Há 52 anos o então presidente norte-americano Richard Nixon anunciava a retirada de 11 mil soldados sul-coreanos do front de batalha da Guerra de Resistência contra os Estados Unidos, que ocorria no Vietnã. A ação foi uma tentativa de “desamericanizar” o conflito travado entre Vietnã do Norte e Vietnã do Sul e era o primeiro ato da política de Nixon denominada de “vietnamização”.
O conceito foi cunhado em uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, no dia 28 de fevereiro de 1969, um dia antes do anúncio. Na prática, a ação era o começo do recuo de Nixon diante da derrota ideológica iminente dos EUA e ocorria logo após a divulgação de notícias de soldados norte-americanos massacrando civis sul-vietnamitas do distrito de Sơn Tịnh, província de Quảng Ngãi, no episódio que ficou conhecido como “O massacre de Mỹ Lai”.
Com a desconfiança de cidadãos norte-americanos em relação ao ex-presidente, a política veio a calhar já que os protestos contra a guerra aumentavam pelas ruas do país. No discurso, a “vietnamização” tinha como ponto a redução gradual de tropas de combate dos EUA e aliadas. Contudo, na prática, a política ainda manteve o apoio de inteligência militar ao Vietnã do Sul, com treinamento de soldados locais. Também não rejeitava a possibilidade de combate realizado com as forças aéreas norte-americanas.
A política prosseguiu ao longo de 1969, quando Nixon fez novos anúncios de retirada de tropas. Em 23 de setembro de 1969, por exemplo, matéria da Folha de São Paulo informava que o ex-presidente teria desmobilizado 77.500 soldados do conflito, além de ter retirado do campo de batalha 200 aviões e duas embarcações.
Mesmo com os acenos de Nixon “pela paz”, em 1970 na tentativa de expandir a Guerra do Vietnã, os EUA e o Vietnã do Sul conduziram uma operação de invasão ao Camboja. O episódio novamente chegou ao conhecimento de cidadãos norte-americanos que naquele momento aumentaram a pressão nas ruas.
Já com a opinião pública desgastada, Nixon se viu em meio a outro escândalo em 1971: a divulgação do “Pentagon Papers“. O documento secreto de 14 mil páginas revelava o envolvimento dos Estados Unidos no Vietnã entre 1945 e 1967. O evento foi retratado por Steven Spielberg no filme The Post – A Guerra Secreta, de 2017, no qual conta os bastidores da divulgação do dossiê e a tensão política naquele período.
Foi neste mesmo ano que Nixon intensificou a retirada das tropas do Vietnã. Dois anos depois o Acordo de Paris foi assinado, a presença militar norte-americana foi completamente retirada do território e o conflito foi encerrado. Em 1975 o Vietnã do Norte sai vitorioso do conflito logo depois da queda de Saigon. Neste momento teve início o período de transição para a reunificação do Vietnã em um Estado Operário.
O conflito e, sobretudo, o recuo de Nixon, disfarçado como política de “vietnamização”, é propagandeado como uma vitória do ponto de vista estratégico, para afirmar que os EUA não teriam perdido a guerra. No entanto, a tomada de Saigon, a vitória do Norte, a reunificação do Vietnã e criação da República Socialista do Vietnã são fatos suficientes para comprovar a derrota do imperialismo norte-americano.