Enquanto o massacre genocida de “Israel” contra a população palestina em Gaza se mantém, os órgãos de comunicação e os aliados do enclave imperialista vêm repetindo incansavelmente a palavra “terrorismo” para justificar a carnificina contra o povo palestino. A justificativa é dada por figuras políticas como a democrata Hillary Clinton, para quem o “terrorismo”, segundo suas palavras, “deve ser erradicado”. Toda a destruição de hospitais, escolas e o assassinato de civis em massa, segundo essa linha de raciocínio, seria “dano colateral” necessário para atingir essa suposta “erradicação do mal”. Esse discurso, contudo, não surgiu por acaso.
Conforme destaca a extensa reportagem publicada no MintPress pelo jornalista Kit Klarenberg, intitulada Team B and the Jerusalem Conference: How Israel Helped Craft Modern-Day “Terrorism”, o conceito de “terrorismo” moderno não se desenvolveu naturalmente, mas foi planejado e sistematizado em conferências e debates estratégicos em que figuras da ditadura sionista, como Benjamin Netaniahu, desempenharam papéis centrais. O artigo de Klarenberg revela uma série de eventos históricos, especialmente durante os anos 1970, que foram manipulados pelo imperialismo para criar e consolidar a imagem de um inimigo global a ser combatido – o “terrorista” – justificando, assim, agressões imperialistas contra povos oprimidos e nações atrasadas.
Em 1976, durante a conjuntura da Guerra Fria e o auge da distensão entre os Estados Unidos e a União Soviética, o então diretor da CIA (agência do serviço secreto dos EUA) George H. W. Bush (futuro presidente norte-americano), rejeitou um relatório anual da agência que destacava a situação de crise econômica dos soviéticos e sua disposição pela paz. Ele criou o chamado “Team B” (Time B, em português), uma extrema direita mais linha-dura do imperialismo e patrocinado pela indústria bélica, formado pelos chamados “falcões” (o setor mais belicista do país) que reescreveram as conclusões oficiais, fabricando a visão de uma URSS “ameaçadora” e disposta a atacar os EUA a qualquer momento. Esse tipo de propaganda preparou o terreno para a criação de uma ideologia do “terrorismo”, o que isso seria decisivo na formulação de políticas externas e internas da ditadura mundial.
Pouco depois, o evento conhecido como Entebbe Raid – em que um voo da Air France foi sequestrado e desviado para Uganda – foi rapidamente aproveitado pelos sionistas para construir a imagem do “terrorista” como uma ameaça em escala global, levando “Israel” a impulsionar essa propaganda. A operação, que resultou na morte de um militar sionista e na libertação de reféns, foi utilizada para demonizar as ações de resistência palestina, tornando-as, aos olhos do imperialismo, uma causa puramente “terrorista”.
A ascensão do mito do “terrorismo” alcança seu ápice na fundação do Instituto Jonathan, em 1979, por Benjamin Netaniahu. Esse instituto organizou a Conferência de Jerusalém sobre Terrorismo Internacional, reunindo políticos, membros do serviço secreto das potências imperialistas e defensores da ocupação militar da Palestina.
A tese apresentada na conferência, repetida como um mantra por líderes e autoridades imperialistas, estabelecia que todo “terrorismo” mundial seria orquestrado pelo governo soviético, um “esquema diabólico” que exigia resposta militar. Esse foi o molde do mito do “terrorismo” contemporâneo, criado para servir de pretexto para intervenções do imperialismo, repressão interna e um controle social ampliado.
A influência dessa política foi intensa. Entre os participantes da conferência estava a jornalista Claire Sterling, que rapidamente publicou uma série de artigos para a imprensa, popularizando a noção de que o “terrorismo” era um fenômeno orquestrado e uma ameaça iminente. Em 1981, seu livro The Terror Network transformou essa tese em fenômeno mundial, seduzindo tanto o público quanto políticos como o então presidente norte-americano Ronald Reagan e seu diretor da CIA, William Casey.
Embora o próprio relatório da CIA tenha refutado a tese central do livro, a pressão de Casey resultou na sua revisão, permitindo que ele fosse usado como justificativa para o envio de tropas e recursos para a repressão violenta aos movimentos de oposição ao imperialismo nos países atrasados. O impacto dessa nova ideologia também foi imenso para a ditadura sionista.
Conforme as declarações do próprio Netanyahu, o ataque de 11 de setembro nos EUA foi um divisor de águas, que facilitou a aceitação do “modelo israelense” de repressão em nome da “segurança nacional”. As técnicas de invasão de privacidade, vigilância de alta tecnologia e até assassinatos extrajudiciais promovidas por “Israel” começaram a ser exportadas para aliados e testadas nas populações da Palestina ocupada. Esse aparato de segurança, experimentado e vendido em feiras de armas, transformou o regime sionista em uma “autoridade” mundial em “combate ao terrorismo”.
A realidade por trás desse “terrorismo” moderno, conforme revelado pelo trabalho de Klarenberg, é que ele foi concebido para criminalizar qualquer forma de resistência contra o imperialismo e para justificar a opressão dos povos, principalmente nos países atrasados. O objetivo nunca foi defender nenhuma expansão de regimes democráticos ou proteger civis, mas garantir a dominação do imperialismo em áreas onde a resistência se levantava.
Hoje, com a retórica do “terrorismo” sendo usada para justificar o massacre de civis em Gaza, fica claro que essa invenção, promovida pela ditadura sionista, continua a servir aos interesses mais obscuros da ditadura mundial.