Em seu perfil no X, o dirigente petista Alberto Cantalice fez uma crítica direitista do candidato à prefeitura de São Paulo, o bolsonarista Pablo Marçal (PRTB). Em sua publicação, Cantalice abandona completamente qualquer discussão de fundo político sobre Marçal e sentencia que o direitista “é bandido”. A publicação do dirigente petista foi:
“O ‘Coach’ candidato em São Paulo é bandido. Todo mundo sabe: a justiça, a imprensa e os ‘formadores’ de opinião.
Não dá para normalizar esse fato. Foge aos princípios democráticos tamanho escracho.
Antidemocrático e antirrepublicano é ter um indivíduo a usar tamanha exposição pública ao arrepio da legalidade.
A disputa em São Paulo ganha contornos de tragédia travestida de comédia.
É preciso foco e firmeza para derrotar o caos.”
Em sua ansiedade para conquistar a prefeitura da cidade mais importante do País a qualquer preço, pode ter escapado a Cantalice, mas a acusação de “bandido” é exatamente o que a direita faz contra ninguém menos do que o principal líder popular do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também do PT. Pior ainda, o presidente Lula chegou a ser preso, permanecendo 580 dias no cárcere em Curitiba, saindo apenas após uma ampla mobilização nacional exigindo a soltura do presidente.
Se alguém ser considerado “bandido” é um fator relevante para Cantalice, o homem deveria estar em franca campanha pela queda do presidente. Como não é uma crítica séria, mas uma forma de tentar jogar lama em um adversário para favorecer uma mesquinha disputa eleitoral, o dirigente petista age como um bom político burguês inescrupuloso, evocando qualquer argumento para isso e sem calcular os problemas do que está apoiando.
Não satisfeito, Cantalice continua, dizendo que “não dá para normalizar esse fato [a candidatura de Marçal]”, porque “foge aos princípios democráticos tamanho escracho”, concluindo o parágrafo considerando ser “antidemocrático e antirrepublicano é ter um indivíduo a usar tamanha exposição pública ao arrepio da legalidade”. Ora, mas essa é exatamente a alegação dos bolsonaristas e demais direitistas que participaram do golpe de 2018, quando o presidente Lula foi impedido de participar das eleições, à revelia de seus direitos e também de dezenas de milhões de brasileiros que pretendiam votar no líder petista.
Novamente, se “foge aos princípios democráticos” ter alguém considerado “bandido” disputando um cargo público, o líder do partido dele e presidente do País deveria então abdicar da Presidência. Finalmente, “bandido” por “bandido”, Lula chegou a ser encarcerado, ao contrário de Marçal.
Uma acusação repetida à exaustão pelo conjunto da direita, desde a ala centrista até os bolsonaristas, é que Lula é um “bandido”, razão pela qual o principal líder popular do País não poderia ser apoiado. Sendo expoentes do setor mais ativista da direita, os bolsonaristas são justamente a ala da direita que mais fazem propaganda disso, o que coloca Cantalice próximo da extrema direita em um aspecto importante dos direitos políticos fundamentais da população. Que os inimigos da classe trabalhadora façam esse tipo de consideração é compreensível, mas um representante da esquerda também é acima de tudo um sinal de alinhamento com a direita inconcebível.
Um regime democrático, para ser reconhecido como tal, jamais deveria fazer as distinções feitas por Cantalice. A direita faz porque tem como propósito excluir a participação política ao máximo, enquanto a luta da esquerda sempre foi no sentido oposto, de ampliá-la ao máximo. Inadvertidamente, o que Cantalice faz é jogar água no moinho da direita e tornar normal, por exemplo, intervenções golpistas do Estado como as que tiraram Lula da disputa eleitoral de 2018, quando o presidente era o franco favorito no pleito, com chances reais de ser eleito ainda no primeiro turno, impulsionado ainda pela comoção causada por sua detenção ilegal.
Da mesma forma e ao contrário do que diz o burocrata petista, o verdadeiro “arrepio da legalidade” seria negar os direitos políticos de Marçal e das pessoas que por ventura sintam-se representadas por ele. Tirá-lo da disputa por meio de um expediente tão arbitrário seria a verdadeira ilegalidade “antidemocrática”.
Apoiar a intervenção da burocracia judicial sobre a escolha popular é, igualmente, antidemocrático. Apoiar uma atrocidade dessas, é abrir o terreno para o trator golpista atropelar o governo Lula e isso a esquerda não deve aceitar.