A Segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902) foi um dos grandes conflitos nas colônias inglesas. Duas repúblicas bôeres independentes no sul da África: o Transvaal (República Sul-Africana) e o Estado Livre de Orange. Foi um momento importante para a peculiar conquista da independência da África do Sul. Apesar das contradições, o fato do país ser o mais rico da África subsaariana e estar nos BRICS agora mostra que essas lutas foram um progresso.
Os bôeres, descendentes de colonos holandeses, franceses protestantes e alemães, haviam estabelecido essas repúblicas no interior da África do Sul após o “Grande Trek” no início do século XIX, um movimento de migração criado por confronto com os novos colonizadores britânicos na Cidade do Cabo. Eles fundaram o Transvaal e o Estado Livre de Orange, onde criaram uma sociedade agrícola.
A descoberta de ouro em Witwatersrand (1886), no Transvaal, iniciou uma nova investida do Império Britânico. Os ingleses conhecidos como “uitlanders” começaram a disputar a região. Esses imigrantes começaram a pressionar o governo do Transvaal por mais direitos políticos, a Inglaterra os utilizou para avançar seu domínio econômico.
O governo britânico, liderado pelo secretário colonial Joseph Chamberlain e pelo governador da Colônia do Cabo, Alfred Milner, usou o tratamento desigual que sofriam “uitlanders” como justificativa para intensificar a pressão sobre os bôeres. Milner insistiu que os uitlanders deveriam ter o direito de votar, o que foi negado pelo presidente do Transvaal, Paul Kruger.
As negociações fracassaram, e em 9 de outubro de 1899, Kruger emitiu um ultimato exigindo que as forças britânicas se retirassem das fronteiras do Transvaal. Quando o ultimato foi rejeitado, os bôeres atacaram, marcando o início da guerra em 11 de outubro de 1899.
A guerra pode ser dividida em três fases principais: vitórias iniciais dos bôeres (1899-1900), no início do conflito, os bôeres, com seu conhecimento do terreno e habilidade com guerrilhas, conseguiram vitórias impressionantes. Cercaram as cidades britânicas de Ladysmith, Mafeking e Kimberley, e em várias batalhas, como as de Magersfontein e Spion Kop, derrotaram as forças britânicas. Suas táticas de guerrilha e uso da mobilidade em cavalos foram uma enorme dificuldade para o exército britânico, que estava mais acostumado a guerras convencionais.
A segunda etapa foi a contraofensiva britânica (1900), após uma série de derrotas iniciais, os britânicos reorganizaram suas forças sob o comando do marechal Lord Roberts e Lord Kitchener. Em 1900, as tropas britânicas capturaram as principais cidades bôeres, incluindo Bloemfontein (capital do Estado Livre de Orange) e Pretória (capital do Transvaal). No final daquele ano, o governo bôer entrou em colapso, mas a guerra estava longe de terminar.
A terceira etapa foi a guerra de guerrilhas(1900-1902), mesmo com a ocupação das cidades, os bôeres não se renderam e passaram a adotar táticas de guerrilha, atacando de forma rápida e inesperada colunas britânicas e se escondendo no interior. Para combater essa resistência, os britânicos usaram a violência brutal. Adotaram a tática da “terra arrasada”, que consistia em destruir fazendas, plantações e infraestruturas dos bôeres, além de prender mulheres, crianças e idosos em campos de concentração. Nesses campos foram assassinados cerca de 26.000 civis bôeres, a maioria mulheres e crianças.
Em 31 de maio de 1902, foi assinado o Tratado de Vereeniging, que encerrou a guerra. Pelo tratado, os bôeres reconheceram a soberania britânica, mas obtiveram concessões, como a promessa de autogoverno no futuro e a isenção de impostos sobre fazendas destruídas.
Com o fim da guerra, as repúblicas do Transvaal e do Estado Livre de Orange foram incorporadas ao Império Britânico. A região foi unificada em 1910, quando foi criada a União Sul-Africana. O caso é muito interessante e remete a guerra da independência dos EUA mais de um século antes. Neste caso, no entanto, a população branca era muito minoritária e o imperialismo britânico já era muito mais forte para tomar o controle.