O imperialismo está em uma espiral de crise da qual não consegue se desvencilhar. Ao travar uma guerra de agressão contra a Rússia, através da Ucrânia, aprofundou a sua crise econômica que vinha desde 2008. O aprofundamento dessa crise deu-se especialmente em razão das sanções falhas contra o gigante do leste europeu: sem o petróleo russo, os países imperialistas da Europa passaram a enfrentar uma crise energética e, consequentemente, econômica, o que colocou a classe operária de volta em ação. Agora, com o bloqueio do Iêmen no Mar Mediterrâneo, a situação tende a se agravar.
Nessa conjuntura, chama atenção a situação na Alemanha, em que um dos principais partidos de esquerda, o Die Linke, rachou, em outubro do ano passado. Este era um dos cinco partidos de esquerda com presença no parlamento alemão. O racha foi liderado por Sarah Wagenknecht, que acabou por levar um terço dos parlamentares do partido para formar um novo, o chamado Bündnis Sahra Wagenknecht – Vernunft und Gerechtigkeit (Aliança Sahra Wagenknecht – Razão e Justiça).
Este novo partido, segundo informações da Deutsche Welle, órgão da imprensa imperialista alemã, possui posições relativamente conservadores em questões de costumes, afastando-se das posições identitárias da esquerda que domina a política alemã. Nesse sentido, a líder do partido critica a esquerda, dizendo que os demais partidos estão focados em “questões de dieta, pronomes e percepções de racismo”. Ademais disto, segundo Wagenknecht, “a esquerda tem que lutar por justiça social, bons salários e aposentadorias decentes, necessitando de uma política externa que seja a favor da detente”. Não bastando as divergências já apontadas com o restante da esquerda alemã, foi relatado que Wagenknecht tem uma posição abertamente contra a Ucrânia. Ela também foi criticada por certo ceticismo em relação à pandemia.
Desta forma, o racha ocorrido no Die Linke, dele surgindo um partido que está cotado para ser o terceiro maior partido da Alemanha nas eleições vindouras, é uma manifestação do avanço da consciência de classe do proletariado alemão diante do aprofundamento da crise do imperialismo e da falência generalizada dos tradicionais partidos da esquerda. Nesse sentido, vale citar o que foi dito por Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), no programa Análise Internacional, que foi ao ar nessa segunda-feira (22), no canal do Diário Causa Operária no YouTube:
“A princípio é um fenômeno político muito importante, em primeiro lugar, pelo volume. Parece um racha significativo de um partido que tem 30% do eleitorado da Alemanha Oriental. Quer dizer que seria alguma coisa assim como de 10 a 15% do eleitorado total alemão. Só isso já coloca esse partido como sendo um partido importante.
Em segundo lugar, a Alemanha é um país central do imperialismo mundial, é um dos mais importantes – eu diria até o segundo mais importante depois dos Estados Unidos. Do ponto de vista das condições políticas, essa ruptura é o resultado da crise europeia que foi acentuada com a guerra na Ucrânia. Tanto que esse partido se coloca contra a OTAN.
O Die Linke, por sua vez, é conhecido como um partido bastante direitista, no sentido de ser alinhado com o imperialismo. Ele não é um partido radical de esquerda, é um partido muito identitário: enquanto o mundo está desabando, o pessoal fica falando de coisas totalmente sem sentido, tais como pronomes etc. A situação social na Alemanha é muito grave, a situação econômica, também. Então, do ponto de vista das condições gerais, é mais um resultado da crise do imperialismo internacional.
Do ponto de vista concreto, nós vamos ter que esperar para ver como é que esse partido se desenvolve […] As pessoas dizem que ele é conservador nos costumes, mas isso é uma coisa vaga, precisaria ser visto de uma maneira mais concreta.
Agora, a preocupação com as questões sociais mostra uma evolução no interior da própria classe operária alemã. A questão dos costumes é secundária e, até certo ponto, ela é irrelevante, porque ninguém vai mudar os costumes de ninguém. Isso só tem servido para aprofundar a repressão sobre os trabalhadores e para desviar a esquerda da luta de classes.”
Em suma, a crise econômica e social na Alemanha, que já se manifestou no seio das forças políticas da burguesia, com trocas de ministros, por exemplo, agora se manifesta no seio da própria esquerda, com sinais de falência da esquerda pró-imperialista (embora seja necessário aguardar o desenvolvimento da situação). Contudo, a situação de crise no Velho Mundo não se limita ao país germânico, mas se estende à Inglaterra.
A candidatura a prefeito de Londres por ninguém menos que Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista, está sendo considerada. É um sinal de crise, pois há alguns anos, Corbyn, outrora bem cotado a primeiro-ministro, foi perseguido e removido da posição por acusações de antissemitismo – na realidade, a acusação era por sua defesa da Palestina contra o sionismo. Uma manifestação tanto de sua popularidade perante a classe trabalhadora britânica, quanto da crise de “Israel” e do imperialismo perante os trabalhadores.
Deve-se ressaltar que Corbyn irá à África do Sul como parte de uma delegação para denunciar “Israel” por genocídio. No mesmo programa citado acima, o presidente do PCO também comentou a política equivocada e catastrófica de Corbyn no período anterior, apontando, porém, que a força dos acontecimentos fez ele adotar uma posição diferente:
“Isso é interessante porque, se existe uma esquerda mundial que cometeu um erro catastrófico, foi Corbyn. Eles fizeram tudo errado. Levaram uma política na Inglaterra parecida com a política que o Lula leva no Brasil: criaram uma base para governar e caíram numa armadilha total e completa. Perderam a liderança do partido trabalhista, perderam a eleição de uma maneira muito ruim, perderam o controle do partido trabalhista, o qual tem sido expurgado desde a derrota de Corbyn de uma maneira muito intensa. E, de repente, vemos a volta de Corbyn.
Com esse desastre que ele provocou, sua volta é muito sintomática, pois, depois de tantos erros e tantas derrotas, a força dos acontecimentos é tão grande que ele está de volta. Até porque não há uma alternativa muito visível a Corbyn. Então isso, antes de mais nada, mostra o caráter bastante polarizado, radicalizado, em certa medida revolucionário, da situação no Reino Unido.
Eu acho que a melhor política para Corbyn seria propor a criação de um outro partido trabalhista. Eu, por exemplo, se fosse ele, lançaria a proposta de construir um partido trabalhista socialista claramente de esquerda, claramente anti-imperialista. Se ele fizesse isto, seria um grande passo adiante na Inglaterra do ponto de vista da organização do movimento operário britânico.”
Ou seja, tanto a situação na Inglaterra, com a possível candidatura de Corbyn à prefeitura de Londres, quando a situação na Alemanha, com o racha no Die Linke, são sintomas da crise na Europa e o fortalecimento da classe operária no continente e, de maneira geral, em todo o mundo.





