Como que ressuscitado do inferno para onde fora despachado após o escândalo da “Operação Monte Carlo”, onde se apurou uma rede de jogos ilegais no estado de Goiás, o ex-senador do estado pelo falido DEM Demóstenes Torres publicou um artigo de opinião no sítio Poder 360, dedicado a criticar (vejam a ironia) a suposta “falta de democracia” dos governos de esquerda na América Latina, em especial na Nicarágua. Diz o ilibado ex-parlamentar, no artigo intitulado Democracia de esquerda:
“No fim de novembro, tornou seu Legislativo único dentre as aberrações da política global ao aprovar com urgência emendas à Constituição. Dos 198 artigos, substituiu 143 e revogou 38. Tão fácil quanto conceder título de cidadania em cafundó. Conta com 100% de apoio dos 92 parlamentares, 75 de seu partido e o restante conluiado por inanição ou covardia.”
O trecho apresentado pelo ex-senador procura apresentar o presidente da Nicarágua como um ditador por causa de questões formais acerca do regime. Alguém mais normal, no entanto, avaliaria a natureza democrática de uma reforma constitucional pelo efeito dessas mudanças e como elas impactam a população, independentemente da quantidade de normas constitucionais.
É óbvio que um governo pode aprovar um pacote de emendas constitucionais caso conte com apoio parlamentar necessário para tal, mas a verdadeira questão é se essas emendas favorecem ou prejudicam a população, o que Torres não debate.
Ainda destilando seu veneno, Torres reproduz o melhor tom da extrema direita mais desprezível e frontalmente inimiga do povo latino-americano, destacando:
“Ortega, um semianalfabeto que mal completou o primário, deixa os bens sob controle do enteado Payo, irmão e inimigo de Zoilamérica. Paco administrava, por exemplo, o meio bilhão de dólares americanos que Hugo Chávez enviava anualmente ao padrasto mesmo com a debacle da Venezuela. Se roubasse o dinheiro, seria imediatamente condenado a 100 anos de perdão.”
O artigo de Demóstenes Torres no Poder 360 é um show de horrores que beira o patético, uma ode ao servilismo ao imperialismo e ao desprezo pela autodeterminação dos povos latino-americanos. Sua sanha contra o governo Ortega não é motivada por uma preocupação genuína com a “democracia”, o que só pode ser entendido como um exercício de cinismo, dado que o mesmo fora senador pelo partido da Ditadura Militar.
Ao chamar Ortega de “semianalfabeto” e zombar das reformas constitucionais na Nicarágua, Torres não faz outra coisa além de reafirmar seu desprezo pelo povo trabalhador e pela luta dos países latino-americanos para se libertarem das garras do imperialismo. Seu artigo é uma peça encomendada para reforçar os ataques do imperialismo contra governos legítimos, que travam uma verdadeira guerra contra a ditadura imperialista na América Latina para preservar os interesses dos povos de seus países. Por mais caricato que seja, seu texto reflete os interesses daqueles que têm na subjugação de nosso continente o seu maior objetivo.
A Nicarágua, sob Ortega, representa a continuidade de uma resistência histórica contra as intervenções que destroem economias, instalam regimes fantoches no poder e transformam países em quintais do imperialismo. Por isso, Ortega incomoda tanto os Demóstenes da vida.
A esquerda é o único campo que se opõe de maneira real à exploração e ao saque que os EUA condenam à pobreza e à dependência, sob apoio de venais como Torres. Ao contrário do ex-senador, cuja preocupação com os direitos democráticos do povo latino americano é tão genuína quanto sua integridade política, Ortega e outros líderes nacionalistas representam a tentativa de um povo de tomar as rédeas do próprio destino.
O artigo de Torres é mais uma tentativa desesperada de criar distrações e desviar o foco dos verdadeiros responsáveis pela crise na América Latina: as potências imperialistas e seus lacaios locais. Desmascarar esses vendilhões é uma tarefa urgente, e a melhor forma de fazê-lo é seguir apoiando aqueles que lutam contra o domínio estrangeiro e pelas conquistas sociais de nosso continente.
A Nicarágua, com Ortega, segue resistindo. Torres, por sua vez, seguirá sendo um fantoche do que há de mais retrógrado e inimigo dos povos da América Latina.