Há 64 anos, 249 pessoas foram atacadas pela polícia da África do Sul na cidade de Sharpeville. Sessenta e nove pessoas foram mortas e 180 foram feridas. O regime de apartheid sul-africano feriu e assinou cidadãos desarmados pelo simples fato de não estarem com um papel. Este evento foi um marco na história da África do Sul e na história da luta contra o apartheid.
A África do Sul teve um regime de apartheid de 1948 até 1994. Durante estes 46 anos, mais de 21.000 pessoas foram mortas pelo regime. Sharpeville foi criada 5 anos antes do início do regime, em 1943, por conta da superpopulação de sua cidade vizinha: Topville. Como uma cidade criada pelo governo de um país atrasado, Sharpeville enfrentava altos índices de pobreza e criminalidade, advindos da opressão do regime capitalista e de apartheid sul-africano.
Desde o século XVIII o governo restringia a circulação da população negra, entretanto, nos anos 1950, novas leis de controle foram promulgadas contra a população. A Lei do Passe obrigava pessoas negras acima dos 16 anos a portarem passes que continham sua carteira de identidade, autorização de emprego e de fluxo de uma agência de trabalho, nome do empregador e endereço, além de detalhes sobre seu histórico pessoal. A partir dos anos 1960, esta lei foi o principal instrumento de repressão, detenção e assedio dos oponentes políticos do governo.
O Congresso Nacional Africano (CNA) – primeira organização política de negros da África do Sul – organiza para o dia 31 de março de 1960 um protesto contra a Lei dos Passes, entretanto, o Congresso Pan-Africanista (PAC) – racha da ala radical do CNA – adiantou a manifestação e a organizou no dia 21 de março de 1960. O PAC denominou de uma “campanha positiva e decisiva contra as Leis de Passe” e convocou os homens de todas as cidades, e vilarejos, a saírem sem seus passes e juntarem-se às manifestações. Caso fossem presos, o PAC ordenou que não pagassem fiança, defesa ou multa, tendo como objetivo causar o caos no sistema de administração pública.
No dia do protesto, as 10 horas da manhã, encontrava-se um protesto calmo, com grande número de manifestantes e um pequeno grupo de policiais. Entretanto, ao passar do dia o número de manifestantes cresceu ao ponto de concentrar 20.000 pessoas. O número de policiais também aumentou massivamente, contando com 150 policiais armados, quatro veículos blindados, cães policias, oficiais armados com submetralhadoras e rifles, além de jatos, sobrevoando a 30 metros do chão sobre a cabeça dos manifestantes. Após a chegada dos jatos, os manifestantes partiram em direção à barricada da polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo e cassetetes.
As 13:00 horas há uma tentativa de prisão de um dos manifestantes, o restante do ato tenta impedir a prisão e a polícia abre fogo. Alguns manifestantes tentam fugir, mas são alvejados pelas costas. Sessenta e nove pessoas mortas, sendo 10 crianças, e 180 feridas, incluindo 19 crianças, todas desarmadas.
Em declaração, o comandante da polícia disse que “a mentalidade nativa não permite que eles [população negra] se reúnam para uma manifestação pacífica. Para eles, reunir-se significa violência”. Anos mais tarde, a Comissão da Verdade e Reconciliação apontou que os disparos foram deliberados, não feitos no calor do momento ou por policiais “mal treinados”.
Após o massacre, o PAC, o CNA e o Partido Comunista foram postos na ilegalidade. Depois de 21 de março, tanto o PAC quanto o CNA criaram braços armados para a luta de guerrilha contra o regime, o Poqo e o Umkonto we Sizwe – respectivamente. Nove dias mais tarde, o governo declarou Estado de emergência e prendou mais de 18.000 pessoas.
A luta pelo fim do apartheid seguiu até 1994, quando foi extinto por meio de um referendo popular.
Após 76 anos de início do apartheid sul-africano e 30 anos do seu fim, assistimos hoje à perpetuação do mesmo regime na Palestina. Há mais de 75 anos os palestinos são considerados cidadãos de segunda categoria, são privados de seus direitos, são presos e mortos pelo simples fato de existirem em um território ocupado pela sucursal imperialista chamada ‘Israel’.
Assim como foi na África do Sul, hoje na Palestina também existem indivíduos considerados humanos e indivíduos considerados baratas. Ainda hoje a população Palestina luta contra o regime fascista e de apartheid israelense. Os líderes contra o apartheid sul-africano já afirmavam a incompletude de sua liberdade sem a liberdade do povo palestino.
Neste sentido, o regime israelense e o sul-africano são irmãos. Assim como o governo da África do Sul realizou o Massacre de Shapeville, o governo israelense realiza centenas de massacres hoje. O regime de opressão sul-africano continua vivo hoje, na herança colonial e genocida do regime israelense.