O dia 15 de maio é lembrado pelo povo palestino como o dia da catástrofe, ou, em árabe, Nakba. A data diz respeito à operação de limpeza étnica perpetrada pelo sionismo que, em 1948, há 76 anos, para fundar o Estado de “Israel”, expulsou mais de 800.000 palestinos de suas terras e assassinou dezenas de milhares no processo.
Durante a Nakba, os sionistas, por meio de milícias fascistas como a Hagana e o Irgun, realizaram dezenas de massacres por toda a Palestina. As atrocidades cometidas pelos israelenses são tão chocantes que palavras não conseguem descrever o sofrimento do povo palestino.
Mesmo assim, alguns relatos ajudam a entender um pouco da campanha genocida lançada pelo sionismo naquele ano. Abaixo, reproduzimos a descrição de Illan Pappé, historiador israelense, da limpeza étnica feita em Haifa, uma das maiores cidades palestinas naquela época:
“Desde a manhã após a adoção da Resolução de Partição da ONU, os 75.000 palestinos na cidade foram submetidos a uma campanha de terror instigada conjuntamente pelo Irgun e pela Hagana. Como haviam chegado apenas nas últimas décadas, os colonos judeus tinham construído suas casas mais acima na montanha. Assim, eles viviam topograficamente acima dos bairros árabes e podiam facilmente bombardeá-los e alvejá-los. Eles começaram a fazer isso com frequência desde o início de dezembro. Usavam outros métodos de intimidação também: as tropas sionistas rolavam barris cheios de explosivos e enormes bolas de aço para dentro das áreas residenciais árabes, e derramavam óleo misturado com combustível nas estradas, que depois incendiavam. No momento em que os residentes palestinos, em pânico, saíam correndo de suas casas para tentar extinguir esses rios de fogo, eram alvejados por tiros de metralhadora. Em áreas onde as duas comunidades ainda interagiam, a Hagana levava carros para garagens palestinas para serem reparados, carregados com explosivos e dispositivos de detonação, causando, assim, morte e caos.”
Desde então, a ocupação sionista estabeleceu um regime fascista contra o povo palestino que só pode ser comparado ao que Hitler fez durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, os palestinos, diante dessa opressão, nunca ficaram calados e, desde que foram expulsos de suas terras, lutam diariamente contra o Estado nazista de “Israel”.
Nesse sentido, a data da Nakba se tornou mais uma data de luta para o povo palestino, um dia para reivindicar o que é seu por direito e exigir o fim da ocupação sionista.
Este ano, porém, o dia da Nakba ganha uma importância maior ainda, pois é o primeiro 15 de maio desde a deflagração da heroica operação Dilúvio de Al-Aqsa, em 7 de outubro de 2023. Desde então, a ação inédita do Hamas e de demais grupos da resistência armada deram força total à Revolução Palestina, que chega cada vez mais perto de erradicar a ocupação sionista do mapa.
“Israel”, ao mesmo tempo, começou a bombardear a Faixa de Gaza de maneira incessante, perpetrando um dos maiores genocídios já vistos na história da humanidade que, em pouco mais de sete meses, já deixou mais de 35.000 palestinos mortos. É uma situação tão grotesca que pode ser facilmente comparada à Nakba de 1948.
“A limpeza étnica é um crime terrível contra a humanidade, mas o genocídio é ainda pior”, afirmou Illan Pappé à emissora catarense Al Jazeera nesta quarta-feira (15). “Portanto, penso que estamos assistindo a uma transição da utilização da limpeza étnica como principal método para tomar a maior parte possível da Palestina, com o menor número possível de palestinianos – estamos avançando para um método muito mais letal, o do genocídio”, continuou.
O historiador e autor de A Limpeza Étnica da Palestina disse que o que está acontecendo agora na Palestina é comparável em alguns aspectos ao que ocorreu durante a Nakba, em 1948. Todavia, para ele, “em muitos outros aspectos”, os acontecimentos de hoje são “ainda piores”.
Neste dia da Nakba, outras figuras e organizações também vieram a público dar declarações similares às feitas por Pappé. A Organização de Cooperação Islâmica (OIC), por exemplo, afirmou que a Nakba continua nos dias de hoje “por meio de crimes de assassinato, destruição, deslocamento forçado e genocídio como resultado da agressão israelense contínua contra o povo palestino”.
“A OIC reafirma a responsabilidade da comunidade internacional no que diz respeito à necessidade de pôr fim à ocupação israelense e de ativar mecanismos de justiça internacional para responsabilizar Israel, a potência ocupante, pelos crimes que cometeu contra a humanidade, e para retificar a injustiça histórica que continua a acontecer ao povo palestino”, acrescenta o comunicado.
Erdogan, presidente da Turquia, afirmou que vai “continuar apoiando o Hamas, que está lutando pela independência de sua própria terra e defendendo Anatólia”. “Israel não irá parar em Gaza e, se não for interrompido, este Estado desonesto acabará atingindo a Anatólia com as suas ilusões de [uma] terra prometida”, afirmou.
Em diversas cidades palestinas, sirenes foram disparadas por 76 segundos em homenagem à Nakba. Segundo Zein Basravi, repórter da Al Jazeera em Ramala, na Cisjordânia ocupada, “todo mundo ficou em silêncio e levantou dois dedos para o ar” quando as sirenes começaram a tocar.
Enquanto isso, “Israel” continua suas operações criminosas contra o povo palestino, seja por meio de bombardeios, seja por meio de batidas na Cisjordânia ocupada.
No norte da Jabalia, tanques israelenses invadiram bairros densamente povoados e passagens estreitas nunca antes invadidas. Eles enfrentam uma resistência feroz dos combatentes palestinos, com o braço militar da Jiade Islâmica afirmando que eliminou e feriu soldados sionistas.
Em Rafá, as tropas israelenses continuam as operações nos bairros orientais de Salam e al-Jnaina, bem como no sudeste. Ao mesmo tempo, os tanques sionistas aproximaram-se do centro de Rafá, onde homens armados liderados pelo Hamas oferecem forte resistência.
“Na Cisjordânia, vimos vários ataques e assassinatos. Há um genocídio ativo em Gaza”, disse Jenin Anzawi, do campo de refugiados de Jenin, também à Al Jazeera.
Mohammad Abu Ameera, também do campo de refugiados de Jenin, disse que, agora, os palestinos não têm o apoio dos seus vizinhos árabes.
“Gaza está em guerra por si só, está lutando por si só, sendo massacrada por si mesma”, disse ele, acrescentando que os exércitos dos países árabes não são usados para combater outro país, mas sim “usados contra o seu próprio povo”.
Na Cidade de Gaza, “Israel” realizou uma série de ataques aéreos mortais, matando 10 pessoas deslocadas que estavam abrigadas numa instalação da UNRWA e matando pelo menos seis outras pessoas, incluindo uma mãe e um filho, em ataques a apartamentos.
A diferença de 1948 para os dias atuais é que, hoje, a resistência palestina está mais preparada do que nunca para combater o Estado genocida de “Israel”. Mais do que isso: principalmente depois da operação Dilúvio de Al-Aqsa, a resistência, em especial, o Hamas, está mostrando que está cada vez mais próxima de pôr um fim à ocupação sionista na Palestina.
Durante a Nakba, o secretário-geral do Hesbolá, Sayyed Hassan Nasseralá, recebeu uma delegação de membros do birô político do Hamas liderada por Khalil al-Hayya e incluindo Mohammad Nasr e Osama Hamdan.
Na reunião, os dois partidos discutiram extensivamente os acontecimentos e desenvolvimentos na Palestina ocupada, particularmente em Gaza. Discutiram, também, as recentes negociações de cessar-fogo, as implicações das posições políticas internacionais na guerra em Gaza e os protestos estudantis em todo o mundo.
Reafirmaram a sua posição unida e a continuação dos esforços nos campos político, da Resistência e popular para alcançar os objetivos honrosos que a operação Dilúvio de Al-Aqsa procurou alcançar, bem como a próxima e prometida vitória, independentemente do preço.
Ao mesmo tempo, Ismail Hanié, líder do birô político do Hamas, realizou um grande pronunciamento em homenagem aos 76 anos da Nakba:
“Hoje marca o 76º aniversário da Nakba da Palestina, uma catástrofe vivenciada por nossos pais e avós quando gangues sionistas atacaram suas aldeias e cidades seguras, forçando-os a migrar com violência e horror de massacres.
Este aniversário ocorre enquanto nosso povo está engajado na batalha do Dilúvio de Al-Aqsa, prelúdio para a libertação e independência, se Deus quiser. Nossos heróis estão enterrando o nariz do ocupante na sujeira e afirmando que sua remoção de nossa terra é uma inevitabilidade corânica e verdade histórica. O mito de ‘uma terra sem um povo para um povo sem uma terra’ e a ideia de que ‘os velhos morrerão e os jovens esquecerão’ acabaram para sempre.”
Em seu discurso, Hanié destacou a vitória cada vez maior da resistência palestina contra “Israel”, afirmando que “o ocupante ainda vive com medo e ameaça existencial, lutando brutalmente pela sobrevivência, enquanto os povos livres do mundo entoam o grande slogan ‘liberdade para a Palestina!’ e ‘Palestina livre, Palestina livre!’”.
“Nosso povo frustrou todas as conspirações e sabotou planos maliciosos, permanecendo firme e inabalável em todos os lugares […] Nosso povo nas terras de 1948 se apegou à sua identidade e bandeira apesar das tentativas de assimilação, e os palestinos na orgulhosa Cisjordânia continuam resistindo”, disse o líder palestino.
Hanié também falou sobre a mobilização dos estudantes que, em todo o mundo, vão às ruas em defesa da Palestina:
“Estamos testemunhando uma cena sem precedentes na história, com estudantes de todo o mundo nos Estados Unidos, Europa, Austrália, Japão e em outros lugares apoiando a causa palestina e demonstrando solidariedade com nosso povo em Gaza contra a entidade usurpadora, adotando as demandas de nosso povo por liberdade e independência sobre toda a terra palestina ocupada. Eles estão pedindo para parar o genocídio contra nosso povo em Gaza, interromper a exportação de armas para esta entidade e exigir que suas universidades acabem com os investimentos em empresas do inimigo.
É Gaza que se tornou o ícone para a juventude do mundo em todos os movimentos. É Gaza que derrubou a narrativa sionista, revelando a natureza verdadeira e sanguinária desse ocupante.
É Gaza que reuniu a nação em torno da Palestina, incorporando a unidade dos campos no Eixo da Resistência, liberando todas as emoções reprimidas e proporcionando um amplo horizonte para reescrever a história e desenhar os mapas da geografia política.”