António Pereira de Sousa Caldas, nascido em 1763, no seio de uma família portuguesa estabelecida no Rio de Janeiro, teve sua vida marcada por uma notável trajetória entre letras e convicções que desafiaram as normas de sua época.
Uma pessoa de saúde frágil, desde cedo Sousa Caldas demonstrou aptidão para as letras. Aos oito anos, foi enviado a Lisboa para viver sob os cuidados de um tio, iniciando assim uma jornada que o levaria a matricular-se, aos dezesseis anos, no curso de matemática da Universidade de Coimbra. Contudo, suas ideias francesas lhe renderam problemas com o Santo Ofício, resultando em sua prisão e condenação por heresia em 1781.
Apesar de uma tentativa de catequização, Sousa Caldas manteve seu pensamento crítico. Em 1784, compôs a “Ode ao Homem Selvagem,” influenciada por Jean-Jacques Rousseau, e em 1785 foi provavelmente o autor de “O Reino da Estupidez,” afastando-se da ortodoxia católica.
Após obter o bacharelado em Cânones, Sousa Caldas empreendeu uma viagem à França, recomendado ao segundo marquês de Pombal. Seus estudos jurídicos foram concluídos em 1789, e uma jornada pela Itália culminou em sua ordenação sacerdotal em Roma, no ano seguinte.
A partir de sua ordenação, Sousa Caldas abandonou a poesia profana, destacando-se como orador sacro e poeta com inclinação filosófica e religiosa. Sua mudança para o Rio de Janeiro, em 1801, marcou o início de uma fase estável em sua vida.
Entre 1810 e 1812, Sousa Caldas escreveu uma série de cartas abordando temas como a liberdade de opinião, revelando a coexistência de sua fé religiosa com o desejo de liberdade de pensamento.
Faleceu aos 51 anos, em 1814, sem ter ocupado cargos oficiais. Suas obras, publicadas postumamente, incluem “Ode ao Homem Selvagem,” “A Criação” e “Poesias Sacras e Profanas”, revelando seu talento literário e sua versatilidade.
O legado de António Pereira de Sousa Caldas é preservado em suas obras, que continuam a ser estudadas e apreciadas, proporcionando um vislumbre único da mente de um homem que desafiou as convenções de sua época em busca da expressão autêntica para suas ideias e crenças.