O sionismo começou a dominar a Palestina a partir do fim da Primeira Guerra Mundial. Cerca de 20 anos depois, em 1936, aconteceu a primeira revolução na Palestina, conhecida como Revolta de 1936. Nesse momento, a Palestina era uma colônia dos ingleses e, portanto, o imperialismo iniciou uma gigantesca campanha de propaganda. Ela ainda não era tão poderosa quanto viria ser com o Estado de “Israel”, mas já estava se consolidando. A esquerda da época lutou contra as mentiras, assim como faz o movimento de defesa da Palestina atualmente.
O jornal de esquerda ingles Labour Monthly publicou um artigo no início da revolução intitulado Os Eventos na Palestina. Ele começa: “na maioria dos relatos dos distúrbios na Palestina que li na imprensa inglesa, mesmo nas seções da imprensa que normalmente não defendem descaradamente interesses imperiais, o quadro traçado tem sido o de arruaceiros e bandidos árabes, contratados com ouro italiano (ou alemão, ou russo, conforme o ponto de vista político particular), incitados por políticos árabes interessados (‘efêndis’), atacando as vidas e propriedades de judeus pacíficos, cujo único objetivo é desenvolver o país economicamente em benefício dos árabes, enquanto o Governo Britânico, ansioso apenas para fazer o que é decente tanto para árabes quanto para judeus, tenta com uma mão gentil (muito gentil, pensa o amigo das raças oprimidas, o Times) restaurar a ordem”.
É muito semelhante à propaganda que o imperialismo manteve sobre o Estado de “Israel” até a operação Dilúvio de Al-Aqsa, lançada pelo Hamas em outubro. E segue: “este quadro, se fosse verdadeiro, seria incompreensível; o que é uma boa razão a priori para acreditar que o quadro é falso. As três principais falsidades que parecem se repetir em quase todos os relatos desses distúrbios são: (i) que os distúrbios não têm justificação política; (ii) que são resultados de instigação; (iii) que o Governo usa métodos gentis para reprimi-los”. Naquela época, sem a Internet, era muito mais difícil de compreender a realidade sem acesso às informações dos palestinos.
O autor então descreve a realidade dos palestinos naquele sob o domínio do imperialismo: “artigos sobre os distúrbios na Palestina sempre deixam de lado completamente seu pano de fundo político; os distúrbios são representados como ocorrendo em um vácuo político. Qual é o contexto real deles? Os árabes da Palestina, que foram induzidos a desertar dos turcos para os britânicos durante a última guerra com promessas de liberdade, têm sofrido uma autocracia britânica pura nos últimos dezoito anos. Todo o poder legislativo e executivo na Palestina está concentrado nas mãos de um Alto Comissário Britânico que executa as instruções do Gabinete Britânico. Este último é nominalmente responsável perante a Comissão Permanente de Mandatos da Liga das Nações, que exerce uma supervisão em grande parte fictícia sobre a administração do Mandato Palestino. Como outros territórios sob mandato, a Palestina é, para todos os efeitos práticos (exceto do ponto de vista tarifário), uma colônia da Coroa. Não há vestígio de autogoverno, menos ainda do que nas colônias africanas mais atrasadas”.
A comparação com a África deixa o quadro muito compreensível. Os palestinos eram mais oprimidos do que as nações mais atrasadas conquistas pelos britânicos. E no caso da Palestina, além do domínio direto dos ingleses, havia a opressão do sionismo, um braço do imperialismo, mas com uma atuação peculiar naquele território. Os sionistas já migravam em massa à Palestina e roubavam as terras dos palestinos. Eles foram cruciais também para esmagar a revolução.
Dessa opressão, surgem as reivindicações dos palestinos: “então, o que os árabes têm é autocracia britânica e a perspectiva de sua continuidade por um tempo indefinido. O que eles querem? Principalmente eles querem o que qualquer vítima do imperialismo quer – se livrar do controle imperialista e de uma política direcionada para os interesses imperialistas. Mas esse desejo se complicou pelo fato do sionismo, que, embora na realidade seja um movimento colonizador britânico, tende a ser visto pelos árabes como um ato de agressão separado, separável da política britânica em geral, pelo qual os judeus e não os britânicos são responsáveis. Em vez de verem o sionismo e a política britânica como um único inimigo, os árabes tendem a considerar o sionismo como seu primeiro inimigo e a política britânica como seu segundo; sua resistência a ambos se torna mais ineficaz como consequência. Alguns árabes simplórios até pensam, ou costumavam pensar antes desses distúrbios, que o domínio britânico na Palestina seria inobjetável se pudesse ser purgado do sionismo. Até o presente momento, a luta contra o sionismo dominou e obscureceu a luta contra o domínio britânico”.
E continua: “os graus de importância que os árabes atribuem a esses dois aspectos da mesma luta são manifestos nas três demandas para a satisfação das quais a greve atual está sendo realizada. Elas são:
(i) a interrupção imediata da imigração judaica;
(ii) a introdução de legislação para impedir novas vendas de terras por árabes para judeus;
(iii) o estabelecimento de um governo nacional responsável”.
Esse aspecto é interessante. O movimento começa como uma luta pelas reivindicações imediatas da população palestina. A principal opressão que leva ao levante é a dos sionistas que imigram em massa roubando as terras e os empregos dos palestinos. Esse movimento, no entanto, se desenvolveria politicamente conforme os ingleses ampliassem sua participação na repressão. Quando dezenas de milhares de tropas foram mandadas pelos britânicos à Palestina, ficou claro que eles eram os seus maiores inimigos.
O Labour Monthly segue com o desenvolvimento da luta revolucionária nos seus primeiros meses. Nas próximas partes deste artigo, será explicado também o desenvolvimento desta que foi a grande luta revolucionária que estabeleceu a Palestina como uma nação.