O presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, fez ontem (14) a primeira Análise Política da Semana desde sua visita à China, onde participou do Fórum de Cooperação de Mídia do Cinturão e Rota de 2024, a convite do Diário do Povo, órgão do Partido Comunista Chinês. Pimenta destacou a importância da viagem para compreender as dinâmicas políticas e econômicas que moldam não apenas a China, mas também o cenário global.
A experiência, destacou o dirigente, foi enriquecedora, permitindo uma comparação direta entre o desenvolvimento chinês e a realidade brasileira. Para o presidente do PCO, o dinamismo chinês mostrou a necessidade de uma reflexão profunda sobre as políticas que têm sido adotadas no Brasil, especialmente em relação ao papel das grandes empresas estatais e a influência do imperialismo.
Ele enfatizou que a China, com sua economia dinâmica e voltada para o bem-estar do povo, representa um modelo que o Brasil poderia seguir, se não fosse por forças que minam seu potencial. Pimenta analisou que a visita ao país asiático revelou uma realidade impressionante:
“A economia chinesa é um exemplo do que o Brasil poderia ser, mas não consegue devido ao vampirismo econômico e político do imperialismo.”
Ele destacou que a cultura chinesa, com mais de 4 mil anos de história, é a mais antiga do mundo em continuidade, e que os avanços do país são resultado de uma política de desenvolvimento que prioriza o interesse nacional. O dirigente marxista criticou a entrega de empresas estatais brasileiras a especuladores, como a Eletrobrás e a Petrobrás, afirmando que esse processo tem gerado lucros para quem nunca contribuiu para a construção dessas instituições. “O Brasil está murcho, como uma vítima de um vampiro, enquanto a China avança”, disse Pimenta.
Hamas
Sobre a situação em Gaza, Pimenta analisou a recente escalada de violência e destacou que as mortes ocorridas no dia 7 de outubro foram em grande parte provocadas por ataques aéreos israelenses. A questão foi discutida à luz de reportagens publicadas pela imprensa israelense e destacadas pelo presidente do PCO.
“Vários jornais informaram que as mortes do dia 7 de Outubro foram provocadas principalmente pelos helicópteros israelenses, que simplesmente descarregaram toda a munição que tinham em tudo o que viam. Segundo os documentos, alguns helicópteros voltavam para pegar mais munição e o local onde mais mataram gente foi na famosa festa rave.”
Ele defendeu que a resistência palestina não deve ser rotulada como terrorismo, mas sim compreendida como uma reação legítima a décadas de opressão. “Quando um povo reage após cem anos de massacre, não é terrorista, é um povo lutando por sua dignidade”, disse Pimenta. O dirigente criticou a postura do governo Lula, que aderiu a uma propaganda cínica em relação ao conflito, ignorando a realidade da luta palestina.
Eleições
Pimenta também abordou o cenário eleitoral brasileiro, critcando demora do TSE em liberar o fundo eleitoral a que o PCO tem direito. “Essa é uma ação deliberada para impedir o PCO de receber seus recursos”, analisou o dirigente.
“O prejuízo que estamos sofrendo é evidente e qualquer jurista explicará que a rapidez em resolver os problemas (por sinal, todos artificiais) para o caminho do nosso recebimento do fundo eleitoral é uma questão chave. Não adianta prestar socorro médico após a pessoa ter morrido e da mesma forma, não adianta liberar os recursos para as eleições quando as eleições já terminaram.”
Ele ressaltou que a rapidez em resolver esses problemas é crucial, e que o atraso é uma estratégia para prejudicar o partido. Pimenta criticou a esquerda que apoia o STF, afirmando que essa ilusão de proteção está levando a um ataque aos direitos democráticos, não apenas do PCO, mas de toda a população.
“A esquerda que defende o STF como baluarte da democracia não fala nada. Eles olham, mas como não toca no interesse deles, ficam quietos, presos à ilusão de que o STF tá protegendo eles da extrema direita. Isso é uma ilusão e na hora que acabar essa farra, quero ver o que eles vão fazer.”
Falecimento de Fujimori
Na análise do falecimento de Alberto Fujimori, Pimenta fez uma crítica contundente à hipocrisia da burguesia que aplaudiu sua ditadura no Peru. “A defesa das ‘democracias’ é uma farsa, pois muitas delas sustentaram regimes opressivos como o de Fujimori”, disse.
“A burguesia, que fica chocada com a Venezuela pela falta de ‘democracia’, apoiou integralmente a ditadura fascista de Fujimori. Essa mesma burguesia fez uma campanha para transformar o Sendero Luminoso em um grupo de criminosos.”
Liberdade de Imprensa
Pimenta também comentou sobre a crescente censura à imprensa, especialmente em relação às agências russas. Ele destacou que a tentativa de silenciar vozes críticas é uma forma de controlar a opinião popular. “Não se trata de defender a democracia, mas de silenciar os inimigos do imperialismo”, analisou. O dirigente alertou que essa censura pode se estender a outros meios de comunicação, restringindo a liberdade de expressão e a disseminação de informações.
“O problema do Blinken é o Bolsonaro ou a extrema direita brasileira? Não, o problema é a Rússia, a China, o Irã, a Venezuela, a Coreia do Norte, a Nicarágua, Cuba, etc. Esses são os principais problemas dele. Não é uma defesa da democracia [a censura], mas uma interdição geral da comunicação.”
Elon Musk x Alexandre de Moraes
A relação entre Elon Musk e Alexandre de Moraes tem se tornado um ponto focal nas discussões sobre liberdade de expressão e a defesa das leis brasileiras. Pimenta destaca que, surpreendentemente, é Musk quem está se posicionando como defensor da Constituição e das leis do Brasil, enquanto Moraes, com suas ações autoritárias, está promovendo a censura e desrespeitando princípios democráticos fundamentais.
“A luta entre o X e o AM é escatológico. A esquerda defendeu que as leis do País fossem cumpridas, o que é muito lógico, porém ele não está descumprindo nenhuma lei. Ele está se opondo à loucura ditatorial de Alexandre de Moraes.
A coisa é tão louca que o Elon Musk tá defendendo as leis do País. A defesa dele era justamente o fato dele ser amparado pela Constituição. O problema é que não sendo brasileiro, ele não entende como isso funciona no Brasil, onde existe um poder muito acima da lei: o juiz.”
Uma das ações mais absurdas e emblemáticas desse conflito é a tentativa de Moraes de sequestrar recursos da Starlink para cobrir multas aplicadas ao X, a rede social de Musk. Essa medida é descrita por Pimenta como uma “loucura completa”.
Pimenta lembra que embora Musk seja um bilionário, não pertence ao setor mais poderoso da burguesia, que é o imperialismo; ele é parte de um setor mais frágil da elite, frequentemente tratado com desdém e comparado a um “cachorro vira-lata”. Isso se reflete na luta da extrema direita por liberdade de expressão:
“A extrema direita é um agrupamento difuso, mas no geral, divergem do imperialismo em diversas questões. Não querem, por exemplo, gastar dinheiro com as guerras que os EUA fazem, o que é uma questão importante para esse setor mais fraco da burguesia norte-americana.
Esse setor se insurgiu, começou uma campanha que deu resultado e assustou o bloco mais poderoso do imperialismo, que logo chegou à conclusão de que precisavam ser reprimidos. Nos EUA principalmente, eles passaram a defender a liberdade de expressão, uma coisa momentânea, mas que pra eles se tornou fundamental para conseguirem sobreviver. Se amanhã se tornarem mais fortes, abandonarão essa defesa, mas não é o que está acontecendo no momento.”
Além disso, Pimenta critica a aproximação do governo Lula com figuras como Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, considerando essa aliança como uma demonstração de subserviência ao imperialismo. Essa atitude é vista como uma repetição de erros históricos, onde o Brasil se coloca em uma posição de inferioridade em relação às potências imperialistas.
O dirigente observa que essa subserviência é ainda mais evidente quando se compara a situação atual com o tratamento que o presidente francês, Emmanuel Macron, dispensa a Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda francesa, que tem sido tratado com desdém e desprezo. Trata-se de um exemplo que revela a fragilidade das alianças tentadas pela esquerda com o imperialismo.
Pimenta conclui que a luta pela liberdade de expressão e pela defesa da Constituição é uma batalha que transcende interesses individuais, e que a resistência a figuras autoritárias como Moraes é essencial para garantir os direitos democráticos de todos os cidadãos, favorecendo principalmente os mais despossuídos. “É preciso olhar muito objetivamente essas coisas pra não ser vítima de suicídio político. É suicídio político apoiar as medidas repressivas do Estado capitalista, como é suicídio político querer aliar-se com o imperialismo”, concluiu.
Eleições Municipais
Na análise das eleições municipais, Rui Costa Pimenta destacou a sabotagem sistemática do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o PCO. Ele enfatizou que o TSE tem agido de maneira deliberada para dificultar a participação do partido, restringindo o acesso a recursos e impedindo a realização de campanhas efetivas. Essa estratégia é uma tentativa clara de silenciar uma voz crítica que poderia desafiar o regime.
“Isso explica porque o PCO é o mais boicotado dos partidos, não pode aparecer de jeito nenhum, em debates, entrevistas, nem em órgãos de esquerda como o Brasil de Fato somos chamados o que é até natural, porque nessas condições, mesmo sem dinheiro, o Partido roubaria as atenções.”
Pimenta também criticou o apoio do PT a Guilherme Boulos, considerando essa aliança um desastre para a esquerda. Ele argumentou que essa aproximação revela uma falta de compromisso com as verdadeiras demandas populares e uma traição aos princípios que deveriam guiar a luta dos representantes dos trabalhadores.
O dirigente marxista alertou que, ao apoiar figuras que não representam os interesses dos trabalhadores, o PT contribui para a desarticulação da esquerda e para a manutenção do regime político que busca esconder o PCO a todo custo.
Mesmo enfrentando dificuldades financeiras e restrições para fazer campanha, o partido trotskista tem o potencial de crescer e se destacar mais do que o regime poderia tolerar. Pimenta ressaltou que a mobilização popular são fundamentais para o partido manter sua trajetória de crescimento e se tornar um partido de massas.
Caso Silvio Almeida
Ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida sempre foi um instrumento de ONGs e da política identitária, sendo pai da picaretagem intelecual do “racismo estrutural”. Ainda assim, sua demissão sumária, por base em acusações feitas pela organização Me Too e que não foram levadas a público, representam um golpe do identitarismo contra Ameida. Diz Pimenta:
“A ONG Me Too é um lobby para derrubar gente, uma organização dedicada a fazer ‘denúncias’ para favorecer esquemas políticos e econômicos. No Brasil, são financiados pela Fundação Ford.
Essa ONG denunciou Almeida por algo que ninguém sabe e em decorrência dessa denúncia, o ‘ministro negro’ foi tratado como o negro normalmente é tratado.”
O presidente do PCO destaca que “quem assumiu no lugar [o Ministério dos Direitos Humanos] é a Macaé Evaristo. A família dela é inteira peixinho da banqueira ‘Neca’ Setubal, herdeira do Itaú. É uma ongueira que ganha presença no governo, impulsionada pela Fundação Ford, o que nunca quer nada de bom para o Brasil.”
Para o dirigente marxista, o caso mostra que “o governo Lula está se deslocando muito à direita”, algo que fica explícito no caso da Venezuela. “Não é só o que ele fala”, diz Pimenta, “mas o que ele aceita do resto”.
“Lula está acuado e acreditando que o imperialismo irá salvá-lo do bolsonarismo. Não vai e vamos ver isso nas eleições. Tem golpes de Estado em Bangladexe, na Indonésia e em todo mundo, mas o problema é a Venezuela. Quando um país atrasado como a Venezuela está sendo atacado por um país desenvolvido como os EUA, não se deve olhar a lei internacional, mas a luta de classes.
Com ata ou sem, na Venezuela, a luta é entre o povo da Venezuela e o imperialismo. Não tem importância se houve fraude ou não, o que importa é a luta contra o imperialismo. Com esse tipo de orientação, marcada pela formalidade, a pessoa vira um instrumento das nações desenvolvidas, que sempre estão certas na lei, não importa o quão monstruoso seja o crime deles.”
Palestina
A situação na Palestina está se intensificando de forma revolucionária, abrangendo agora também a Cisjordânia, além de Gaza. A Resistência Palestina está se fortalecendo, mesmo diante da repressão da ditadura sionista que tenta desmantelar o Hamas na região. Pimenta cita relatos da imprensa israelense indicam que as forças ocupantes estão perdendo o controle, com um refém libertado afirmando que os sionistas não compreendem a complexidade dos túneis da resistência.
“Várias notícias da imprensa israelense estão destacando o problema enfrentado pela ocupação sionista, uma delas, feita com um dos reféns libertados, dizia ‘as forças sionistas não têm a menor ideia do que são os túneis da resistência palestina’. Segundo ele, ‘pelas perguntas que fizeram, eles [os sionistas] não sabem nada’. Outro, um general, disse que esse negócio de que os sionistas destruíram batalhões e companhias é mentira. Não destruíram nada. Já foram obrigados a recuar em várias áreas e ainda segundo a imprensa israelense, o Hamas já domina o norte da Faixa de Gaza.”
Pimenta destaca um número que divulgado na semana: desde o 7 de Outubro, mais de 2 milhões de pessoas deixaram “Israel”, e a pressão por um acordo cresce, pois a questão não é apenas a derrota militar, mas o colapso da sociedade sionista. O Hesbolá também respondeu aos ataques israelenses, demonstrando que o “Domo de Ferro” se tornou um “Domo de sucata”, segundo as palavras do dirigente.
“O imperialismo está desesperado com a situação, porque enquanto o pessoal apanha da Resistência em Gaza, surge uma frente de luta na Cisjordânia. Se não for tratado agora, o imperialismo vai perder o controle. Junta-se a isso o Ansar Alá, a resistência iraquiana, a resistência na Síria, revelando uma situação muito dramática, na qual o tempo está contra o imperialismo.”
Enquanto isso, a China avança com uma aliança internacional com os países africanos. O dirigente destaca que enquanto esteve no país asiático, ocorreu um fórum que reuniu quase todos os países africanos, anunciando investimentos de US$50 bilhões em infraestrutura e a remoção de tarifas comerciais.
“Este movimento representa uma ameaça direta ao imperialismo, que está em um momento crítico. A aproximação do PT com o imperialismo em nome da ‘democracia’ é um erro grave que trará consequências severas”, concluiu, encerrando a primeira parte do debate e abrindo a discussão.