No artigo publicado no Brasil 247 intitulado Precisamos salvar Fernando Haddad, Moisés Mendes apresenta conclusões reveladoras sobre o fracasso total da esquerda nas eleições municipais de 2024, tiradas pelo jornalista do órgão esquerdista. No meio do texto, Mendes afirma o seguinte sobre o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que recentemente saiu na defesa do governo criminoso de Fernando Henrique Cardoso:
“O ministro seria, na tentativa de reconstrução das esquerdas e da preparação da transição da liderança de Lula, o nome que se apresenta com naturalidade. Podem até contestar, como contestam, se é de fato de esquerda, mas essas classificações quase colegiais cada vez importam menos.”
É quase como dizer que a esquerda está morta e a única forma de salvá-la é com um “nome” de direita, a saber, o famigerado “mais tucano dos petistas” ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Sabendo da impossibilidade de apresentar o cada vez mais neoliberal Haddad como um cidadão de esquerda, a solução do jornalista é dizer que isso não importa, evidenciando que, acima de tudo, a esquerda “importa menos” para Mendes.
O posicionamento e a escolha das palavras não deixam dúvidas para o fato de que, ao jornalista de Brasil 247, “importa mais” a direita dita civilizada, responsável direta por articular o golpe de 2016, derrubar a presidenta Dilma Rousseff e alçar Michel Temer à presidência da República de maneira ilegal, “em um grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”. Não é, portanto, a “reconstrução das esquerdas” que o mobiliza a escrever, mas o pós-Lula com a direita, um processo que torna necessário “salvar Haddad”.
Mendes não poderia ter sido mais claro ao expor Haddad como o direitista que é. Conhecido como “o mais tucano dos petistas”, o ex-prefeito de São Paulo foi apelidado de “Raddard” durante sua passagem pela prefeitura paulistana, onde levou adiante um governo foi tão odiado que conseguiu a proeza de ser derrotado já no primeiro turno. À frente do primeiro escalão do governo Lula, no Ministério da Fazenda organiza um duríssimo programa neoliberal contra a população, sendo um dos principais responsáveis pela desmoralização do governo junto a população, algo visto sem ressalvas por Mendes, que defende a política econômica do ministro:
“Haddad será forte se contemplar, também, e talvez até antes de qualquer outra coisa (grifo nosso), a confiança e as expectativas do mercado.”
A frase acima vem como que para confirmar, sem deixar a menor sombra de dúvidas, que Mendes está, de fato, preocupado com a reconstrução do PSDB e do falido centro político. É, portanto, a comprovação muito antes do previsto de algo que este Diário vem destacando há meses, que concentrar a luta política em uma disputa contra o bolsonarismo é uma tática derrotista, uma vez que joga a esquerda no colo do pior setor da direita, mais diretamente ligado ao imperialismo e no Brasil, representado pelos organizadores do golpe de 2016 e 2018, quando o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, foi ilegalmente proscrito, movimento que abriu caminho para a vitória de Jair Bolsonaro. A esquerda, para Mendes, deve terminar seu próprio sepultamento com o apoio a Haddad e, segundo o autor, em um cenário como o que se segue:
“Por que falar de um nome em meio a esse ambiente desconfortável? É simples assim, é só citar um nome, mesmo que Lula esteja ativo e pronto para a disputa da reeleição? Não, é bem complexo. Mas é também a hora de buscar âncoras. Haddad continua no primeiro lugar da fila. Podemos começar pelo que é mais simples e que todos nós entendemos, e não só os cientistas formuladores de ideias, que dominam o debate público nas esquerdas há muito tempo. Vamos começar de novo por um nome, mesmo que seja conhecido e já tenha sido testado e derrotado. Vamos voltar a falar de Haddad. Lula foi eleito na terceira tentativa. Mas lembremos que antes temos os cortes, a Moody´s, a Faria Lima, o Congresso e a incógnita Gabriel Galípolo. É preciso salvar Haddad.”
Resumindo, Haddad se prepara para desferir um ataque ainda mais duro contra a economia nacional e ainda assim, deve ser “salvo” “pelas esquerdas”. Não para benefício do campo, que não “importa”, mas para benefício de um regime político cuja grande obra foi a reversão total da política nacionalista iniciada nos anos 1930 com Getúlio Vargas, implicando no mais radical processo de desindustrialização da história do capitalismo, a pirataria explícita do patrimônio nacional, o desemprego crônico que assola a maioria da classe trabalhadora em decorrência dessa política e a submissão completa do País à ditadura dos bancos, e dos monopólios internacionais. É ou não é um objetivo nobre?
Os setores da esquerda com algum neurônio na cabeça devem observar os posicionamentos dados por Mendes e superar de uma vez por todas essa política fadada ao fracassso de apoio à direita tradicional, sob pretexto de combater o que supostamente seria o “mal maior”, o bolsonarismo. Tanto a direita centrista quanto a extrema direita são expressões políticas da mesma classe dominante, o que torna a tática uma loucura. Útil para a destruição da esquerda, o que como o jornalista disse com todas as letras, “não importa”, mas importa para os trabalhadores, camponeses e estudantes, além dos demais setores do movimento social ligados à luta dos oprimidos.