Previous slide
Next slide

Venezuela

A ‘ditadura’ dos que enfrentam o imperialismo

Pressionados por questões centrais como a defesa da soberania do país vizinho, os elementos direitistas da esquerda que cada vez mais revelam seu alinhamento ao imperialismo

O colunista do Brasil247 Alex Solnik publicou um artigo no portal esquerdista acusando o mandatário reeleito da Venezuela, Nicolás Maduro, de ser um “ditador”, além de requentar outras denúncias feitas pelo imperialismo contra o líder venezuelano. “Existe democracia de esquerda ou de direita” (Ditadura é ditadura. E vice-versa, 11/8/2024), diz Sonik, acrescentando que a “democracia comporta governos de esquerda ou de direita”, e da mesma forma, “não existe ditadura de esquerda ou de direita. Ditadura é ditadura”, conclui, deixando claro sua indiferença com os interesses do povo, sobretudo das massas trabalhadoras, as principais vítimas da ofensiva imperialista contra o país vizinho.

Expressando o desprezo típico da pequena burguesia com o que realmente importa na luta política, os interesses que prevalecem em uma dada sociedade. “Ao ver essas cenas logo me vêm à mente a ditadura militar de 64”, diz o jornalista, “os mesmos rostos fechados, os discursos patrióticos, as violações de direitos humanos em nome da segurança nacional, a alegação de defesa da soberania para repelir, como intromissão, denúncias de países que repudiam o arbítrio”, esquecendo mais uma vez a questão dos interesses em disputa e que aqui, mudam radicalmente uma situação (a Venezuela de Maduro), da outra (o Brasil do golpe de 1964).

Em 1964, os EUA estavam apoiando a movimentação de militares já corrompidos por eles, estimulando e financiando toda a conspiração criada para derrubar o então presidente João Goulart. É de conhecimento público que a principal potência imperialista fora a principal responsável não apenas pelo golpe, mas por todo o desenvolvimento subsequente. Enquanto isso, os “Solniks” da época adotavam a mesma posição do colunista de Brasil247, colocavam a “democracia” acima dos interesses antagônicos para acusar Goulart de ser um ditador e que com o golpe, “ressurge a democracia”, conforme os dizeres de O Globo, posição adotada sem moderação pelo Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e outros órgãos de propaganda, que tal como Solnik, acusam Maduro de ser um “ditador” e as eleições de fraude.

A principal diferença entre os regimes”, se arrisca Solnik, “é que na ditadura ninguém pode discordar do ditador”, ao que acrescenta: “o ditador não admite discutir a sua autoridade com ninguém, nem de dentro nem de fora do país”. Seria o caso de explicar quem é o “de fora” capacitado para discutir a autoridade não apenas de Maduro, mas de qualquer líder do mundo. Até onde se sabe, a Venezuela é uma república independente e soberana, sendo o povo venezuelano o único a ter legitimidade para questionar quem é merecedor de estar à frente da nação.

O que o jornalista defende, de maneira mais ou menos velada ao reclamar que a autoridade de um líder seja discutida “fora do país”, são os verdadeiros questionadores da vitória de Maduro: o governo norte-americano.

Ou seja, os mesmos responsáveis pelo golpe de 1964 (e incontáveis outros posteriormente, mesmo no Brasil), podem dizer, segundo Solnik, quem deve e quem não deve governar a Venezuela. Quem é e quem não é democrático. O jornalista continua: “não há diálogo, ou você concorda, ou é proclamado inimigo. E terá de se haver com as Forças Armadas”, diz, uma frase que pode perfeitamente ser atribuída ao grupo de interesses defendido por Solnik, os EUA.

O alinhamento do colunista do Brasil 247 também aparece no trecho a seguir: “candidatos mais fortes foram impedidos de participar, o candidato à reeleição ameaçou com banho de sangue caso perdesse”. Ora, baseado em que Solnik diz que “candidatos mais fortes foram impedidos de participar”. O jornalista está apenas reproduzindo o que a máquina de propaganda norte-americana bombardeou sobre o tema, porém deixando traços, que mostravam como, por exemplo, os institutos de pesquisa usados para afirmar que Maduro perderia, eram ligados a opositores, sendo as próprias ONGs golpistas norte-americanas difusoras das tais “pesquisas”.

Primeiramente Solnik inverte a afirmação do “banho de sangue”, assim como faz a imprensa burguesa, Maudrudo afirmou que oposição faria o “banho de sangue”. Além disso, ela acabou se revelando suave em comparação com a agressividade dos chamados “guarimberos”, milícias fascistas que se dedicaram a insuflar o golpe contra Maduro, perseguindo simpatizantes do chavismo nas ruas e ateando fogo em hospitais. Vendo a virulência com que a vitória do líder bolivariano foi contestada, é evidente que a ascensão da direita do país vizinho ao poder produziria muito mais violência.

“Venezuelanos que estão no exterior impedidos de votar, as fronteiras foram fechadas, o acesso às urnas foi dificultado e a apuração não foi transmitida ao vivo, voto a voto, apesar de as urnas serem eletrônicas, como no Brasil, mas com voto impresso, o que Bolsonaro exigia, mas não tem no Brasil.

O Brasil conseguiu apurar 100 milhões de votos em algumas horas. A Venezuela, com eleitorado de 10 milhões (votaram seis), deveria apresentar o resultado em minutos. Mas não apresentou. 

Só no dia seguinte o próprio Maduro anunciou que venceu, quando já havia fundadas suspeitas de que alguma coisa estava fora da ordem. Sem apresentar as atas – os comprovantes do voto impresso.”

Tudo muito bem dito, exceto que quando as tais atas foram apresentadas, os candidatos do imperialismo se recusaram a reconhecê-la. Foram os únicos, o que Solnik não considerou estranho, como também não demonstrou espanto com o fato de os EUA, além de exigirem as atas (em frontal violação da soberania venezuelana), declararam seu candidato, o organizador fascista Edmundo González Urrutia, presidente.

Ato contínuo, González e Maria Corina Machado (a golpista apresentada por Solnik como “candidatura mais forte”) continuam livres, fazendo algo inclusive proibido no Brasil, que é contestar o resultado das urnas. O colunista deveria, portanto, explicar o que faz de Maduro um ditador e de Lula um líder democrático, quando aqui no Brasil pessoas foram condenadas a 17 anos de prisão por não aceitar o resultado das urnas.

Na Venezuela, ficou demonstrado pela ação do governo norte-americano que os dois elementos são golpistas a serviço de uma potência estrangeira em um claro esforço de derrubar o governo. O fato de estarem não apenas livres, mas vivos, mostra que se o presidente Maduro é um “ditador”, é o mais benigno que já existiu, mais inclusive, do que o presidente Lula, reconhecidamente um líder democrático.

“Pressionado a comprovar o resultado, o governo militar de Maduro afastou-se de vez do caminho democrático. Em vez de responder com argumentos às queixas da oposição, que alegou ter ganho em 80% das atas, com diferença de mais de 30%, ou em concordar com a recontagem (como houve no Brasil na reeleição de Dilma Rousseff), taxou os opositores de criminosos e passou a reprimir manifestações da oposição e prender, indiscriminadamente, sem ordem judicial, quem ousou discordar de sua reeleição.”

Solnik aqui, comete a loucura suprema de usar uma presidente derrubada como exemplo. Poderia usar o boliviano Evo Morales também. Ambos os casos demonstram o que acontece com líderes que fraquejam diante do enfrentamento com forças golpistas.

É de se questionar se a lembrança dos erros da presidenta Dilma Rousseff são elencados porque, no fim, o colunista não expresse abertamente, mas queira o mesmo desfecho: um regime fantoche e violento, controlado pelos EUA e voltado à espoliação do país alvo. Pressionados, são os elementos direitistas da esquerda que cada vez mais se revelam.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.