Previous slide
Next slide

Política internacional

2024: o ano dos golpes de Estado 

A investida imperialista contra os países oprimidos, e até nas principais nações capitalistas como França e Inglaterra, marcou o ano de 2024

A crise do imperialismo mundial se torna cada vez maior. As potências que controlam o mundo não conseguem mais aceitar nenhum país que tenha independência política, mesmo que parcial. A fraqueza do imperialismo o torna como um leão velho, violento e agressivo. Isso resulta na política de golpes de Estado, que nem sempre funcionam. O ano de 2024 foi repleto de golpes imperialistas em todos os continentes. Por isso este Diário compilou uma retrospectiva dos mais importantes golpes e tentativas de golpe no ano.

Paquistão

As eleições gerais no Paquistão, realizadas em fevereiro, foram o aprofundamento do golpe de Estado de 2022 que derrubou o primeiro-ministro Imram Khan. Com uma Assembleia Nacional composta por 336 cadeiras, sendo necessárias 169 para a maioria, o pleito ocorreu em meio a uma grave perseguição ao partido de Khan, o PTI, que foi removido das eleições pela Suprema Corte.

O regime ditatorial paquistanês não poupou esforços para sabotar a eleição em locais estratégicos como Carachi, maior cidade do país e um dos principais centros operários, onde a votação foi atrasada e caótica. Além disso, a violência marcou o dia, com pelo menos 12 mortos e 39 feridos em ataques armados.

Apesar disso, candidatos independentes associados ao PTI lideravam em várias regiões, e Omar Ayub Khan, organizador do partido, afirmou que poderiam formar um governo com maioria de dois terços.

No fim, um novo governo de direita se formou com uma união da antiga direita em aliança com os setores mais pró-imperialistas do país e obviamente os militares. Imran Khan segue sendo um dos mais importantes presos políticos do mundo.

Macedônia

Na Macedônia, o imperialismo inglês tentou organizar um golpe de Estado após a vitória do partido opositor a OTAN VMRO-DPENE nas eleições da Macedônia em 8 de maio. A operação de mudança de regime foi conduzida pelos britânicos, com o agente do MI6, Charles Garret, provocando instabilidade enquanto coordenava a oposição. Garret formou alianças com um promotor, que usou escutas telefônicas ilegais e manipuladas para incriminar figuras públicas macedônias. Foi uma espécie de Operação Lava Jato.

A Macedônia foi incorporada à OTAN em março de 2020. No entanto a população reconhece a OTAN como a entidade que destruiu a Iugoslávia, cuja Macedônia era parte, na década de 1990. Além disso, os britânicos estão trabalhando secretamente com a OTAN na Sérvia, onde 80% da população se opõe à adesão. A tentativa golpista, no entanto, foi um fracasso total o por isso muito pouco se falou na imprensa sobre a Macedônia.

África do Sul

Após as eleições na África do Sul em maio, o Congresso Nacional Africano (CNA), perdeu pela primeira vez a maioria absoluta desde o fim do apartheid. A maioria da população votou pelo nacionalista CNA ou por partidos ainnda mais a esquerda, o MK ou o EFF, ambos a favor de uma radical reforma agrária que retire as terras do controle dos latifundiários brancos. O que fez o governo do CNA? Se aliou ao antigo partido do apartheid!

A maioria da população votou ou pelo nacionalismo ou na esquerda radical, o governo que assumiu foi do apartheid imperialista. Esse foi o primeiro de diversos golpes de Estado eleitorais que aconteceram durante o ano de 2024.

Venezuela

A campanha golpista contra a Venezuela foi uma das maiores da história. Em julho, logo após as eleições em que o presidente Nicolás Maduro foi vitorioso, se iniciaram as violentas manifestações de rua golpistas, as famosas guarimbas. A oposição não reconheceu o resultado das eleições, os governos dos EUA e da União Europeia fizeram o mesmo. O governo Lula, vergonhosamente, tomou uma posição semelhante.

O governo dos EUA chegou ao absurdo de reconhecer Edmundo Gonzalez, o candidato fascista que liderou a oposição, como o presidente eleito mesmo sem nenhuma evidência de sua vitória. Prova maior de que tentativa de golpe impossível. O próprio governo dos EUA estava apoiando a oposição para derrubar Maduro. Mas o governo bolivariano estava preparado e conseguiu conter com relativa facilidade as manifestações golpistas.

França

Macron, apesar de ser repudiado pela maioria dos franceses, conseguiu uma grande proeza em 2024, realizou o maior golpe eleitoral do ano. Após as eleições para o Parlamento Europeu ficou claro que o governo Macron estava esgotado e que a extrema direita estava mais forte de que nunca. Macron então chamou eleições súbitas, os resultados foram absurdos.

O partido que recebeu mais votos foi o de Le Pen (extrema direita), ele ficou em terceiro lugar em número de cadeiras. A esquerda se unificou na Nova Frente Popular, foram os segundos mais votados e tiveram o maior número de cadeiras. O partido de Macron foi o terceiro mais votado e ainda assim ficou com o segundo maior número de cadeiras.

Mas o golpe não parou por aí. Depois de conseguir diminuir a força da extrema direita, Macron então deu o golpe na esquerda. O maior número de cadeiras foi para a esquerda e ainda assim Macron indicou um ministro aliado seu. No fim, o grande perdedor das eleições ficou com o governo!

A crise foi grande e esse governo caiu em poucos meses, ainda assim Macron continua manobrando para manter seu partido no poder no Parlamento francês.

Inglaterra

Na Inglaterra as eleições foram a consumação de um golpe que havia sido preparado com anos de antecedência. Em julho, aconteceram as eleições gerais. A grande diferença no número de votos foi o da extrema direita, cresceram em mais de 3 milhões. Com isso conquistaram mais 5 parlamentares. Já o Partido Trabalhista perdeu um milhão de votos, ainda assim conquistaram mais 211 cadeiras!

O golpe foi justamente a preparação dos trabalhadores para governar. Já estava claro que os conservadores seriam varridos do mapa nas eleições. Assim o imperialismo inglês realizou um expurgo no Partido Trabalhista, expulsou Corbyn e toda a ala esquerda do partido. Colocou um agente do MI-6 na sua direção, ele agora é primeiro ministro.

Resultado, o povo votou pela esquerda, quem assumiu foi um membro da inteligência inglesa totalmente a favor da OTAN. Mais um golpe eleitoral de enorme sucesso.

Geórgia

Em novembro, o partido Sonho Georgiano, atualmente no poder, venceu as eleições gerais na Geórgia com 54,08% dos votos, garantindo 89 das 150 cadeiras do parlamento. No entanto, a oposição pró-imperialista, incluindo a presidente Salome Zourabichvili, rejeitou o resultado, alegando fraude eleitoral e tentando associar a vitória a uma “operação especial russa”, sem apresentar provas. Zourabichvili, convocou protestos e afirmou que o governo do Sonho Georgiano estaria comprometendo o “futuro europeu” da Geórgia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, que pediram investigações sobre supostas irregularidades.

A oposição tenta deslegitimar o processo eleitoral e incitar uma revolução colorida, com apoio de figuras como o ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que acusou o governo de Tbilisi de ser “fantoche de Putin”. Contudo, o líder do parlamento georgiano, Shalva Papuashvili denunciou a tentativa de golpe de Estado. A tentativa de golpe na Georgia é uma das mais violentas do imperialismo, ela já acontece há anos e recebeu bilhões de dólares de financiamento por meio das ONGs. Até o fim do ano os protestos golpistas foram incapazes de derrubar o governo.

Bangladexe

No dia 5 de agosto, após intensos protestos financiados por ONGs, a primeira-ministra de Bangladexe, Xeique Hasina, renunciou ao cargo e fugiu para a Índia. Os protestos foram desencadeados pela promulgação de uma lei que alocava cotas no serviço civil para descendentes de combatentes da guerra de independência. A renúncia de Hasina resultou na tomada de poder pela junta militar, que nomeou Muhammad Yunus, banqueiro e fundador do Banco Grameen, como primeiro-ministro interino. Yunus, conhecido por seu trabalho com microcréditos.

Muhammad Yunus, laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2006, é amplamente reconhecido por sua política de microempréstimos. Ele é mais um homem de confiança do mercado financeiro imposto em Bangladexe por meio de um golpe de Estado. Esse golpe se soma ao golpe do Paquistão, são dois países com muitos laços, inclusive foram o mesmo país por décadas.

Romênia

Em dezembro, a Justiça da Romênia anulou o primeiro turno das eleições presidenciais de 24 de novembro, alegando interferência russa e irregularidades no processo eleitoral. A decisão, tomada pelo Tribunal Superior, foi mais um golpe de Estado em um país que tende a se rebelar contra a OTAN. A anulação foi impulsionada pela liderança inesperada de Calin Georgescu, um candidato que, identificado como “extrema direita e pró-Rússia” que obteve votos suficientes para avançar ao segundo turno, enfrentando Elena Lasconi, ligada ao imperialismo.

As alegações de interferência russa, amplificadas pelo governo dos EUA e seus aliados imperialistas, apontam para uma suposta manipulação das redes sociais e ataques cibernéticos, com o intuito de favorecer Georgescu. O governo romeno, por sua vez, defendeu a anulação, citando documentos de inteligência que indicam ações russas agressivas, mas sem detalhar como Moscou teria superado o imperialismo. Posteriormente o parlamento formou um governo unificado a direita e a esquerda falidos contra o partido vencedor das eleições.

Coreia do Sul

Em dezembro, o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol declarou a imposição de uma lei marcial no país, alegando a necessidade de proteger a nação das forças comunistas da Coreia do Norte e manter a “ordem constitucional liberal”. A medida, que é a primeira desde 1979, após o assassinato do ditador Park Chung Hee, foi tomada em meio a uma crise interna, com Yoon enfrentando baixos índices de aprovação devido a escândalos envolvendo seu governo.

A oposição, liderada pelo Partido Democrático, condenou a declaração como inconstitucional e a classificou como um golpe de Estado, convocando manifestações e esforços para reverter a medida.

No fim, a tentativa de golpe falhou e o presidente foi derrubado pelo parlamento. Mas o caso ainda é sintomático para mostrar que as crises políticas se encaminham cada vez mais para serem resolvidas com base no golpe de Estado.

Síria

O mais impactante dos golpes de 2024 foi o da Síria em dezembro. Em meio a uma série de derrotas do imperialismo no Oriente Médio desde outubro de 2023, a queda de Assad na Síria surpreendeu o mundo. Os mercenários financiados pelos EUA, o HTS (antiga Al-Qaeda na Síria), iniciaram uma ofensiva logo após a derrota de “Israel” no Líbano no fim de novembro. A força da ofensiva mostrou a fraqueza do governo Assad e deu início à operação golpista.

Os generais traíram o governo Assad e assim os mercenários conseguiram marchar de Alepo até Damasco em poucos dias derrubando o governo que havia resistido ao golpe por 13 anos. A falência política do nacionalismo de Assad junto a destruição do país pelas sanções, pela guerra e pela ocupação de parte do território pelas tropas dos EUA foi o que possibilitou o golpe.

Esse foi o principal golpe de Estado do imperialismo no ano no quesito político. Foi a sua principal vitória por derrubar um governo do chamado “Eixo do Mal”. No entanto, ele foi um golpe improvisado, usou elementos que o imperialismo tem pouco controle como a Al-Qaeda. Como em outros casos, a vitória do golpe não gerou estabilidade para a política imperialista.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.