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São Paulo

530 mil casas continuam sem luz por causa dos parasitas da Enel

Monopólio italiano vem destruindo a infraestrutura energética da maior cidade da América Latina

Um total de 530 mil imóveis permanecem sem luz desde a última sexta-feira (11), após chuvas moderadas. Poderíamos estar falando de La Paz ou de Cabul, onde não se ouve a palavra “indústria” com frequência. Mas estamos falando da maior cidade da América Latina: São Paulo, um gigantesco centro urbano com 11,4 milhões de habitantes.

A falta de energia expôs uma vez mais as consequências das privatizações. Apesar de muita conversa fiada sobre questões climáticas, o verdadeiro problema está no fato de que um monopólio estrangeiro, a italiana Enel, está acabando com a infraestrutura energética do estado. A multinacional, que comprou 73% das ações da Eletropaulo, em 2018, pela pechincha de R$5,552 bilhões, é a responsável pela distribuição de energia na cidade mais rica do País. A aquisição da Eletropaulo, que adicionou 7,1 milhões de clientes à sua base, praticamente dobrou a receita da empresa no Brasil. Hoje, a Enel atua em três estados – Goiás, Rio de Janeiro e Ceará – além de São Paulo, atendendo um total de 17,2 milhões de clientes e controlando um gigantesco território que abrange 486 cidades. Suas redes de distribuição somam mais de 420 mil quilômetros.

Essa posição privilegiada, adquirida graças à corrupção das autoridades públicas, permitiu à Enel monopolizar grandes áreas do fornecimento de energia, enquanto a qualidade do serviço caiu drasticamente. A redução de funcionários, os cortes de investimentos e o foco no lucro para acionistas internacionais transformaram a antiga Eletropaulo em uma das empresas mais ineficientes do mundo. Em São Paulo, o apagão desta semana, que deixou milhões sem luz, é resultado direto dessa política.

A Enel hoje opera em 35 países e atende 65 milhões de clientes, faturando cerca de 74,6 bilhões de euros por ano no mundo. Mesmo com toda essa estrutura e receita gigantesca, a Enel não consegue garantir um serviço estável em São Paulo, e o resultado são protestos de moradores indignados, que, nesta segunda-feira (14), bloquearam vias em São Bernardo do Campo e na capital paulista. Os protestos são uma resposta legítima da população diante da falta de energia, que já dura mais de três dias. Na Estrada do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, e na Rodovia Caminhos do Mar, em São Bernardo, moradores ergueram barricadas e interromperam o tráfego, cobrando uma solução para o apagão. As manifestações mostram que os cidadãos estão cansados de serem reféns de uma empresa monopolista que falha repetidamente em suas obrigações.

Esses acontecimentos lembram o levante chileno de 2019, quando o prédio da Enel em Santiago foi incendiado em protesto contra o aumento das tarifas de transporte e a insatisfação com a gestão da empresa. O que ocorreu no Chile foi um sinal claro de que as populações não toleram a exploração das privatizações, especialmente em serviços essenciais como energia.

O que acontece em São Paulo vem se desenvolvendo no País como um todo, na medida em que a Eletrobrás, uma gigante mundial do setor elétrico, foi privatizada no governo de Jair Bolsonaro (PL). A Eletrobrás, que já foi a maior empresa de energia elétrica da América Latina, agora está nas mãos de grupos como o 3G Capital, liderado por Jorge Paulo Lemann, Marcelo Telles e Carlos Alberto Sicupira, os mesmos que controlaram a Americanas e a Light, ambas empresas que entraram em colapso. O que está acontecendo em São Paulo sob a gestão da Enel pode, em breve, se repetir em todo o País, com a Eletrobrás sob o mesmo tipo de política vampiresca.

Os crimes da Enel acontecem sob a proteção do governo estadual de São Paulo, comandado pelo semitucano e semibolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ignorando os males que a Enel está causando à população paulista, Tarcísio se recusa a tomar qualquer iniciativa – quando o natural seria que abrisse um processo para expropriar uma empresa estrangeira que assumiu a direção de uma empresa estratégica e está visivelmente sabotando o serviço. O caso é semelhante ao do Rio Grande do Sul, no qual o governador Eduardo Leite (PSDB) deixou a população à própria sorte em meio às enchentes.

A crise em São Paulo demanda uma intervenção federal. O governo Lula, como um governo eleito pelo apoio popular, deveria suspender a concessão da Enel de imediato e colocar a empresa sob intervenção para garantir que o problema seja resolvido com a urgência que a situação demanda.

A crise é tão grande que, mesmo Lula evitando entrar em qualquer atrito com a direita e evitando qualquer gasto fora do orçamento já estrangulado pelos neoliberais, seu governo anunciou algumas medidas. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou o envio de 2.900 funcionários e mais de 200 caminhões para apoiar a Enel, mas isso não ataca a raiz do problema: o modelo de privatização desastrosa e a completa falta de controle público sobre um setor tão estratégico quanto a energia elétrica.

É vergonhoso que, após anos de desmandos da Enel, o governo ainda trate a situação como um problema técnico a ser remediado com ajuda pontual de outras concessionárias. A suspensão da concessão da Enel e a sua reestatização são medidas urgentes para garantir que a população não continue refém da burguesia.

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