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Eleições municipais

A culpa é mesmo do identitarismo

Colunista tenta responder se o identitarismo é culpado da derrota da esquerda nas eleições, mas acaba por produzir um texto confuso e sem resposta

Nos deparamos recentemente com um texto publicado no sítio Esquerda Online, no qual o colunista Gabriel dos Santos busca responder a seguinte pergunta, que aparece logo na manchete da matéria: “A culpa é mesmo do identitarismo?”. A pergunta é em relação às eleições de 2024 no Brasil, já que, segundo o autor, alguns setores teriam dito que a culpa da derrota da esquerda no Brasil recaía sobre o identitarismo.

No entanto, durante o texto, seu autor acaba por não responder à pergunta, começando por tecer críticas à opinião de alguns dos analistas que colocaram a culpa das eleições no identitarismo para, no final do texto, ele mesmo acabar por criticar o identitarismo.

Em determinado parágrafo, o autor coloca o seguinte: “(…) esse texto não busca fazer um balanço eleitoral. Mas sim fazer uma (…) crítica (a) um fantasma que ronda o balanço eleitoral da esquerda, o fantasma do identitarismo.”. Qualquer crítica desse tipo cai em um vazio absoluto, porque não se trata de uma crítica a algo observado na realidade, mas sim, a uma crítica a uma maneira de pensar, no uma crítica ao pensamento daqueles que colocaram a culpa da derrota da esquerda nas eleições no identitarismo. É algo muito abstrato, próximo de discussões como a dos escolásticos que tentavam calcular a quantidade de anjos que cabiam na cabeça de um alfinete.

Portanto, vamos aos fatos: a esquerda perdeu as eleições de 2024. Por mais que o número de prefeituras do PT tenha crescido saindo de 182 para 248, o resultado é pífio, visto que o governo do Brasil está nas mãos de Lula, o que, em condições normais, faria com que o número de prefeituras fosse muito maior. Além disso, o PT apenas venceu uma capital, a de Fortaleza (CE), sendo que o vencedor da capital cearense, Evandro Leitão, era do PDT até o ano de 2023, não possuindo ligação alguma com o Partido dos Trabalhadores.

Já em São Paulo, na capital, o PT sequer lançou candidato à prefeitura e lançou todas as suas fichas em um candidato identitário, Guilherme Boulos, do PSOL. O candidato recebeu a bagatela de R$44 milhões apenas do PT, o que, somado com o valor repassado pelo PSOL, resultou em R$80 milhões em uma campanha que não animou ninguém. Durante a campanha, houve o vexame durante o Hino Nacional Brasileiro, em que a interprete do hino cantou em pronome neutro “des filhes deste solo”, o que gerou uma enxurrada de críticas e levou o candidato psolista a se retratar.

Somente pelo episódio do Hino Nacional já fica claro como o identitarismo é culpado pela derrota da esquerda em 2024. O número de candidatos da direita que se colocaram contrários a essa política e foram eleitos é grande. Inclusive, o candidato a vereador mais bem votado nas eleições deste ano foi Lucas Pavanato, filiado ao PL de Bolsonaro, que prometeu impedir que trans entrem em banheiros femininos.

Sendo assim, a culpa é sim do identitarismo, já que a esquerda abdicou de uma política própria para embarcar em outra que é completamente impopular e que apresenta a repressão à população para qualquer problema. Racismo? Cadeia. “Machismo”? Cadeia. “Homofobia”? Cadeia. Boulos, inclusive, teve como grande promessa de campanha o aumento da GCM em São Paulo, além de prometer mais polícia para combater a violência doméstica e um camburão em cada escola municipal, isso quando os professores e alunos tentam se ver livres da militarização das escolas por parte do governo de Tarcísio.

Aqui, se faz necessário entrar em outra questão do texto: o que, exatamente, é o identitarismo? Pois o autor, ainda na primeira parte de sua coluna, quando ele ainda criticava quem criticava o identitarismo, dizia o seguinte: “Afinal, o que seriam essas pautas identitárias? Aqui, podemos pressupor que seriam toda e qualquer reivindicação ligadas a luta por igualdade racial, ao feminismo e as LGBT´s. Como essas pautas atrapalham a esquerda? Como ajudam a extrema-direita? Por que o classismo foi supostamente abandonado? Os que acusam esse suposto identitarismo como pecado maior não costumam desenvolver respostas a essas perguntas.”.

As chamadas “pautas identitárias” nada têm a ver com a luta das mulheres, dos negros, Se trata de uma ideologia imperialista, desenvolvida em universidades e think tanks norte-americanos com o objetivo de se infiltrar na esquerda, mascarar a crise vivida pelo imperialismo e dar uma face democrática para o imperialismo, que passa a ser visto como “defensor das minorias”. Não é difícil ver a comprovação dessa tese. Na última terça, Donald Trump venceu a candidata principal do imperialismo, Kamala Harris, que tinha como principal propaganda sua “identidade” de mulher negra. Não importa o quanto Kamala Harris tenha armado Israel para cometer o genocídio contra palestinos e agora contra libaneses, não importa quantos negros Kamala tenha jogado nas cadeias dos EUA, não importa seu apoio às tropas nazistas ucranianas, o que importa é o fato de Kamala ser mulher e negra.

A luta das mulheres, muito mais antiga que a ideologia identitária, tem muitas reivindicações concretas, longe da ideia de identidade. As mulheres necessitam, por exemplo, conquistar o direito ao aborto. O direito ao aborto não tem a ver com a identidade das mulheres, que podem ser muitas e muito diferentes umas das outras, mas sim com algo concreto que beneficia todas as mulheres de conjunto, as liberta de obrigações antigas que as colocam em uma situação de inferioridade na sociedade capitalista. Da mesma forma, as mulheres lutam por maiores salários, creches para seus filhos, direitos legais iguais aos dos homens e muitas outras reivindicações concretas.

A mesma coisa vale para os negros. Os negros no Brasil sofrem permanentemente com a repressão policial e o encarceramento em massa, por exemplo. Uma das reivindicações mais antigas do movimento negro é, portanto, o fim da Polícia Militar que oprime toda a população brasileira trabalhadora mas, em especial, oprime a população negra. Não se trata de uma identidade negra, ou da afirmação da negritude, como diz o texto, mas sim de uma conquista real que é necessária para a população negra.

O identitarismo, ao contrário da luta por conquistas reais para a população, foca em uma espécie de reforma moral, na qual seria necessário destruir o pensamento conservador da população por meio da repressão e substituí-lo por uma maneira de pensar mais liberal nos costumes. A extrema direita se aproveita disso, aparecendo como os defensores da liberdade de pensamento, enquanto a esquerda aparece como a opressora das pessoas mais pobres. Ao tentar forçar a população a aceitar que um homem que se diga mulher possa entrar em um banheiro feminino, por exemplo, e, pior do que isso, reprimir quem se coloque contrário, o que se está conseguindo é criar uma inimizade da população mais pobre em relação à esquerda.

Fora isso, os grandes defensores das mulheres, dos LGBT e dos negros, segundo o identitarismo, acabam sendo setores como o STF, que, ao mesmo tempo em que subverte a constituição nacional caçando todos os que falam o que pensam e, por conta disso, acabam ofendendo os identitários, também caça direitos dos trabalhadores, como o mais recente caso, em que o STF permitiu que se contrate servidores públicos pelo regime de CLT, um grande retrocesso na luta dos trabalhadores do funcionalismo público.

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