A burguesia adota uma posição cada vez mais agressiva em relação ao governo Lula, principalmente por meio de sua imprensa. Ao mesmo tempo, o PT tenta responder a essa pressão, sem conseguir, entretanto, muitos resultados.
Abriu-se, por exemplo, uma crise no que diz respeito à política fiscal do governo. Enquanto a burguesia defende a política do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de tirar dos pobres por meio de cortes na educação, na saúde etc.; Lula defende que não se pode fazer reajuste “em cima dos pobres”.
Jogando lenha nesta fogueira, Merval Pereira, um dos principais representantes da burguesia na imprensa, publicou uma coluna no jornal O Globo intitulada Um país encrencado, na qual afirma que Lula fica de um lado para o outro e não se define.
“Vale o que fala Fernando Haddad, ministro da Fazenda, ou Gleisi Hoffmann, presidente do PT? Lula fica de um lado para o outro e não se define. Se definisse agora, seria na base do ‘gasto é vida’, que já deu errado no governo Dilma, em consequência do desgoverno com início no que ele fez no final de seu segundo mandato para eleger Dilma na base do crescimento econômico forjado em medidas artificiais”, afirma o colunista da Família Marinho.
Merval faz referência a uma declaração feita por Gleisi Hoffman, presidente do PT, em sua conta oficial no X (antigo Twitter). “Uma boa leitura!”, escreveu a deputada sobre um texto de Leonardo Sakamoto, publicado no Uol, que diz que “não adianta taxar super-ricos se cortar de pobres em educação, saúde e BPC”.
Além disso, na segunda-feira (17), a Direção Nacional do PT publicou uma nota denunciando o que chamou de uma “forte campanha especulativa e de ataques ao programa [do governo Lula] de reconstrução do País com desenvolvimento e justiça social”.
Quer dizer, a situação está pegando fogo. Tudo isso, porém, é expressão de uma crise muito maior que diz respeito à política fundamental adotada pelo governo Lula. Em editorial intitulado Política econômica tem exaustão precoce, publicado na terça-feira (18), a Folha de S.Paulo dá o recado de que a burguesia não está aprovando a política econômica do governo.
Assim como indicam as declarações de Merval Pereira, para o jornal golpista, a política de Lula é uma política de “meio-termo”, quando o presidente deveria, na verdade, estar aplicando uma política decididamente neoliberal.
Fato é que, caso a esquerda petista, por exemplo, escrevesse um editorial como este, diria a mesma coisa, mas do ponto de vista da população. Ou seja, que a política de “meio-termo” não está convencendo os setores populares.
Finalmente, o salário continua extremamente desvalorizado, enquanto os preços dos produtos que compõem a cesta básica do trabalhador aumentaram — não só no que diz respeito a alimentos, como também ao aluguel, ao fornecimento de água e de energia etc. A situação da classe média também está cada vez pior, dezenas de milhares de pequenos empresários faliram desde o golpe de Estado, algo que não foi revertido até agora.
O governo não está conseguindo resolver o problema social. Lula confiou que a mesma política que foi aplicada em seus governos anteriores resolveria a situação brasileira, o que não aconteceu e não está acontecendo.
Nesse sentido, apesar da Folha falar em “esgotamento econômico”, a tal “exaustão precoce” do governo é expressão de uma crise mais geral. A política de “meio-termo” de Lula está se esgotando, levando, com isso, o governo a um impasse:
Se a situação continuar desta maneira, o governo terá que mudar de política. Ou vai mais para a esquerda, ou vai mais para a direita.