O jornalista do portal de esquerda Brasil 247, Alex Solnik, publicou, no último dia 15, uma coluna intitulada “Mártires” contra a “escória satânica”, retomando a tentativa de associar o ativista da extrema direita Francisco Wanderley Luiz – morto durante explosões na Praça dos Três Poderes ainda sob investigações – com “grupos terroristas internacionais, como a Al Qaeda”. Na cabeça de Solnik, “até mesmo as palavras usadas, tais como ‘mártires’, remetem a grupos terroristas internacionais, como a Al Qaeda”. Diz o articulista:
“A mensagem reforça indícios de que, à semelhança do modus operandi da Al Qaeda, um ou mais grupos de extrema-direita estariam aliciando, no Brasil, ‘lobos solitários’ dispostos a dar a vida para executar ações de alto risco, ideologicamente fanatizados e emocionalmente vulneráveis.”
A tentativa ridícula empreendida pelo autor de associar a extrema direita brasileira à Al Qaeda, promove uma propaganda que não apenas é intelectualmente desonesta, mas reproduz diretamente a política de “guerra ao terror” inaugurada pelo genocida ex-presidente norte-americano, George W. Bush. Solnik reproduz, quase sem filtro, a tese imperialista de que qualquer forma de violência política fora do controle do regime dominante deve ser rotulada como “terrorismo”. Sua ação é ridícula por ignorar completamente o caráter social radicalmente oposto do bolsonarismo e da Al Qaeda.
Enquanto o primeiro é um instrumento mais radicalizado da ditadura imperialista contra o Brasil, o segundo é um grupo que, apesar de ter colaborado com o imperialismo no Afeganistão, dedicou sua trajetória após isso a lutar contra os Estados Unidos, tendo por isso mesmo sido duramente atacado após o fim da guerra entre a União Soviética e o Afeganistão (1979-1989). O grupo Al Qaeda foi alvo de uma intensa campanha de calúnias promovida pelo imperialismo a partir dos anos 1990, dedicada a fazer uma verdadeira lavagem cerebral contra desavisados, que se bem tenha sido desmascarada pela juventude norte-americana (que no começo do ano viralizou a palavra de ordem “Bin Laden estava certo”), ainda engana os incautos e propensos a serem atingidos pela propaganda imperialista por sua posição social. Incapaz de conter sua subordinação ao imperialismo norte-americano, Solnik continua:
“Os ‘mártires’ da Al Qaeda topavam o sacrifício certos de que ao chegar no Céu seriam recebidos por cem virgens.
No caso brasileiro, a grande recompensa seria mandar para o inferno a ‘escória satânica’ que não deixa Bolsonaro voltar ao poder.”
Ao comparar seguidores de Bolsonaro aos combatentes da Al Qaeda, Solnik faz mais do que distorcer fatos: ele repercute a política imperialista e usa o caso ocorrido na Praça dos Três Poderes para justificar o recrudescimento ainda mais acentuado do regime político brasileiro. A “guerra ao terror” não foi apenas uma campanha militar genocida; foi também um mecanismo para intensificar a severa repressão política no interior dos EUA, fortalecer os aparatos de vigilância e suprimir liberdades democráticas tanto no próprio país quanto em outros países subordinados ao imperialismo.
A aplicação dessa política no Brasil, como sugere Solnik, teria um efeito semelhante: fortalecer o Estado policial e entregar mais poder àqueles que Bolsonaro já serviu com sua proverbial continência — o imperialismo norte-americano. Para isso, o autor presta-se a defender a criminalização de qualquer oposição ao regime político vigente, sob o pretexto de combater “terroristas”. No entanto, quem se beneficiaria de tal política?
Certamente não o povo brasileiro, que seria o alvo principal de um Estado ainda mais autoritário. Assim como nos EUA, onde a “guerra ao terror” foi usada para justificar perseguições internas e guerras externas, no Brasil essa política só fortaleceria os interesses das forças imperialistas que apoiaram o bolsonarismo em sua ascensão.
A proposta do autor, no final das contas, é a mesma que os governos imperialistas aplicaram após o 11 de Setembro: intensificar a repressão, fortalecer os aparatos fascistas do Estado e consolidar o controle do imperialismo sobre nações dependentes. Ao alinhar-se com essa política, Solnik demonstra que sua posição não é a de combater o bolsonarismo ou a extrema direita, mas sim a de ser mais um porta-voz dos interesses imperialistas. Ele não apenas desvia o foco dos verdadeiros responsáveis pela crise brasileira — os mesmos que sustentam Bolsonaro —, mas trabalha para aprofundar a subordinação do Brasil ao imperialismo.