Há 42 anos, uma bomba explodia em Beirute, capital do Líbano. Com o país sendo palco de uma guerra entre o nacionalismo árabe de um lado e forças ligadas ao sionismo (e, consequentemente, ao imperialismo) do outro, nada mais ordinário do que uma bomba explodir. Mas naquela manhã de 14 de setembro, o alvo era o presidente eleito do Líbano, Bashir Gemayel.
Bashir tinha sido eleito presidente pouco mais de um mês antes, em agosto de 1982, com o apoio decisivo de “Israel” e das potências imperialistas. No contexto da Guerra Civil Libanesa, seu assassinato não foi um ato isolado, mas parte de uma rede de violência que sacudia o país. Às 16h10 daquele dia, uma bomba devastadora explodiu no escritório central do Partido Kataeb, onde Bashir se reunia com vários de seus aliados. A explosão foi calculada para matar não apenas o líder falangista, mas também desestabilizar o regime que ele tentava consolidar com o apoio sionista.
As Forças Libanesas, braço armado da Falange, estavam em plena coordenação com as tropas de “Israel”, que haviam invadido o Líbano naquele ano com o pretexto de expulsar a OLP de Beirute. Mas a invasão era, na verdade, parte de uma estratégia mais ampla para submeter o país aos interesses imperialistas na região, utilizando Bashir como peça-chave para isso.
No dia 16 de setembro, dois dias após o assassinato de Bashir, os falangistas, com total apoio e coordenação das tropas de “Israel”, invadiram os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, situados nos arredores de Beirute. O ataque, que inicialmente parecia ser uma simples ação de retaliação pelo assassinato de seu líder, rapidamente se transformou em um dos mais monstruosos massacres da história recente do Oriente Médio.
Os campos de Sabra e Chatila eram povoados por civis palestinos desarmados e desde o final de agosto, com a decisão da OLP de deixar o Líbano, desprotegidos. Muitos eram refugiados que haviam fugido das ocupações e agressões promovidas pelo sionismo nos territórios palestinos.
Sob a proteção das forças sionistas, as milícias falangistas invadiram os campos e, ao longo de três dias, perpetraram uma carnificina impiedosa. Oficialmente, as estimativas apontam que pelo menos 800 pessoas foram brutalmente assassinadas, embora testemunhas e investigações subsequentes afirmem que o número pode ter ultrapassado os 3.500 mortos, mulheres, crianças e idosos inclusos, ninguém foi poupado.
O massacre foi um ato planejado de genocídio, realizado com o total conhecimento e colaboração de “Israel”, cujas forças mantinham os campos cercados, impedindo que qualquer fuga ou socorro acontecesse. A primeira parte do plano havia sido completar o assassinato de Bashir e, em seguida, lançar uma onda de terror que eliminasse qualquer possibilidade de resistência palestina no Líbano.
O massacre de Sabra e Chatila revelou ao mundo a verdadeira face das alianças entre as milícias falangistas libanesas e os sionistas. A violência imposta às famílias palestinas desarmadas deixou claro que o objetivo final era o extermínio de qualquer presença que resistisse à colonização sionista e à dominação imperialista.
Bashir Gemayel não chegou à presidência do Líbano como resultado de uma escolha popular livre ou democrática. Sua ascensão foi pavimentada por anos de guerra civil, apoio estrangeiro e a brutalidade de seu partido, o Kataeb, mais conhecido como Falange Libanesa. O Partido Kataeb foi fundado em 1936 por Pierre Gemayel, pai de Bashir, e sua origem está profundamente enraizada nas ideologias fascistas e nazistas da época.
Pierre Gemayel foi um jogador de futebol que participou dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936, onde foi exposto ao regime nazista de Adolf Hitler e ao fascismo de Benito Mussolini. Encantado pela disciplina militarista e pelo nacionalismo agressivo que observou na Alemanha nazista, Pierre voltou ao Líbano decidido a criar uma organização semelhante. Assim nasceu a Falange, nomeada em homenagem às Falanges Espanholas de Franco, um dos maiores símbolos do fascismo europeu.
A Falange de Pierre Gemayel adotou muitas das características dos movimentos fascistas europeus, incluindo a defesa de uma nação libanesa cristã, regida por uma classe dominante autoritária que via os muçulmanos e os palestinos como inimigos internos. Durante a Guerra Civil Libanesa, o partido ganhou força por meio da aliança com os imperialistas e, mais tarde, com “Israel”. As Forças Libanesas, braço armado da Falange, tornaram-se uma das milícias mais poderosas do conflito, desempenhando um papel crucial na luta contra os palestinos e seus aliados.
A colaboração entre os falangistas e “Israel” não foi meramente tática, mas uma aliança de longo prazo, baseada em interesses compartilhados de dominação sobre o Líbano. Bashir, como líder das Forças Libanesas, fortaleceu essa relação ao aceitar o apoio militar e logístico sionista para sua campanha de terror contra os palestinos e seus aliados muçulmanos. “Israel” via em Bashir uma oportunidade de instalar um governo submisso aos seus interesses, enquanto as Falanges enxergavam na aliança com os sionistas a chance de consolidar o poder dos cristãos maronitas sobre as demais facções no Líbano.
A eleição de Bashir em 1982 foi um marco da interferência estrangeira no Líbano, com a presença direta de tropas sionistas no país e a manipulação dos processos políticos em favor de seus interesses. A presidência de Bashir representava não apenas a submissão do país árabe aos interesses imperialistas, mas também a consolidação de um regime fascista inspirado nas piores tradições do nazismo e do fascismo europeu.
A morte de Bashir, entretanto, não interrompeu os planos de “Israel” e da Falange. A violência continuou a devastar o Líbano por anos, com os falangistas mantendo sua colaboração estreita com o imperialismo e o sionismo.