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Burquina Fasso

A curiosa esquerda que usa LGBTs para apoiar o imperialismo

Órgão esquerdista chama governo africano de "imperialista" por leis contra homossexuais, uma loucura que expressa o tamanho da desorientação do campo

O sítio maoísta A Nova Democracia publicou um curioso artigo, intitulado Burkina Faso pretende ‘proibir a homossexualidade’ (Thiago Dorea, 16/7/2024), acusando o governo do país africano de “integrar uma lista dos 22 regimes reacionários pró-imperialistas e antipovo do continente africano que não permitem relações entre pessoas do mesmo sexo”. Qual seria a relação entre a proibição do homossexualismo e a política “pró-imperialista” não fica claro e tampouco A Nova Democracia se importa em explicar, mas os ataques à junta militar revolucionária que governa o país desde a expulsão dos franceses, em 2022, são uma constante no artigo:

“O regime militar de Burkina Faso tem à frente Ibrahim Traoré desde 2022, quando o imperialismo francês foi expulso do país, e é atualmente apoiado pelo imperialismo russo”, escreve Dorea no artigo.

Ora, o autor deveria então explicar duas políticas muito mal-formuladas no artigo: por que o imperialismo se interessa em reprimir o homossexualismo e de onde saiu o “imperialismo russo” identificado pelo jornal. Para a primeira política, Thiago Dorea aparenta ter estado fora da realidade social nos últimos 20 anos e não tem observado uma verdade conhecida por todo o planeta, de que o imperialismo vem usando a comunidade LGBT para intervir nos países atrasados.

Observando a ligação entre ONGs ligadas aos LGBTs e o imperialismo, países incapazes de se curvarem ao imperialismo como a Rússia fizeram o mesmo. Em decorrência desse fenômeno, torna-se ainda mais impressionante o desnorteamento exibido por Dorea, que credita ao imperialismo um suposta política que “não permite relações entre pessoas do mesmo sexo”. Após a Casa Branca (sede do governo norte-americano) ser iluminada por cores do arco-íris e toda a propaganda feita pelo governo Joe Biden com as pessoas trans, é flagrante para qualquer um que as forças imperialistas não estão sintonizados com a política levantada pelo articulista de A Nova Democracia, que precisaria então explicar melhor a colocação, totalmente em desacordo com o que a realidade demonstra.

Depois dessa demonstração, outra questão seria igualmente importante: o que A Nova Democracia entende por imperialismo? É evidente que o grupo maoísta é tomado por uma profunda confusão sobre o tema, uma vez que identifica algo que nem Lênin identificou: o imperialismo de uma nação atrasada.

A Rússia, deve-se lembrar, é uma nação que chegou a 1917 ainda na Idade Média, em muitos sentidos. Além da forma política extremamente atrasada de um governo capitaneado por um imperador (czar) que também era líder religioso, o país ainda mantinha uma estrutura econômica basicamente feudal, grandes latifundiários sendo a classe dominante do Império.
No mesmo ano (1917), Lênin definia o imperialismo como uma etapa superior do capitalismo, possível apenas onde o sistema econômico avançara a ponto de permitir a superação da livre concorrência e a formação dos monopólios que tornarão o socialismo possível. Definitivamente, a Rússia não se enquadrava na definição de Lênin, sob nenhum aspecto possível, e, hoje, menos ainda.

Após o desmantelamento da União Soviética, o país foi invadido pelo neoliberalismo, tendo sua economia completamente arrasada pelo verdadeiro imperialismo, que impôs a política econômica devastadora a todos os países do mundo, como forma de superar a crise dos anos 1970. No meio do caminho, o gigante eslavo viu-se cercado pelo avanço constante da OTAN, o braço militar do imperialismo, começando apenas em 2014 a reagir ao cerco, com a anexação da Crimeia.

A autodefesa russa atingiu um novo patamar após a abertura de uma guerra contra a aliança militar do imperialismo real, que usa a Ucrânia como bucha de canhão para seus propósitos opressores. A lembrança de toda a linha do tempo é fundamental para expor o tamanho da loucura cometida pelo artigo publicado em A Nova Democracia, que, sob bases estranhas ao que o marxismo entende por “imperialismo”, joga a nação russa no mesmo conjunto de países que se mobilizam para destruí-la.

“Porém, os militares, por conta do seu caráter de classe latifundiário, não avançaram no sentido de dar consequência ao caminho democrático revolucionário e a consequência foi que o país tornou-se novamente refém do imperialismo, desta vez russo: grupos militares russos vincularam-se ao novo regime de Burquina Faso e assinaram acordos prevendo atuações de empresas em nome de Moscou”.

Ora, a presença de mercenários russos nada mais é do que o auxílio prestado pelo governo Vladimir Putin aos nacionalistas africanos, que, se bem sucedidos, tendem a enfraquecer o imperialismo. Nada mais natural, portanto, que a Rússia apoie os movimentos nacionalistas na África, inimigos de seus piores inimigos, que por sinal. O estranho da história é Dorea apegar-se a isso para dizer que a Rússia é imperialista.

O desnorteamento do colunista de A Nova Democracia evidencia uma lacuna grave, representada pela incompreensão do problema do imperialismo, o que termina fazendo com que Dorea torne-se um agente do imperialismo, quer tenha consciência disso ou não. Fosse ele um acadêmico escrevendo bobagens na universidade, onde ideias malucas não tem maiores consequências, ainda vá lá, mas não é o que ocorre.

Até a revolução liderada pelos militares nacionalistas do país africano, Burquina Fasso era um paraíso para as potências imperialistas, que extraíam da pobre nação os recursos necessários para acalmar a classe trabalhadora de seus respectivos países. Não havia nenhuma lei contrária à homossexualidade, mas, no estado de embrutecimento do povo africano, algo assim tampouco era necessário. Ao condenar o nacionalismo africano pela política adotada, o que A Nova Democracia faz é apoiar a antiga ditadura de tipo semi-colonial com que os EUA e a Europa oprimiam o povo, e, por consequência, condenar as nações atrasadas a serem meros capachos da ditadura mundial dos monopólios, algo que não pode ser aceito no interior da esquerda.

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