Há 22 anos, no dia 28 de setembro de 2000, o então parlamentar do partido de extrema direita Likud Ariel Sharon protagonizou um ato de provocação ao povo palestino, invadindo o complexo religioso de al-Aqsa, na cidade de Al Quds (Jerusalém) ocupada. Acompanhada por mais de mil policiais armados, Sharon disse “quero ver o que acontece no local mais sagrado para os muçulmanos”, e ainda, deixando claro que se tratava de um escarnecimento contra a fé islâmica e a população palestina, justificou a invasão do complexo de mesquitas dizendo que levaria uma “mensagem de paz”. O insulto deliberado acabou gerando uma reação popular imediata que se transformaria no estopim da Segunda Intifada (palavra árabe que significa “rebelião”).
A iniciativa de Sharon, longe de ser um gesto isolado, representou a continuidade da política bárbara da ditadura sionista, que desde as primeiras décadas do século XX, massacram a população palestina com a máxima crueldade, com vistas à ocupação dos territórios da nação árabe. A conjuntura de então era marcada por crescentes tensões entre palestinos e as forças de ocupação. Desde 11 de julho de 2000, aconteciam as negociações para o chamado acordo de Camp David, envolvendo o líder palestino Yasser Arafat e o então primeiro-ministro israelense trabalhista Ehud Barak (um sionista “de esquerda”), sob a mediação do presidente dos EUA, Bill Clinton.
A pauta incluía questões cruciais para um acordo final, como a definição das fronteiras, o futuro dos refugiados palestinos, o controle de Al Quds e a segurança dos territórios ocupados. No entanto, as propostas israelenses não garantiam um Estado palestino viável, mantinham grande parte dos assentamentos ilegais e negavam o direito de retorno aos refugiados. Com os palestinos sendo pressionados a aceitar concessões que apenas legitimavam a ocupação sionista, o fracasso das negociações em Camp David acabou alimentando a insatisfação popular e a percepção de que o processo de paz era uma nova armadilha, como a dos Acordos de Oslo ocorridos sete anos antes e que só serviram para sufocar a Primeira Intifada (1987-1993).
Alimentando as esperanças do povo palestino, quatro meses antes do escárnio de Sharon em al-Aqsa, o exército sionista havia sido expulso do Líbano pelos militantes do Hesbolá, evento que pôs fim a quase duas décadas de ocupação do sul libanês e uma derrota histórica do sionismo. A retirada precipitada, que deixou para trás a “Zona de Segurança” estabelecida por “Israel”, foi uma demonstração de que o mito da invencibilidade do exército sionista acabara.
A derrota no Líbano afetou profundamente o moral do exército sionista e representou uma vitória significativa para a resistência árabe, inspirando movimentos de libertação na Palestina e em toda a região. Diante desse quadro, Sharon, conhecido por sua política nazista e envolvimento direto em massacres horripilantes como o de Sabra e Chatila em 1982 (ocasião em que era ministro da Defesa de “Israel”), realizou sua invasão em al-Aqsa.
Os eventos daquele dia se tornariam um marco na luta palestina, expondo a bestialidade do sionismo a qualquer expressão política palestina. Quando a população árabe se reuniu em protesto no dia seguinte, foi recebida com extrema violência pelas forças de ocupação.
Entre os dias 29 e 30 de setembro, 13 palestinos foram assassinados e centenas ficaram feridos, enquanto helicópteros do exército sobrevoavam e do alto, disparavam contra manifestantes desarmados. A repressão acentuou o clima de revolta, ampliando a mobilização popular e levando a um cenário de confronto aberto.
Ao contrário da Primeira Intifada, que foi caracterizada pelo uso de pedras e ações de desobediência civil, a Segunda Intifada foi marcada por uma acentuada evolução da organização militar palestina, em resposta ao aumento da repressão e ao fracasso dos acordos de Oslo. Nos meses que se seguiram ao 28 de setembro, o levante se espalhou por toda a Palestina ocupada, convulsionando cidades como Ramalá, Nablus e Jenin, convertidas em palcos de conflitos intensos.
A revolta não se limitou a atos espontâneos de indignação: surgiram grupos armados e táticas de guerrilha e resistência que fizeram frente ao exército sionista de forma organizada, dentre as quais, as Brigadas al Qassam e o partido Movimento Resistência Islâmica (“Hamas”, na sigla em árabe) tornaram-se as mais destacadas. A Intifada marcou uma nova fase de luta, em que a resistência palestina passou a incorporar tanto ações populares quanto respostas armadas, como forma de confrontar a selvageria israelense.
Estendendo-se até o ano de 2005, a Segunda Intifada resultou em aproximadamente 4.973 palestinos foram mortos e mais de 50 mil ficaram feridos durante os cinco anos de confronto. Do lado israelense, 1.062 pessoas perderam a vida, entre civis e militares, e aproximadamente 4.500 ficaram feridas. Antecipando a política genocida e criminosa de “Israel” observada no atual levante revolucionário iniciado no 7 de Outubro, a esmagadora maioria das vítimas palestinas eram civis, especialmente crianças e adolescentes, compondo pelo menos 982 mortos, o que evidencia a brutalidade da repressão isralense.
Hoje, 22 anos após o início da Segunda Intifada, o legado daquele levante permanece vivo na memória e na luta cotidiana dos palestinos, que iniciam a sua terceira, em condições muito melhores para livrar a Palestina dos invasores e libertar o povo árabe. Refletindo as derrotas políticas sofridas, a violência sionista se intensificou nos últimos anos, sendo apoiada pelo imperialismo, que depende da manutenção da ocupação para o controle do território.
O dia 28 de setembro de 2000 deve ser lembrado não apenas como a data que desencadeou a Segunda Intifada, mas como um marco histórico da Resistência Palestina contra décadas de ocupação, opressão e uma política de colonização abertamente nazista. A provocação de Sharon foi um lembrete claro de que, para os sionistas, a paz é apenas uma desculpa para manter o controle sobre os territórios ocupados.