Desde o ano de 2020, “Israel” tornou pública a sua política de firmar os “Acordos de Abraão”, tratados de normalização de relações diplomáticas assinados entre a ocupação sionista e os países árabes, com mediação dos Estados Unidos. Os acordos tinham como objetivo estabelecer laços econômicos, diplomáticos e de segurança, além de reforçar a influência norte-americana no Oriente Médio.
Até agora, os acordos foram firmados com os Emirados Árabes Unidos, marcando o primeiro passo e incluindo cooperação econômica, segurança e turismo; com o Barém, em termos semelhantes, focando em comércio e tecnologia; com o Sudão, em troca da remoção do país da lista de patrocinadores do terrorismo dos EUA; e com o Marrocos, que teve como contrapartida o reconhecimento norte-americano da soberania marroquina sobre o Saara Ocidental.
Quando os Acordos de Abraão se tornaram de conhecimento público, a Autoridade Palestina fez um espetáculo temporário, fingindo se opor à normalização das relações dos países árabes com “Israel”. Afinal, o próprio Iasser Arafat não normalizou as relações com o estado de ocupação? Mahmoud Abbas não foi uma figura-chave nas negociações de Oslo, que levaram a esse resultado? Não tardou para que a AP abandonasse sua hipocrisia e saísse em busca de qualquer concessão escassa que pudesse obter dos acordos de “Abraão”.
Segundo o órgão independente norte-americano Axios, a AP estava buscando alavancagem caso seja alcançado um acordo para a normalização das relações entre “Israel” e Arábia Saudita. Fontes norte-americanas e israelenses que falaram à Axios afirmaram que a entidade palestina estaria exigindo uma mudança de status em partes da Área C na Cisjordânia ocupada; a reabertura do consulado dos EUA para palestinos em Jerusalém; ser admitido na ONU como um estado-membro pleno e uma retomada das negociações com “Israel” em um prazo estipulado. A AP também estava solicitando apoio financeiro da Arábia Saudita.
Embora “Israel” e a Arábia Saudita pudessem avançar em sua política externa, o constante rastejamento da AP não está fazendo incursões com o povo da Palestina ocupada. O que a entidade poderia ver como pragmatismo político é, na realidade, traição pelo povo palestino.
Se as concessões que a AP estava buscando tivessem de ser resumidas, é óbvio que a entidade está desesperada para se manter à tona. Qualquer aparência de controle, não importa o quão condicionado seja, permite que o presidente Abbas mantenha o poder, adie as eleições democráticas indefinidamente e colabore ainda mais com “Israel” para reprimir a Resistência Palestina, que acabará se tornando uma força a ser reconhecida.
O envolvimento da Autoridade em termos dos Acordos de Abraão seria feito a partir de uma posição tão fraca que falar sobre benefícios apenas destaca a precária posição política de Ramalá. Os países árabes há muito se venderam à libertação palestina e à resistência anticolonial, preferindo consolidar seus laços com “Israel”.
Quaisquer concessões que a AP obtenha dos países árabes seguirão a mesma trajetória de outras nações ou instituições internacionais cuja prioridade são as relações comerciais e econômicas com “Israel”. Escolher se envolver, portanto, não traz nenhum benefício significativo para os palestinos.
O que a Autoridade fizer para fundamentar sua posição e seu papel nos círculos diplomáticos, promovendo o compromisso de dois Estados e tomando medidas ilusórias na ONU em termos de resoluções não vinculativas, não gerará nenhuma mudança política para os palestinos, além de uma maior subjugação a “Israel” e à comunidade internacional. A interrupção dos acordos de Abraão, seja com a Autoridade Palestina, seja com outros países árabes, foi mais um dos grandes feitos da Operação Dilúvio de Al-Aqsa.