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Izadora Dias

Izadora Dias é militante do Partido da Causa Operária em São Paulo, coordenadora do coletivo de mulheres Rosa Luxemburgo e integrante da secretaria de organização do PCO. É militante anti-imperialista e anti-identitária. É estudante da USP e, além de colunista do Diário Causa Operária, participa do programa matinal da Causa Operária TV, o Reunião de Pauta, às sextas-feiras.

Coluna

A autodefesa dos Panteras Negras

O Partido dos Panteras Negras mostraram a importância do armamento para a autodefesa dos oprimidos contra a tirania do regime capitalista

Quase todo mundo conhece ou já ouviu falar dos Panteras Negras. Alguns lembram em primeiro lugar dos seus cabelos “black power”, dos seus punhos cerrados para cima e das suas jaquetas de couro, mas algo fica ocultado em relação a esse grupo que não se tratava de um movimento de moda, ou simplesmente um grupo contra o racismo. Tratou-se de uma organização política revolucionária, um partido com um programa político, imprensa e organização em defesa a reivindicações para a população negra norte-americana.

Diante da ofensiva dos ataques da direita, como o grupo supremacista Ku Klux Klan e do próprio Estado contra as comunidades de negros nos EUA, o Partido dos Panteras Negras surge diretamente da necessidade de se defenderem destas ofensivas. Em inglês, Black Panthers for self-defense, traduzindo ao pé da letra, Panteras Negras para autodefesa confirma essa intenção. Fundado por Bobby Seale e Huey Newton em outubro de 1966, atuaram entre os anos de 1969 a 1972, se expandiram para centenas de cidade e diminuíram consideravelmente a violência policial nas comunidades negras.

Claro que o grupo enfrentou uma grande resistência, o governo norte-americano até tentou mudar a lei de armamento para impedir o desenvolvimento da organização de autodefesa da população negra, além da FBI ter atuado fortemente para perseguir e criminalizar os Panteras Negras.

Um acontecimento marcante foi quando os membros do Partido invadiram, em protesto, a Assembleia Legislativa da Califórnia contra a Lei de Armas de Mulford, uma lei de desarmamento, que tinha como objetivo desarmar os Panteras Negras. Essa ação mostra como a direita faz demagogia com o armamento, pois quando se trata do armamento das organizações populares, a direita é totalmente contra e age para impedir que esses setores se armem e possam se defender. O interesse direitista sobre o armamento só serve para armar grupos da direita que possam agir mais fortemente contra os oprimidos.

Esse ato, não à toa, causou um grande alvoroço, os Panteras entraram armados na assembleia em defesa do seu direito ao armamento e para esse acontecimento, Huey Newton escreveu uma importante carta do porquê os oprimidos deveriam se armar e se defenderem da ofensiva imperialista do governo dos EUA por todo o mundo.

Abaixo a carta de Huey Newton escrita em resposta à Lei de Armar de Mulford:

“O Partido Pantera Negra para a Autodefesa chama o povo americano, em geral, e o povo negro em particular a estarem atentos e cuidadosos à Legislatura racista da Califórnia, que agora está pensando em uma legislação com o objetivo de manter o povo negro desarmado e sem poder ao mesmo tempo em que as agências de polícia racistas por todo o país estão intensificando o terror, a brutalidade, o assassinato e a repressão do povo negro.

Ao mesmo tempo que o governo americano está travando uma guerra racista de genocídio contra o Vietnã, os campos de concentração em que japoneses americanos foram internados durante a Segunda Guerra Mundial estão sendo renovados e expandidos. Uma vez que a América reservou historicamente o tratamento mais bárbaro para as pessoas não-brancas, somos forçados a concluir que esses campos de concentração estão sendo preparados para as pessoas negras, que estão determinadas a conquistar sua liberdade por quaisquer meios necessários. A escravidão das pessoas negras desde o início desse país, o genocídio praticado contra os índios americanos e o confinamento dos sobreviventes em reservas, o linchamento selvagem de milhares de mulheres e homens negros, o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, e agora o massacre covarde no Vietnã, todos testemunham o fato de que a estrutura de poder racista da América só tem uma política para as pessoas de cor: repressão, genocídio, terror e o grande porrete [big stick].

As pessoas negras imploraram, rezaram, peticionaram, se manifestaram e tudo o mais para que a estrutura de poder racista da América corrigisse os erros que historicamente fora feitos contra o povo negro. Todos esses esforços foram respondidos por mais repressão, enganações e hipocrisia. Enquanto a agressão dos governos racistas da América aumenta no Vietnã, os agentes de polícia da América aumentam a repressão às pessoas negras por todos os guetos da América. Cães policiais raivosos, bastões elétricos e patrulhas aumentadas se tornaram imagens comuns nas comunidades negras. A prefeitura oferece um ouvido surdo para os apelos do povo negro para que esse terror crescente seja aliviado.

O Partido Pantera Negra para a Autodefesa acredita que chegou o momento para o povo negro se armar contra esse terror antes que seja tarde demais. A atual Lei Mulford deixa a hora da catástrofe um passo mais próxima. Um povo que sofreu tanto, por tanto tempo, nas mãos de uma sociedade racista, deve traçar a linha em algum lugar. Acreditamos que as comunidades negras da América devem se levantar como uma única pessoa para deter a progressão de uma tendência que leva inevitavelmente à sua destruição total.”

– O Pantera Negra, 2 de julho de 1967

Baseando-se no Leninismo, a declaração de Huey Newton confirmou a importância do armamento para a autodefesa dos povos oprimidos contra a tirania do regime capitalista, apesar de parecer uma reivindicação revolucionária, trata-se de uma reivindicação democrática, um direito que naturalmente deveria ser garantido para a classe trabalhadora se não representasse um verdadeiro perigo contra toda burguesia.

Este é o legado dos Panteras Negras que deve ser lembrado e seguido pela esquerda – principalmente pelo movimento negro – diante do acirramento da luta de classe, consequentemente da ofensiva da direita contra a população pobre e negra.

Artigo publicado, originalmente, em 10 de maio de 2021.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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