No dia 5 de junho de 1963 começou um dos mais importantes movimentos da luta contra a ditadura do Irã nos anos 1960. O governo do xá (rei) Reza Pahlavi, imposto por um golpe da CIA em 1953, prendeu aquele que no futuro viria tomar o poder na revolução, aiatolá Khomeini.
O governo foi pego de surpresa pelas enormes manifestações públicas de apoio a Khomeini. A polícia e o exército conseguiram reprimi-las com certa velocidade, mas elas deram início ao movimento dos xiitas que se fortaleceria cada vez mais, principalmente com a crise da ditadura.
A ditadura do xá durou 26 anos e assim passou por diversos períodos. Nos anos de 1960 o governo lançou algumas reformas, semelhante ao que fez a ditadura militar brasileira, ou seja, se ajustava as mudanças concretas do país da forma mais reacionária possível. Ele, como os generais brasileiros, chamou o processo de revolução, a “Revolução Branca”.
Prova de que as reformas eram realizadas de forma reacionária é que elas encontraram uma ampla resistência da população. Os xiitas nesse momento já canalizavam a revolta, pois, além de serem afetados diretamente por ela, pois as reformas afetam questões da religião, eles eram a organização que havia sido mantida diante da gigantesca repressão do golpe de 1953.
Sua principal liderança, Khomeini, então organizava o movimento de oposição. Na tarde de 3 de junho de 1963, Khomeini proferiu um discurso na Escola Feoziieh no qual traçou paralelos entre o califa omíada Iazid I e o Xá, algo extremamente pesado para os xiitas. Ele denunciou o Xá como um “homem miserável e infeliz” e o advertiu que, se não mudasse seus modos, o dia chegaria em que o povo agradeceria por sua partida do país.
O movimento cresceu tanto que alguns estimam que a passeata de apoio a Khomeini teve 100 mil pessoas na capital Teerã. Elas gritavam: “morte ao Ditador, morte ao ditador! Deus te salve, Khomeini! Morte ao inimigo sanguinário!” Dois dias depois, às três da manhã, a polícia secreta invadiu a casa de Khomeini em Qom e o prendeu. Eles o transferiram às pressas para a Prisão Qasr em Teerã.
Ao amanhecer de 5 de junho, a notícia de sua prisão se espalhou primeiro por Qom e depois para outras cidades. Em Qom, Teerã, Shiraz, Mashhad e Varamin, multidões de manifestantes enfurecidos foram confrontadas por tanques e paraquedistas. Em Teerã, os manifestantes atacaram delegacias de polícia, escritórios do SAVAK, a violenta polícia secreta, e prédios do governo, incluindo ministérios.
O governo declarou lei marcial e um toque de recolher das 22h às 5h. O xá então ordenou que uma divisão da Guarda Imperial, sob o comando do major general Gholam Ali Oveisi, se deslocasse para a cidade e reprimisse as manifestações. No dia seguinte, grupos de protesto foram às ruas em menor número e foram confrontados por tanques e soldados em trajes de combate com ordens para atirar para matar.
A vila de Pishva, perto de Varamin, ficou famosa durante o levante. Centenas de moradores de Pishva começaram a marchar para Teerã, gritando “Khomeini ou Morte”. Eles foram barrados em uma ponte ferroviária por soldados que abriram fogo com metralhadoras quando os moradores se recusaram a dispersar e atacaram os soldados com o que tinham. Ninguém sabe quantos foram assassinados. Somente seis dias depois é que a ordem foi totalmente restabelecida.
Segundo o jornalista Baqer Moin, arquivos policiais indicam que 320 pessoas de uma ampla variedade de origens, incluindo 30 clérigos importantes, foram presas em 5 de junho. Os arquivos também listam 380 pessoas como mortas ou feridas no levante, não incluindo aquelas que não foram ao hospital “por medo de serem presas”, ou que foram levadas para o necrotério ou enterradas pelas forças de segurança.
Esse evento marcou Khomeini como a liderança mais popular do país. Ele seria exilado por 15 anos e mesmo assim continuaria como o líder do movimento contra a ditadura. Quando aconteceu a revolução ele estava fora do país por quase todo o período de mobilização. Voltou apenas no dia 1 de fevereiro de 1979, 10 dias depois ele já estaria no poder e estabeleceria a República Islâmica do Irã.