Nesta quinta-feira (28) completa-se 156 anos do nascimento do escritor, romancista e ativista político russo Aleksiéi Maksímovitch Pieshkóv, consagrado com seu pseudônimo Máximo Gorki. Natural de Níjni-Nóvgorod, na Rússia, exerceu diversas profissões antes de se estabelecer como escritor, mas sua juventude foi marcada pela miséria.
Depois de uma tentativa frustrada de suicídio aos 19 anos, engajou-se na vida política ao ler Karl Marx e seguir os passos do revolucionário Lenin, personagem cujo qual foi amigo posteriormente. Em 1890 foi preso em sua cidade natal, acusado de praticar atividades subversivas, durante o império russo, comandado pelo imperador Alexandre III. Não demorou para ser solto e novamente se aventurar em uma viagem sem destino.
Em 1892 publicou seu primeiro conto, denominado Makar Tchudra, e ingressou nas fileiras do jornalismo, já com o pseudônimo que o consagrou para se livrar da perseguição das autoridades imperiais. Sua atividade militante prosseguiu, portanto, e novamente foi preso, onde permaneceu até 1901. Até o início da Grande Guerra, em 1914, foi preso outras vezes. Entre 1905 e 1914, se exilou nos Estados Unidos e na Itália, onde escreveu, entre outros, as obras Os Inimigos e a Mãe.
De volta à Rússia, em 1914, acompanha a revolução a frente de um jornal. Não demora para se autoexilar novamente na Itália em razão de problemas de saúde. Lá escreve os romances O negócio dos Artamonov, Vida de Klim Sánguin, além de suas recordações sobre Lenin (1924).
Gorki regressou para a já União Soviética em 1928 e incentivou a formação de uma frente de intelectuais contra o fascismo e transformou-se na maior figura literária do regime. Permaneceu na URSS até sua morte, em 18 de junho de 1936.
A morte como cortina de fumaça
Pneumonia foi a causa da morte oficial divulgada pelo regime comunista e Gorki foi enterrado com honras oficiais, com seu féretro acompanhado por José Stálin.
A causa da morte foi comentada dois anos depois por Leon Trótski, sugerindo uma grande conspiração envolvendo outro nome da política soviética: Gregory K. Ordzhonikidze. Em artigo publicado no jornal The New Tork Times, no dia 4 de março 1938, o revolucionário analisa o julgamento de quatro médicos que foram acusados na URSS de terem assassinado dois funcionários soviéticos – Valerian V. Kuibyshev e Vyacheslav Menzhinsky – e o escritor Máximo Gorki.
No texto, Trótski aponta que os rumores do envenenamento das três vítimas levaram ao julgamento do que chamou de “quatro médicos que sabiam demais”. Aponta ainda que o próprio Stálin estaria envolvido na conspiração para acobertar as ações pregressas do regime totalitário e ainda acusar o próprio Trótski.
“Como ele [Gorki] era compassivo com os problemas dos outros e facilmente influenciável, a GPU [serviço de inteligência e polícia secreta da URSS] cercou-o de um verdadeiro círculo de agentes disfarçados de secretários, cuja tarefa era não permitir que visitantes indesejáveis se aproximassem dele. Que sentido teve o assassinato deste escritor doente, quando ele tinha sessenta e sete anos?”, questiona Trótski.
Ele levanta ainda sobre a morte supostamente por envenenamento de Gregory K. Ordzhonikidze, político soviético com influência que teria se oposto à política de extermínio de velhos bolcheviques adotada pelo regime, meses antes. Inclusive, aponta que Dr. Levin, então chefe do Hospital do Kremlin, teria afirmado a causa desta morte como envenenamento.
“O Dr. Levin suspeitou que a GPU tivesse envenenado Ordzhonikidze alguns meses antes de a GPU o acusar de ter envenenado Kuibyshev, Menzhinsky e Gorki”, interpreta de forma irônica.
Ele não para por aí. Já considerado um “inimigo do povo”, por José Stálin, Trótski sugere: “Anteriormente, nenhum dos nomes dos outros três médicos estava relacionado com este caso. Mas é muito plausível que as conversas sobre a causa da morte de Ordzhonikidze ocorram precisamente entre os médicos do Crêmlim. Isso foi motivo mais que suficiente para prisões. As prisões, por sua vez, tornaram-se o ponto de partida do ‘amálgama’ criado”.
E prossegue: “A resposta da GPU foi simples: ‘Então você suspeita que Ordzhonikidze foi envenenado? Suspeitamos que você tenha envenenado Kuibyshev, Menzhinsky e Gorki. Confesse! Você não vai? Então nós o executaremos imediatamente. Mas se você confessar que o envenenamento foi realizado por ordem de Bukharin, Rykov ou Trótski – ora, então, você pode esperar por clemência'”.
Por fim, ao destacar que em nenhum momento Gorki foi figura política relevante no cenário soviético, ficou surpreso ao ver seu nome como um dos “assassinados” por envenenamento pela polícia de Stálin. “Tudo isto pode parecer incrível, mas a incredibilidade é a própria essência dos julgamentos de Moscou. Tais julgamentos só são possíveis na atmosfera completamente envenenada sob a tampa pesada e bem fechada do regime totalitário”.