Nos últimos anos, os órgãos de imprensa que atuam como porta-vozes do imperialismo, levando a reboque um setor da esquerda, buscaram intensificar ainda mais a perseguição que promovem contra os jogadores brasileiros de futebol, numa evidente campanha contra a maior expressão da cultura popular nacional. Essa política tem sido defendida de maneira exacerbada pela esquerda pequeno-burguesa, como ficou evidente frente às acusações de estupro contra Robinho e Daniel Alves.
A classe de origem desses jogadores explica a posição da burguesia e revela sua ideologia, por um lado. Por outro, também revela a influência da ideologia identitária nos espaços pequeno-burgueses e expressa o deslocamento da esquerda brasileira em direção a posições direitistas.
No capitalismo, em virtude do desenvolvimento histórico da sociedade, principalmente da escravidão, a população negra constitui o setor social mais pobre e mais oprimido. Sobre essas pessoas impactam mais fortemente as contradições deste regime social: o desemprego, a miséria e a fome, a falta de moradia, a questão da terra, os problemas de saneamento básico, de transporte, da saúde e da educação públicas etc. A condição material deste setor é o que faz ele ser o mais explorado e o mais oprimido pela classe dominante, que o empurra para a selvageria na luta pela sobrevivência (a criminalidade, a “indigência”, etc.). Daí a necessidade da repressão como forma de controle da ordem social e do preconceito de classe (a ideia de inferioridade).
O fato de uma ínfima parcela lograr a superação das precárias condições de vida impostas pelo sistema capitalista, como é o caso desses grandes jogadores que conquistaram muito dinheiro e fama através do futebol, não significa alteração alguma no sentimento da classe dominante para com os negros bem-sucedidos. Os grandes craques e os jogadores em geral são oriundos das favelas, filhos de trabalhadores, parte da população oprimida deste país.
A burguesia passa apenas a tolerá-los em função do lucro gerado a partir da enorme indústria que envolve o futebol e do apoio que essas estrelas do futebol adquirem das massas populares. Prova disso é a maneira com que foram tratados pela justiça europeia, Daniel Alves foi preso antes mesmo de ser julgado na Espanha e Robinho foi condenado em um processo claramente cheio de contradições. Foram tratados como qualquer outro preto é tratado aqui no Brasil, sem garantias e direito à ampla defesa. A grande quantidade de dinheiro que conquistaram não garantiu a esses jogadores os mesmos direitos que os grandes possuem de estuprar, praticar pedofilia, entre outras barbaridades.
Não foi diferente para o Rei Pelé que, em virtude da popularidade que resultou de sua genialidade insuperável nos gramados, obrigou autoridades do mundo inteiro a se curvar perante a ele. Ainda assim, Edson Arantes do Nascimento foi vítima de campanhas de calúnia e difamação, tanto da imprensa quanto da esquerda pequeno-burguesa, numa clara tentativa de diminuir seus feitos pelos negros, pelo Brasil e pelo futebol.
Neymar, melhor jogador de futebol do planeta na atualidade, é vítima talvez da maior campanha de perseguição da história do futebol. O craque chegou a ser acusado falsamente de agredir uma mulher, a imprensa não tardou em promover um linchamento público de imagem. A maior estrela do futebol teve ameaçado de não ir para a última Copa do Mundo em virtude de um processo de sonegação fiscal na Justiça da Espanha, no qual o jogador sequer deveria ser citado. Não houve um momento em toda sua carreira até o momento, onde o ídolo brasileiro e do mundo foi poupado.
O tratamento que Vinícius Jr. recebe na Espanha expressa muito bem como os jogadores brasileiros e certamente os africanos são vistos pela sociedade europeia. Além do preconceito em decorrência da cor da pele, são tratados como qualquer imigrante de país de economia atrasada que adentra no país deles, o fato de serem grandes artistas da bola não inibe essa pecha.
A esquerda pequeno-burguesa brasileira resolveu abandonar princípios históricos defendidos pelo movimento operário para adotar teses do identitarismo, uma ideologia impulsionada nas universidades norte-americanas e difundida nos meios acadêmicos no Brasil, passando a defender a censura, a supressão dos direitos democráticos e a repressão estatal como política.
Essa esquerda resolveu fazer coro com os meios de comunicação burgueses no combate a “cultura do estupro”, que seriam atitudes e crenças que perpetuam a violência sexual na sociedade, que justificaria a repressão estatal. Apesar da política identitária ser utilizada para fazer demagogia com a questão dos negros, defenderam ferozmente a prisão de Robinho e Daniel Alves, atacam a memória de Pelé e são inimigos declarados de Neymar.
Esses setores, em virtude de sua condição social média, defendem a repressão estatal em função de seus pequenos privilégios. Não lutam pelo fim das polícias, dos presídios e do sistema penal. Finalmente, defendem que as medidas aplicadas contra os jogadores brasileiros se estendam para toda sociedade, não importa contra quem vai recair essa medida. Não importa se existe uma crise carcerária no país, onde 830 mil pessoas estejam vivendo em verdadeiros infernos, o importante é acabar com “todo mal”.