A União Sul-Africana foi formada há exatos 114 anos, em 31 de maio de 1910, após a derrota das repúblicas bôeres pelos britânicos. Este evento marcou um momento significativo na história do colonialismo britânico na África do Sul, com profundas consequências para a população do continente africano. A União consistia nas quatro províncias que anteriormente eram repúblicas bôeres ou colônias britânicas: Província do Cabo, Natal, Estado Livre de Orange e Transvaal.
A colonização do território sul-africano começou com a ocupação da Colônia do Cabo pelos holandeses em 1652. No entanto, a influência britânica se consolidou em 1795 durante a Guerra Anglo-Neerlandesa. A descoberta de diamantes em Kimberley na década de 1860 intensificou os conflitos entre os colonizadores britânicos e as repúblicas bôeres, levando às Guerras Bôeres (1880-1881 e 1899-1902). Os britânicos derrotaram os bôeres e, através do Tratado de Vereeniging de 1902, tornaram-se soberanos das repúblicas bôeres, impondo dívidas de guerra e outras condições desvantajosas.
A formação da União Sul-Africana foi acompanhada pela implementação de políticas e leis discriminatórias que consolidaram o regime que culminaria no apartheid. Uma das primeiras legislações da União Sul-Africana foi o “Regulamento do Trabalho Nativo” de 1911, que criminalizava a quebra de contrato de trabalho exclusivamente para africanos negros. Em 1913, a “Lei da Terra” dividiu a terra sul-africana em áreas exclusivas para negros e brancos, com os negros, que constituíam dois terços da população, recebendo apenas 7,5% das terras, enquanto os brancos, um quinto da população, recebiam 92,5%. Essa lei também proibia os negros de serem proprietários de terras fora das áreas designadas, forçando-os a viver como trabalhadores nas terras dos brancos.
A segregação racial foi institucionalizada através de várias leis, como a “Lei da Igreja Reformada Neerlandesa” de 1911, que impedia os negros de se tornarem membros plenos da igreja. Em 1949, a “Lei da Proibição dos Casamentos Mistos” proibiu casamentos inter-raciais. A violência contra a população negra foi uma constante, culminando em eventos trágicos como o Massacre de Sharpeville em 1960, onde 69 manifestantes desarmados foram mortos e mais de 180 feridos pela polícia.
O regime do apartheid, formalizado a partir de 1948 pelo Partido Nacional, foi uma extensão das políticas coloniais britânicas. Sob o apartheid, a discriminação racial tornou-se ainda mais sistemática e brutal, com leis que segregavam todos os aspectos da vida social e econômica. Os negros só podiam viver nas cidades se estivessem empregados e tinham que portar passes, sob risco de prisão. A resistência ao apartheid foi meticulosamente reprimida, com protestos até mesmo pacíficos sendo frequentemente respondidos com violência, prisões, deportações, mortes e torturas.