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Política nacional

A adaptação da esquerda ao ‘sistema’ fortalece a extrema direita

O Esquerda Online considera que não é preciso ocupar a posição de ser “antissistema” para combater a extrema direita, esse é o caminho para a falência total da esquerda

Com a vitória da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu, está ficando claro para alguns setores da esquerda que é preciso adotar uma política “antissistema”. Isso significa uma política de oposição ao regime político neoliberal “democrático” dos governos imperialistas. Todos esses governos estão falindo, até figuras como Trump se tornam populares diante dessa falência. Mas a esquerda pequeno-burguesa resiste a rachar essa frente ampla falida. É o caso do Esquerda Online, que publicou um artigo totalmente contrário à tese de rachar com esse bloco do imperialismo. Seu título é Na luta contra o fascismo, basta ser ‘antissistema’?.

Ele começa com a análise: “é preciso lembrar que a esquerda anticapitalista é, de fato, ‘antissistema’. Estrategicamente, lutamos pela reviravolta radical de toda a ordem social e política vigente, rumo à construção de uma sociedade socialista, ou seja, de outro sistema social, baseado em outros princípios econômicos, políticos e culturais”. Isso pode ser real em alguns discursos da esquerda pequeno-burguesa. Mas, na prática, a ação da esquerda mundial é se tornar um apêndice dos principais países imperialistas, o “sistema”. Apoiaram Biden; apoiaram Macron; apoiaram Scholz; no Brasil, não apoiaram Tebet, mas fizeram uma frente ampla com esse setor. Lula, então, aparece como aliado de Biden no Brasil. Isso é mais importante do que qualquer aspecto ideológico.

Ele passa então a argumentar que, na verdade, a extrema direita não é “antissistema”: “vejamos a base social da extrema-direita: será que a base evangélica aderiu ao bolsonarismo porque buscava uma força ‘antissistema’? É isso que esse setor sempre almejou e agora encontrou em Bolsonaro? E a base ligada ao agronegócio do centro-oeste? É ‘antissistema’? E a pequena burguesia, a classe média e a cúpula do funcionalismo público? São ‘antissistema’? E a alta burguesia? É ‘antissistema’? E as polícias? Desejam derrubar ‘tudo que está aí’ e construir uma nova ordem social?”. Aqui está seu principal argumento. Se o bolsonarismo é reacionário, como ele pode ser antissistema?

Mas essa é a tradição da extrema direita. É um movimento reacionário que se apresenta como uma oposição ao liberalismo – nos dias de hoje, ao neoliberalismo. Bolsonaro é contra a Globo, contra Biden, contra Macron, contra o identitarismo, contra o PSDB. Ele cresceu justamente roubando essa base citada acima que era acoplada à direita tradicional, o “sistema”. Isso porque a crise do capitalismo destrói totalmente as condições de vida de toda sociedade, até mesmo da burguesia média, e, assim, é preciso uma alternativa a essa destruição.

A confusão é que a oposição não é profunda, não é uma oposição entre capitalismo e socialismo. É uma oposição entre uma burguesia que está sendo destruída pelo neoliberalismo e a grande burguesia imperialista. É assim no mundo inteiro. Trump é a maior expressão disso, um setor da burguesia norte-americana mais fraco em combate com o setor mais poderoso, representado por Biden. O mais importante aqui é que a extrema direita se mostra como uma oposição. Ao contrário da esquerda, que assume uma aliança com o imperialismo.

Ele então apresenta a sua tese para o sucesso da extrema direita, ela “se tornou uma força decisiva na sociedade não porque seja ‘antissistema’, mas porque soube se apresentar à nação como um bloco político determinado, coeso, organizado e motivado. É isso que a fez ‘diferente’ das outras forças e conquistou a simpatia dos setores mais conservadores e reacionários da população (e não de sua parcela ‘antissistema’). Quando, em março de 2016, a direita juntou centenas de milhares na Avenida Paulista para pedir o golpe contra Dilma, uma parte significativa da população (inclusive uma parte da classe trabalhadora) ficou impactada por seu poder de mobilização e passou a segui-la com atenção. A partir daí foi só cultivar o conquistado e avançar por mais: luta ideológica e política, eleição de parlamentares e prefeitos, atuação massiva nas redes sociais, propaganda, iniciativa, espírito combativo. Daí à conquista da presidência da república foi só um desenvolvimento natural”.

Sem a explicação política correta do crescimento da extrema direita, ele se perde completamente. É preciso fazer um histórico. Os atos de 2016 não foram convocados pela extrema direita, mas sim pela direita tradicional. Eles ganharam força porque o imperialismo queria derrubar Dilma. Mas isso gerou uma disputa dentro da direita, da mesma forma que acontece nos EUA. O trumpismo venceu a ala tradicional do Partido Republicano, no Brasil, o bolsonarismo se tornou a maior força da direita. O motivo é que o imperialismo consegue levar parte da população a se chocar com o PT, mas é impossível fazer o povo apoiar o PSDB. O partido se esfacelou nesse processo, perdeu até o estado de São Paulo. A conquista da presidência também não foi mérito do bolsonarismo, mas sim do imperialismo que prendeu Lula por meio da Lava Jato e o removeu das urnas.

Ou seja, o crescimento do bolsonarismo se deu pela falência do PSDB. Ele primeiro tomou o controle da direita e depois começou a disputar a política nacional. Lula, na oposição, foi capaz de arregimentar a maior parte dos trabalhadores. Mas Lula, no governo, fazendo sua política de conciliação, aparece como mais um representante do “sistema”. Isso faz com que o bolsonarismo ganhe força atuando na oposição. A diferença com a situação mundial é que Lula pode ser “antissistema”, basta ele romper com a frente ampla e aplicar a sua própria política nacionalista, mesmo que moderada.

Ele continua: “a direita cresceu não porque defende uma política ‘antissistema’, mas porque opera com o senso comum, o ódio, os medos, as frustrações e os preconceitos mais brutais que existem em nossa sociedade. Assim, uma competição ‘para ver quem é mais antissistema’ só pode significar para a esquerda um tiro no pé e uma confusão entre esquerda e direita. Não venceremos nunca essa luta nessas condições porque pedir para “fuzilar a petezada” vai soar sempre mais radical do que a defesa do SUS, da ciência ou da cultura”.

Aqui existe mais uma confusão. A direita mantém essa política reacionária baseada no conservadorismo, mas isso é secundário em relação ao seu crescimento. Ele afirma que é impossível competir com o radicalismo, mas isso não é real. Falar em expropriar os bancos é muito mais radical que fuzilar trabalhadores. Falar em fuzilar ricos é muito mais radical do que em fuzilar pobres, é isso que acontece em uma revolução, quando a política da esquerda tem seu ápice de radicalismo. O problema é que a direita radicaliza onde pode, mas a esquerda não. Basta ver quando Lula fala em reivindicações de tipo nacionalista, como ele ganham amplo apoio, isso é radicalizar. Quando Putin decidiu entrar em guerra com a OTAN, isso aumentou de maneira estrondosa a sua popularidade.

O estranho é que a extrema direita possa radicalizar mais que a esquerda que tradicionalmente ocupa esse espaço. No fim, o texto é uma defesa ideológica da frente ampla, fala em não radicalizar e manter as relações com esses setores que são o que está afundando a esquerda. Uma coisa que não aparece no texto é justamente isso: mais importante que o crescimento da extrema direita é a falência total da direita tradicional. O autor, ao não explicar o primeiro problema, não consegue explicar o segundo. A causa é a mesma.

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