A campanha que um setor da esquerda brasileira vem fazendo em torno da candidatura do Partido Democrata pegou mal. Muito mal. Afinal, campanha para o Partido Democrata hoje é a mesma coisa que fazer campanha pelo assassinato de mulheres e crianças palestinas. Algo insustentável para quem não se considere um discípulo de Adolf Hitler.
Restou, então, aos que querem defender a candidatura democrata a todo custo fazer o que o sionismo faz de melhor: mentir. É o que faz o jornalista Janio de Freitas, articulista do Poder360. Em artigo intitulado A diferença de Kamala, Freitas procura apresentar a tese de que a atual vice-presidente dos Estados Unidos seria algo “diferente” quando comparado ao também democrata Joe Biden e ao republicano Donald Trump.
Logo no início do texto, o jornalista tem a cara de pau de insinuar que Kamala Harris teria uma posição contrária ao genocídio na Faixa de Gaza, ao dizer que:
“O Congresso dos Estados Unidos, que autoriza a parte norte-americana desse gasto, concedeu ao condutor do massacre palestino a honra de recebê-lo em sessão solene e ouvi-lo em discurso sobre a devastação de Gaza. (…) Donald Trump diz falsidades dignas de Benjamin Netanyahu e Netanyahu falseia com a desfaçatez de Trump. Para um e para outro, o mesmo aplauso exuberante da maioria de congressistas. (…) A recusa de Kamala Harris a presidir, por atribuição da Vice-Presidência, a sessão de Netanyahu foi já um ato indissociável da candidata. Quisesse só evitar formalidades equivocantes ou antecipar, para o público, uma distância política que atinge também o governo Biden, já seria uma brava atitude, com projeções arriscadas na influente comunidade judaica.”
Ora, mas quem é o maior financiador e apoiador do “massacre palestino” se não o governo norte-americano? Biden esteve por trás de todos os vetos a uma resolução de cessar-fogo nos organismos internacionais, disseminou as mais escabrosas mentiras sobre a resistência palestina e mandou a polícia reprimir as manifestações pró-Palestina nas universidades. Ele é o principal responsável pelo que acontece hoje na Faixa de Gaza. Muito mais responsável que o próprio Benjamin Netaniahu. Afinal, basta que os Estados Unidos cessem a ajuda militar a “Israel” que o Estado artificial entra em colapso.
E quem é Kamala Harris se não uma extensão do próprio governo Biden? Em que momento a vice-presidente protestou contra a política levada adiante por seu colega? Simples: em nem um único momento. Nem mesmo para fazer demagogia. Nem mesmo para dizer que, como imigrante, lamentava o massacre que o povo palestino vive. Nem uma única palavra.
Há mais. Kamala Harris pode ter se recusado a presidir a seção no Congresso que recebeu o primeiro-ministro israelense. No entanto, não se importou em se reunir com o mesmo Netaniahu dias depois. O sentido de sua ação é claro: Harris não pode deixar de mostrar o seu apoio ao sionismo, uma vez que parte decisiva de seus financiadores vem do lobby sionista. A democrata apenas evitou presidir a seção porque iria se desgastar ainda mais com um setor do Partido Democrata que, naquele mesmo momento, protestava de fora do Congresso.
Ser “diferente” seria dizer que o que acontece na Faixa de Gaza é uma monstruosidade. Seria se recusar a se encontrar com o homem responsável pela morte de quase 200 mil pessoas e denunciá-lo por crimes contra a humanidade. Seria propor o rompimento de qualquer relação com o Estado que mantém mais de 12 mil palestinos presos. Mas Harris não faz nada disso.
Em um segundo momento, Freitas então procura diferenciar Harris de Biden:
“Com sua contribuição decisiva para os horrores israelenses em Gaza e para o continuado sacrifício da Ucrânia por Putin, associada à guerra fria com a China, Biden nada fez pelo mundo que nos justificasse sua reeleição. Fazê-lo é o que se espera da necessária vitória de Kamala Harris sobre Trump. (…) Mas, se eleita, [Harris] levará para o eixo do mundo uma mentalidade geneticamente contrastante com a dos políticos norte-americanos. E originada de duas formações étnicas enriquecidas pela calma, a reflexão, um profundo sentido de humanidade. O quanto Kamala Harris tem dessa carga bendita, pode ser que os norte-americanos nos deixem saber, mais adiante.”
O que fez Biden levar o mundo para guerras extremamente destrutivas não foi algo pessoal, mas sim uma política consolidada em seu partido. O Partido Democrata é, já há muito tempo, o partido da guerra, da indústria bélica. É o partido do colonialismo, do neoliberalismo, dos golpes de Estado. Isto é, o partido que coordena as ações mais agressivas e contrarrevolucionárias do imperialismo. Biden é, neste sentido, apenas um funcionário de confiança de uma máquina muito, muito nefasta.
Mas o que Harris tem de diferente disso? Nada. Além de ter acompanhado Biden em todos os seus crimes, Harris é simplesmente uma burocrata, uma pessoa do próprio regime político. Uma pessoa que fez carreira ao trabalhar diretamente para que o regime político funcionasse. Harris foi promotora, sendo responsável pelo encarceramento de milhares de almas. Muitas delas, negras e latinas. E Harris, como é público, só ascendeu na política porque recebeu a bênção de ninguém menos que… o sionismo.
Em 2017, Harris se aliou ao republicano de extrema direita Marco Rúbio em oposição à Resolução 2.334 do Conselho de Segurança da ONU, que afirma que a atividade de assentamento de “Israel” constitui uma “violação flagrante” da lei internacional e “não tem validade legal”. No mesmo ano, e em 2018 e 2019, Harris participou, como palestrante, em convenções do maior lobby sionista do mundo, a AIPAC.
Harris não tem nada de diferente. Pelo contrário: aqueles que dizem isso estão apenas procurando uma forma de fazer com que o mesmo imperialismo genocida vença mais uma eleição. A candidatura de Harris é a candidatura do assassinato de crianças. Não merece a simpatia de nenhum oprimido no planeta.