Liberdade de expressão

A censura vem da direita, não da esquerda

"Setores da esquerda nacional que apoiam a censura em algum nível prestam um enorme desserviço à humanidade"

Em artigo intitulado A esquerda autoriza o ‘ódio do bem’, enquanto se queixa do ódio dos maus, um cidadão chamado Wilson Gomes, que se apresenta como professor titular da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor de Crônica de uma Tragédia Anunciada, apresenta a tese de que “a esquerda” teria uma posição contraditória no que diz respeito ao “discurso de ódio”. Segundo o texto, publicado na Folha de S.Paulo, “a esquerda” seria contra o “discurso de ódio” proferido por seus adversários políticos, ao mesmo tempo em que destila seu ódio contra os mesmos adversários.

A posição do autor poderia até ser derivada de uma confusão honesta. De fato, há vários setores que se apresentam como representantes da esquerda brasileira que defendem uma política de censura para os seus adversários. É o caso, por exemplo, da deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), que, incomodada com a fala do apresentador Bruno Aiub “Monark”, afirmou, em seu perfil no X (antigo Twitter):

“É criminoso que um youtuber defenda abertamente a existência de um partido nazista e anti-judeu. A liberdade de expressão não pode ser usada em defesa do autoritarismo. Isso significa apoiar o genocídio de raças e não cabe numa democracia. Algo precisa ser feito, urgentemente!” [grifo nosso].

A declaração de Petrone não deixa margem para dúvidas. No que depender da deputada, Monark deveria ter o seu direito à expressão ceifado pelo simples fato de defender um programa diferente do seu. Embora não fosse fato que Monark tivesse defendido a existência de um partido nazista – ele somente defendeu o direito hipotético de um nazista criar um partido com essas características -, para a deputada, Monark deveria ter seu “ódio” freado pelo Estado.

O problema é que a declaração de Petrone não prova que a esquerda apoia a censura, mas apenas que Petrone aprova a censura! A deputada, cuja trajetória política mal se conhece e que é diretamente ligada a suspeitas Organizações Não Governamentais (ONGs) que recebem financiamento estrangeiro, não é parâmetro para que alguém defina o que a esquerda efetivamente defende. A revolucionária Rosa Luxemburgo, referência incontestável da esquerda mundial, declarou, em seu livro A Igreja e o Socialismo, que: “os social-democratas no nosso próprio país, assim como no mundo, defendem o princípio de que a consciência e as opiniões das pessoas são coisas sagradas e intocáveis”.

O segundo problema neste debate é que não há como alegar que Wilson Gomes seja uma pessoa bem intencionada, que pecou apenas por sua ignorância sobre o que a esquerda realmente defende no que diz respeito aos direitos democráticos da população. O autor se vale da confusão difundida por identitários e ongueiros como Talíria Petrone para atacar de maneira desonesta a esquerda.

Segundo o professor baiano, os identitários defenderem a censura seria um problema de manipulação ideológica, uma tentativa de enganar as massas através da demonstração de uma “moral superior”. Diz ele: “ao longo dos anos, as esquerdas penaram, em regimes democráticos ou autoritários, justamente por não ter os meios para prevalecer nas disputas. Por isso, sempre insistiram em outra forma de superioridade, relacionada a um sistema de valores morais, a começar pelo valor da igualdade entre todas as pessoas”.

Nada disso. Em primeiro lugar, ao colocar as coisas desta maneira, Wilson Gomes ignora por completo quem é o mentor dessa política de censura. Não é a esquerda que criou, nem mesmo foram os identitários que criaram: trata-se de uma infiltração imperialista e direitista na esquerda. A política da “censura do bem” é impulsionada pela Rede Globo e por outros veículos que representam os interesses do grande capital. A “censura do bem” é levada adiante por instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF), que, muito longe de ser “de esquerda”, fez parte da conspiração que derrubou o governo de Dilma Rousseff em 2016.

Em segundo lugar, faz-se necessário distinguir qual é a política da esquerda no governo para a “esquerda” que estaria fora do governo. No caso de Talíria Petrone, por exemplo, seu objetivo não era o de perseguir elementos hostis a um regime de esquerda, mas, na verdade, perseguir um adversário com fins puramente eleitorais.

É preciso considerar, portanto, que, quando se fala em verdadeiros regimes em que a esquerda tenha uma participação decisiva – como é o caso da Venezuela e de Cuba, e não o caso do Brasil, onde a esquerda, no máximo, controlaria o Poder Executivo -, a ação do imperialismo para desestabilizá-lo é tamanha que gera não apenas conflitos sociais mais duros, mas também é a grande responsável pelas dificuldades econômicas.

Wilson Gomes não expõe a sua posição – isto é, se defende ou não a liberdade de expressão. O fato é, no entanto, que não há maior inimigo da liberdade de expressão que a burguesia imperialista. É ela, afinal, que comete as maiores atrocidades contra a humanidade e é, portanto, quem mais tem interesse em esconder a verdade. O que temos visto no caso de “Israel” e da censura a Breno Altman é bastante revelador neste sentido. E é também o imperialismo a única força social capaz de impor uma verdadeira censura, pois é quem controla juízes, promotores, empresas, exércitos – enfim, todo o aparato capaz de esmagar os direitos de um indivíduo.

Setores da esquerda nacional que apoiam a censura em algum nível prestam um enorme desserviço à humanidade. No entanto, é preciso deixar claro de onde vem essa política.

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