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Oriente Médio

A ‘esquerda MI-6’ que quer derrubar o governo do Irã

O grupo IMT, sediado na Inglaterra, segue exatamente a mesma política do imperialismo inglês, derrubar o “reacionário governo iraniano”

A morte de Ebraim Raisi, o presidente do Irã, em um trágico acidente de helicóptero, levou a imprensa burguesa a fazer uma campanha enorme contra o governo nacionalista do país. Alguns setores da esquerda adentraram totalmente nessa campanha, foi o caso do portal In Defence of Marxism, sediado na Inglaterra. Ele publicou o artigo Irã: O presidente Ebrahim Raisi está morto – rejeite a hipocrisia imperialista! Morte à República Islâmica! Por um Irã socialista!. Só pelo título, já fica claro que a política do partido é a mesma da BBC.

Ele começa tentando escapar da principal crítica, de que está seguindo exatamente a mesma política do imperialismo. O texto afirma: “da nossa própria perspectiva, dizemos: o legado sanguinário de Raisi é de uma reação contrarrevolucionária. Que as massas revolucionárias iranianas logo enterrem a República Islâmica junto com ele”. É o clássico esquerdismo: na prática, tem a mesma política do imperialismo, mas, nas palavras, falam que, na verdade, apoiam a revolução. No Brasil, isso ficou claro com a campanha contra a presidenta Dilma, apoiada pelo PSOL, pelo PCB e pelo PSTU, por exemplo.

Ele segue: “internamente, a morte de Raisi destacou a profunda polarização na sociedade iraniana. Os fanáticos pró-regime compareceram ao cortejo fúnebre estatal em Tabriz, Qom e Teerã, consistindo no máximo em dezenas de milhares, em cidades com populações de milhões”. Aqui, trata-se de um argumento absurdo. O velório de Raisi foi a maior manifestação popular do ano, uma das maiores do século. Foram centenas de milhares às ruas espontaneamente. Mobilizações aconteceram até fora do Irã, foi o maior atestado possível de sua popularidade.

O In Defence of Marxism ignora isso e afirma: “estudantes revolucionários de universidades em Teerã, Curdistão, Isfahan, Shiraz, Karaj e outras partes publicaram desafiadoramente uma declaração conjunta”. Para eles, mais importante que o povo nas ruas são os grupos pseudo revolucionários estudantis escrevendo cartinhas. Algo que explica muito sobre a natureza do jornal inglês.

O artigo, então, define o governo do Irã como totalmente reacionário: “toda a República Islâmica foi construída sobre valas comuns, tendo chegado ao poder ao sequestrar a Revolução Iraniana de 1979 e afogar em sangue os revolucionários que derrubaram o odiado Xá. Ebraim Raisi, como mencionado na declaração do Conselho Coordenador dos Professores, foi responsável pela execução de até 30.000 prisioneiros políticos, incluindo muitos comunistas, na década de 1980. Além desse papel na contrarrevolução, como parte do judiciário, ele defendeu a escória do regime contra suas próprias leis”.

Eles não consideram o regime iraniano como um nacionalismo de tendências revolucionárias fruto de uma revolução. Considera que o poder foi sequestrado, mas sequestrado de quem? Os aiatolás assumiram o poder justamente porque não havia nenhuma esquerda revolucionária. Os únicos que acompanharam a maior revolução operária da segunda metade do século XXI foram o aiatolá Khomeini e seus seguidores. Seria impossível ser um governo reacionário, pois teria que ter se chocado com a revolução, o que eles fizeram foi garantir a vitória da revolução, apenas não a levaram até a ditadura do proletariado. Esse ponto é crucial. O partido não compreende que um país oprimido pode ter um regime nacionalista que combata o imperialismo.

Mais abaixo, eles afirmam: “o apoio ao secularismo também cresceu e a piedade diminuiu, conforme revelado em um vazamento recente do Centro de Pesquisa para Cultura, Arte e Comunicação do regime, mostrando que 73% dos iranianos defendem a separação entre religião e estado e 85% tornaram-se menos religiosos em comparação com cinco anos atrás. Uma pesquisa online holandesa anterior de 2020 mostrou que apenas 32,2% da população se considerava muçulmana xiita, enquanto 36,8% eram ateus, irreligiosos ou agnósticos”.

Esses dados, caso verdadeiros, apenas mostram como o governo é popular. A população iraniana apoia o governo mesmo não sendo tão religiosa quanto os dirigentes do regime. Isso porque, no essencial, eles acertam, que é a luta contra o imperialismo. Isso foi assim desde a revolução. Quando ela aconteceu, o Estado havia se esfacelado diante da gigantesca greve geral dos operários. Caso houvesse um partido operário real, ele teria assumido o poder. Como não havia, assumiu o setor mais combativo, os aiatolás, e isso segue assim até hoje.

E, finalmente, chegam ao golpismo: “portanto, a tarefa dos revolucionários no Irã deve ser preparar não apenas para a derrubada da República Islâmica, mas de todo o sistema capitalista. Já os últimos seis anos criaram um terreno fértil para as ideias comunistas ganharem audiência. Toda uma geração de jovens foi forjada na luta de classes e repressão, fomentando um ódio absoluto pelo regime e pelo sistema que eles defendem”.

Ou seja, a principal tarefa dos trabalhadores não seria lutar contra o imperialismo, mas sim contra o governo. O imperialismo que está no Oriente Médio oprimindo todos os povos da região e está querendo derrubar o governo do Irã não é o maior inimigo. É absurdo. Os trabalhadores podem e devem formar uma organização política própria, mas isso não quer dizer fazer campanha contra o governo. Pode criticar apenas os aspectos mais direitistas do governo, mas sem fazer uma campanha pela sua derrubada. Em última instância, o governo luta contra o imperialismo e, por isso, é um aliado dos trabalhadores. Seria equivalente a uma campanha contra o governo Getúlio Vargas em 1954, é absurdo.

E concluem: “esse potencial deve ser transformado em realidade. Essas forças devem se organizar e estar prontas para intervir em futuros movimentos de massa e levantes. Com tal base, as boas tradições de luta que foram esmagadas por figuras como Ebraim Raisi serão reconstruídas em um nível mais elevado”. Ou seja, ao invés de atacar “Israel”, que assassinou dezenas de iranianos, de atacar os EUA, que mataram Qassem Soleimani, eles focam no presidente iraniano.

Está claro que essa organização está completamente dominada pela política imperialista. Ser contra o Irã é ruim, mas fazer isso na Inglaterra, um país que tradicionalmente dominou o Irã, é especialmente reacionário. Toda a esquerda da Inglaterra deveria ser contra o seu próprio governo, e não contra o Irã. Nesse sentido, a República Islâmica do Irã é aliada dos operários ingleses e de todo o mundo.

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