Europa

A esquerda pró-imperialista analisa as eleições russas

Órgão teórico do Movimento Esquerda Socialista (MES), do PSOL, publicou peça de propaganda imperialista contra a Rússia

A Revista Movimento, órgão ligado ao Movimento Esquerda Socialista (MES), corrente morenista do PSOL, publicou, no dia 14 de março, matéria assinada por um tal Daniil Sapunkov, apresentado ao final da matéria como “um ativista estudantil nascido em Moscou e radicado na cidade de Nova Iorque”. Ele é membro da organização Socialistas Democráticos da América (Democratic Socialists of America [DSA], em inglês), a mesma a qual pertencem o senador Bernie Sanders e a deputada Ocasio-Cortez, eleitos pelo Partido Democrata dos EUA.

A matéria se propõe a analisar as eleições russas, que ocorreram neste último domingo (17) e terminaram com vitória de Putin. 

Quando uma organização morenista no Brasil decide publicar uma matéria escrita por um militante ligado à ala esquerda de um dos partidos do imperialismo norte-americano, não é difícil prever o resultado da empreitada. A matéria é uma peça de propaganda imperialista contra a Rússia de um ponto de vista esquerdista.

“Corrupção e fraude eleitoral”

A matéria usa todos os lugares-comuns que se encontram aos montes na imprensa imperialista. Putin é um ditador, que alcançará algo em torno de 30 anos no poder, mantendo-se ali única e exclusivamente com base na fraude, na corrupção e na manipulação constitucional. Senão vejamos:

“A corrupção desenfreada e a fraude eleitoral prepararam o terreno para um regime político autoritário que reprime a dissidência e a oposição e suprime qualquer pedido de reforma democrática. A eliminação de ativistas da oposição e a prisão de manifestantes são práticas comuns na Rússia atual.”

Não se pode duvidar que haja corrupção e manipulação eleitoral no regime russo, assim como não há de se duvidar que haja fenômenos semelhantes no regime brasileiro, norte-americano, inglês, argentino ou angolano. O problema é que, enquanto em relação ao Brasil, por exemplo, impera uma campanha pesada para disseminar a ideia de que o sistema eleitoral é imune a fraudes e manipulações, em relação à Rússia, vigora uma campanha em sentido oposto. Trata-se, ao fim e ao cabo, de uma campanha de veiculação de propaganda. E mais: tanto num caso como no outro (do Brasil e da Rússia), propaganda que responde aos interesses do imperialismo. A matéria repete os mesmos argumentos que se encontram na Rede Globo, na Folha de S. Paulo, no The New York Times, no The Sun e em todo e qualquer órgão do imperialismo mundial.

“Eliminação da oposição”

O articulista radicado nos EUA também afirma, assim como o imperialismo não se cansa de repetir, que Putin permanece no poder a partir da “eliminação da oposição”. Para quem está mais ligado à realidade latino-americano, o argumento é bastante familiar quando se menciona a situação do chavismo na Venezuela. 

Tanto na Venezuela quanta na Rússia, a direita pró-imperialista, por caminhos diversos, entrou em crise profunda. Hoje, apresenta inúmeras dificuldades para se afirmar e, inclusive, ter algum desempenho eleitoral relevante. Com seus candidatos e partidos em crise, o imperialismo promove uma campanha intensa para desmoralizar os regimes eleitorais de Rússia, Venezuela, Nicarágua, entre outros. 

A preocupação do imperialismo com a existência de “oposições” neste ou naquele país anda de acordo com os seus interesses de conveniência. Se pegarmos o exemplo do Egito, onde a oposição foi dizimada por uma ditadura militar pró-imperialista, vê-se que as campanhas denunciando a eliminação da oposição são inexistentes. A Revista Movimento, do MES, não tem o costume de denunciar a ditadura sanguinária egípcia. Se os mestres norte-americanos não o fazem, não o fazemos também ― é o lema do MES.

O seguidismo ao imperialismo fica ainda mais claro ao abordar o caso Navalni. O articulista, que se reivindica “socialista democrático”, qualifica Navalni como “um importante político da oposição”. Navalni é descrito como um membro da “oposição liberal”, como “talvez um dos mais famosos políticos e ativistas da oposição russa”. A descrição de Navalni pelo estudante “socialista” é das mais respeitosas:
de um começo humilde como funcionário do partido de centro-esquerda Yabloko, ele passou a organizar marchas nacionalistas de direita. Ele passou por algumas eleições sem sucesso e encontrou seu renascimento político como fundador do Fundo Anticorrupção. O canal do Fundo no YouTube reuniu milhões de visualizações ao publicar investigações sobre as operações corruptas das elites russas. Ele se tornou um agitador e um comunicador público. Ele falou sobre algo que as pessoas na Rússia já sabiam – a corrupção generalizada do governo de Putin – mas talvez estivessem com muito medo de dizer em voz alta”.

Como se vê, Navalni é tratado com reverência pelos “socialistas democráticos”. Nenhuma palavra é dita sobre os vínculos do opositor russo com os serviços de inteligência norte-americanos e britânicos.
A partir de 2010, através de seus contatos na extrema direita russa, Navalni passou seis meses nos EUA como membro do programa Yale World Fellows, o que demarca seu retorno à “direita civilizada”, umbilicalmente ligada aos EUA e UE. Assim como os nazistas ucranianos, Alexei Navalni teve seu alinhamento político “limpo” pelo imperialismo, tendo em vista que, mesmo compondo a extrema direita russa, era um opositor do Kremlin.

Em um vídeo divulgado em 2021, Alexei Navalni aparece conversando com o agente James William Thomas Ford, do MI6 (agência de inteligência britânica). No vídeo, o russo é direto, pede entre dez e vinte milhões de dólares para iniciar uma “revolução” (colorida) na Rússia. 

Para um partido verdadeiramente socialista e revolucionário, que luta contra o capitalismo, os cidadãos que se vendem ao imperialismo e trabalham para ampliar o domínio das potências sobre os países atrasados, não merecem nenhum sinal de respeito e reverência. Sobre Navalni, a única afirmação adequada a um socialista é a de que ele era um agente do imperialismo, um golpista, e não um mero “opositor liberal”, como a imprensa monopolista norte-americana o chama.

Guerra da Ucrânia e Crimeia

É possível determinar ainda mais claramente o caráter pró-imperialista do artigo identificando as suas posições sobre a questão da Guerra da Ucrânia e a anexação da Crimeia. 

Para o autor, a anexação da Crimeia, realizada em 2014, foi “ilegal”. Quanto à questão ucraniana, o estudante radicado nos EUA qualifica a Operação Especial Militar como uma “invasão”, resultado das “políticas imperialistas” de Putin. E o imperialismo bate palmas mais uma vez!!

Medidas defensivas, tanto a operação militar na Ucrânia quanto a anexação da Crimeia foram respostas da Rússia à ofensiva da OTAN em direção às suas fronteiras, uma ofensiva que se iniciou praticamente desde o fim da União Soviética, em 1991, e só encontrou alguma reação russa, para contê-la, na última década. 

Nesse ponto, não é possível meias-palavras: quem se coloca contra a operação militar russa na Ucrânia e contra a anexação da Crimeia está ao lado da OTAN e do imperialismo.

O jovem estudante Sapunkov se mostra, com esse artigo, um aluno dedicado na arte de defender os interesses dos EUA. E encontrou alguns colegas de turma aqui no Brasil bem-dispostos a colaborar nessa iniciativa.  

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