Carlos Lyra, nascido em 11 de maio de 1933, no Rio de Janeiro, deixou um grande legado na música brasileira como cantor, compositor e violonista. Sua trajetória artística não só ajudou a definir a Bossa Nova, mas também refletiu o ativismo cultural e político de sua época.
Carlos Lyra não foi apenas um dos pioneiros da Bossa Nova, mas também um dissidente dentro dela. Em 1960, o compositor rompeu com a tendência até então predominante de temas despolitizados e muitas vezes superficiais da Bossa Nova, passando a criar canções de caráter político.
Lyra pode ser considerado um representante da vertente mais progressista da Bossa Nova. Seu papel foi fundamental na transição da música popular brasileira para um movimento de protesto, que se consolidaria nos anos 60. Desde tenra idade, a música fazia parte da vida de Lyra. Seu contato inicial com um piano de brinquedo aos sete anos e seu posterior aprendizado do violão durante um período de repouso por conta de um acidente foram os prelúdios de uma carreira que influenciaria gerações.
Lyra foi uma figura essencial na primeira geração da Bossa Nova, colaborando com artistas renomados como Vinícius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto. Sua parceria com Ronaldo Bôscoli resultou em composições icônicas como Maria Ninguém, Minha Namorada e Lobo Bobo, gravadas por grandes nomes da música brasileira. Em 1961, escreve, com Chico de Assis, a Canção do subdesenvolvido, uma crítica à dominação imperialista no Brasil. Essa música é considerada, por alguns, como um precursor da canção de protesto na MPB.
Além de suas contribuições para a Bossa Nova, Lyra também foi um ativista cultural. Fundou, juntamente com outros artistas engajados, o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC-UNE), defendendo uma abordagem progressista na música brasileira. Sua afiliação ao Partido Comunista Brasileiro e seu papel na divulgação de compositores populares como Zé Keti e Cartola demonstram, também, seu compromisso com a expressão artística como ferramenta de luta política.
Após o golpe militar de 1964, Lyra partiu para o exílio, retornando apenas em 1971. Sua carreira continuou viva, expandindo-se para além das fronteiras brasileiras. Viveu no México por alguns anos, onde realizou concertos memoráveis e colaborou com artistas locais. O retorno ao Brasil marcou uma nova fase em sua vida pessoal, com o casamento com Kate Lyra e o nascimento de sua filha, Kay Lyra. Ao longo das décadas seguintes, Lyra continuou a se apresentar, a gravar e a inovar, mantendo-se relevante e respeitado no cenário musical brasileiro.
Seu falecimento, em 16 de dezembro de 2023, deixou uma lacuna na música brasileira, mas seu legado perdurará por gerações. Carlos Lyra não apenas deixou um tesouro repleto de composições, mas também uma marca na história cultural do Brasil.