Segue crescendo a greve dos trabalhadores da Eletrobrás. A maior empresa de energia da América Latina, a estatal brasileira foi privatizada no final do governo entreguista de Jair Bolsonaro. Após a venda da empresa para capitalistas como Jorge Paulo Lemmann, já diminuiu em cerca de 12,6% o seu quadro de funcionários, ou seja, a empresa demitiu 4.066 trabalhadores. Além disso, houve um corte de 11% em despesas com funcionários, com redução de 33% na folha de pagamento dos trabalhadores.
A greve foi deflagrada na última segunda-feira (10), um dia antes da empresa completar seus 62 anos de existência. Nesse momento, a paralisação dos funcionários já atinge 80% da Eletrobrás. Ao todo, aproximadamente 6.400 dos 8.000 funcionários responsáveis pela operação elétrica da Eletrobrás estão paralisados. A subsidiária Furnas, em todos os 15 estados onde opera, incluindo o Distrito Federal, decidiu entrar em greve. Já na Eletrosul, as quatro principais bases da empresa (Joinville, Capivari, Blumenau e Região Oeste) também adeririam à paralisação.
Na Eletronorte, 10 das 11 bases estão em greve: Acre, Amapá, Araraquara-SP, Distrito Federal (Sede), Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. A Chesf, a sede de Recife, base da empresa onde se encontra metade dos funcionários da subsidiária, definiu que também vai parar por tempo indeterminado a partir da sexta-feira (14). Os funcionários que trabalham na Eletrobrás Holding e na Eletropar também já declararam apoio à greve.
De acordo com o engenheiro eletricista Mailson da Silva Neto, trabalhador da Chesf entrevistado por este Diário, o motivo da greve são as retiradas dos salários e os direitos da categoria. “O que está em discussão é que a empresa apresentou uma proposta em que ela dividia a categoria em faixas salariais. Trabalhadores que ganhassem até R$6.000 receberia o índice, o IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo]; quem recebesse entre R$6.000 até R$16.000 não receberia o índice e nada; e quem recebesse acima de R$16.000 iria ter o salário reduzido. Ela não disse quanto vai reduzir esse salário, então fica uma incógnita“, afirma Neto.
Outro ponto é o congelamento da remuneração e os planos de cargos até 2026. Pela proposta, os salários atuais para quem ganha mais de R$6.000 ficariam sem reajuste por dois anos. Só quem ganha abaixo desse patamar receberia a correção da inflação do período equivalente a 100% do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Em nota, o Conselho Nacional dos Eletricitários (CNE) afirma que “a greve é um direito de todos”, e segue: “a empresa, inflexível nas negociações do Acordo Coletivo de Trabalho, insiste em demitir e retirar direitos históricos. Essa postura coloca em risco o sistema elétrico brasileiro, pois os trabalhadores são altamente capacitados e essenciais para a operação da Eletrobras”.
Os operadores continuarão trabalhando para dar sustentação ao sistema elétrico brasileiro, mas eles alteraram o plantão de 12 horas para 24 horas como uma forma de protesto. Dessa forma, metade dos grevistas trabalhará em um turno dobrado por dia. Segundo Mailson Neto, a categoria “está bastante unida e firme na luta e pelo seu direito de greve garantido pela Constituição Federal” e que a empresa se nega a negociar. “É importante frisar a importância da Eletrobrás para o setor elétrico nacional e o setor elétrico da América Latina. A energia é um item fundamental para o desenvolvimento humano. As últimas greves foram greves que, quando a gente começou, a empresa chamou [a Justiça] e o juiz pediu para a gente suspender”, aponta Neto.
É preciso destacar que a greve deve continuar até atingir 100% dos trabalhadores. Dada a importância do setor elétrico para o País e toda a região, uma exigência que não deve ficar de fora da luta dos eletricitários é a reestatização completa da Eletrobrás. E que a categoria não se deixe intimidar diante tanto pelas decisões contrárias a ela por parte do Judiciário e outros agentes da burguesia, muito menos diante das pressões da imprensa golpista e da empresa que, agora privada, se encontra nas mãos de vampiros do capital financeiro.