O líder do Hamas na faixa de Gaza, Yahya Sinouar, negociou cada ponto do acordo da trégua, iniciada na sexta-feira, 24 de novembro, bem como da libertação dos reféns israelenses pelos prisioneiros palestinos, buscando levar vantagem para seu povo. O líder palestino do Hamas na faixa de Gaza, dita o tempo e puxa as rédeas quando percebe que Israel não valoriza suas condições de negociação. Considerado “um homem morto” por Israel, Sinouar continua vivo depois de cinquenta dias do conflito e ainda consegue novas vitórias políticas. “Nós encontraremos Sinouar e o eliminaremos!” prometeu o ministro da defesa israelense, Yoav Gallant, em 4 de novembro. Depois de bombardear e varrer a parte norte da Faixa de Gaza, Israel suspeita que Yahya Sinouar, junto com seu irmão Mohammed Sinouar, responsável pelo Hamas em Khan Younnes, assim como Mohammed Deif, chefe do braço militar do movimento, encontram-se nos túneis e instalações subterrâneas do sul de Gaza, de onde os três são originários.
Com a libertação de reféns a conta-gotas, o Hamas continua a guerra contra o colonizador, Israel, no campo psicológico. Quatorze israelenses e três tailandeses foram soltos no domingo passado em troca de trinta e nove prisioneiros palestinos. Como ainda restam 180 reféns na Faixa de Gaza, Israel será obrigado a prolongar a trégua. Sinouar conhece bem a psicologia dos israelenses, suas fraquezas e divisões internas. Sabe também que, diante de um inimigo poderoso e bem armado como Israel, seu pequeno exército precisa utilizar meios e armas diferentes, como é o caso dos sequestros de reféns.
A estratégia bem sucedida de Yahya trouxe ainda um bônus para o Hamas: aumentou a confiança dos palestinos na organização, consagrada como aquela que conseguiu libertar os prisioneiros palestinos.
O próprio Sinouar, depois de 22 anos preso em Israel, foi liberto em 2011, junto com mais 1026 prisioneiros palestinos, trocados então pelo soldado franco israelense Shalit, preso pelo Hamas em 2006. Sinouard foi solto pelo próprio Benjamin Netanyahu, então já primeiro-ministro de Israel.
Quem é Yahya Sinouar: filho de Kahn Younnes.
Nascido em Kahn Younnes, o mais miserável campo de refugiados de Gaza, Yahya Sinouar, tornou-se, em 2017, chefe do Hamas em Gaza. Sinouar passou 22, dos seus 61 anos, nas masmorras do regime de apartheid de Israel.
Yahya Sinouar é descendente de uma família palestina, que como tantas outras, tiveram que fugir dos ferozes ataques das milícias fascistas israelitas, logo após a criação do Estado de Israel, em 1948, evento conhecido como “O Grande Êxodo” ou a “Nakba”, “A Grande Catástrofe”. Em 1948, Gaza ainda era um território controlado pelo Egito, tomado por Israel durante a Guerra de 1967.
Anos 80
Durante os anos 1980, Sinouard tornou-se estudante e militante islâmico. Sob a influência da organização egípcia Irmandade Muçulmana e da Revolução Islâmica que triunfou no Irã, em 1979, o Islã político se instala em Gaza. Nesse período Yahya Sinouar estuda literatura árabe na universidade islâmica e milita no seio do “Moujamaa Al-Islami” (o “centro islâmico”). Esta associação foi fundada por Ahmed Yassine, um sheik tetraplégico e carismático, também refugiado em Gaza após a Nakba de 1948. O jovem Sinouard é preso duas vezes pelas forças opressoras de Israel, em 1982 e 1985, acusado de exercer “atividades subversivas”.
1987
O dia 9 de dezembro de 1987, durante a Primeira Intifada, que começa em Gaza, em Kahn Younnes, o território palestino se convulsiona, se incendeia. Durante a revolta palestina, o sheik Yassine cria o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica). Na mesma época, Yahya Sinouar participa da fundação da milícia Al Majd, a qual tem como uma de suas tarefas eliminar os palestinos que colaboravam com a ocupação israelense. Esta milícia se tornará o serviço de segurança e depois o braço armado do Hamas. Sua ação valeu a Sinouard a alcunha de “o açougueiro de Kahn Younnes”.
Prisão
Israel prendeu Sinouard em 1989, condenando-o a quatro penas de prisão perpétua, por sublevação e a morte de dois soldados israelenses, bem como de quatro colaboradores palestinos. Em colaboração com a direção do Hamas no exterior, Sinouar negociou sua própria libertação em 18 de outubro de 2011. Um de seus carcereiros propôs que Sinouar assinasse uma carta se comprometendo a não mais atuar contra Israel e pela libertação da Palestina. Sinouard disse que preferia ficar preso a assinar tal documento, que, em si, não teria grande valor.