto, é, na verdade, dependente dos governos e monopólios imperialistas. Ela não busca a “verdade” ou a “responsabilidade” mencionadas, mas sim a manutenção de um regime político que trata como normal os assaltos aos cofres públicos pelos bancos, os genocídios e toda a política belicosa dos governos norte-americanos e europeus.

O uso de “ferramentas burocráticas”, como a legislação tributária e o licenciamento de transmissão, não é uma exclusividade de governos autoritários, como o autor sugere, mas uma prática comum dos monopólios midiáticos que, com a ajuda dos governos imperialistas, sufocam a imprensa verdadeiramente independente. No Brasil, a consolidação do monopólio da Globo e dos principais propagandistas da Ditadura Militar (1964-1985), o próprio órgão carioca e os paulistas Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo são um caso exemplar de como os “órgãos independentes” se estabelecem. Nos EUA, a emissora da guerra do Iraque, CNN, é outro.

Além disso, Sulzberger destaca que “uma democracia não pode simplesmente fechar jornais ou prender jornalistas”, uma colocação que depõe contra as “democracias”, em especial, os EUA e o Reino Unido. O caso do jornalista Julian Assange, fundador do WikiLeaks, demonstram o problema na prática.

Sem nunca ser questionado como Donald Trump (que inspirou a coluna) e Orbán, o “democrático” Barack Obama perseguiu Assange, uma política que foi continuada com Trump e o também “democrático” Joe Biden. Outro país da “democracia”, o Reino Unido terminaria prendendo o jornalista australiano, que só seria libertado em junho de 2024, após mais de uma década confinado na Embaixada do Equador, em Londres, e depois, no sistema prisional britânico. Tudo pelo crime de publicar notícias.

Além disso, a situação das “democracias” se complica ainda mais com o banimento de veículos de imprensa russos em países imperialistas após o início da guerra na Ucrânia. Com a imprensa russa desmentindo a propaganda imperialista do conflito, a censura a órgãos como a RT foi a resposta das “democracias” ao crime de desmascarar mentiras que jornais como The New York Times se esforçavam para difundir sobre o que ocorre na Ucrânia.

O “líder populista” descrito por Sulzberger, como se vê, apenas segue a cartilha que os monopólios de imprensa imperialistas têm aplicado há décadas: controlar o fluxo de informação, favorecem quem está alinhado a seus interesses e sufocar qualquer voz que se oponha a seus objetivos. A ironia aqui é que o autor descreve o comportamento de um sistema do qual faz parte.

Ao longo do texto, o autor tenta construir uma fantasia onde governos que buscam romper com o domínio do imperialismo são vilões autoritários que atacam uma “imprensa independente”, quando na realidade essa “independência” nada mais é do que um eufemismo para a manutenção do controle ideológico por parte dos monopólios capitalistas sobre a opinião pública. 

Não há no texto qualquer menção ao fato de que os grandes grupos de imprensa que dominam a Hungria, os Estados Unidos, ou qualquer outra parte do mundo, sobrevivem graças ao financiamento do imperialismo. A “imprensa livre”, tão defendida pelo autor, depende diretamente dos interesses de corporações multinacionais e governos controlados por esses monopólios. São eles que ditam o que deve ou não ser noticiado, quais vozes devem ser amplificadas ou silenciadas, tudo para proteger seus lucros e seu poder político.

É um cinismo típico do imperialismo acusar seus inimigos dos crimes que eles cometem rotineiramente. O artigo não é outra coisa além disso, uma expressão da tentativa desesperada dos monopólios de disciplinar a ala dissidente da burguesia, sem outro propósito além de reforçar o controle da informação e, finalmente, a censura silenciosa e disfarçada que o imperialismo impõe aos povos oprimidos. Liberdade, só para The New York Times e o seleto grupo de órgãos imperialistas.

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