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Eleições na Argentina

Vitória de Milei mostra tendência reacionária na América Latina

Imperialismo tentará impor um governo mais à direita do que qualquer outro na América Latina

Na noite desse domingo (19), Javir Milei (coalizão La Libertad Avanza), candidato neoliberal argentino, venceu o 2º turno das eleições presidenciais derrotando o representante peronista Sergio Massa (Unión por la Patria).

Antes mesmo do fim da apuração dos votos, Massa reconheceu a sua derrota, ligando para Milie para parabenizá-lo. A posse do presidente eleito será em 10 de dezembro, sucedendo Alberto Fernández, o atual mandatário argentino.

Com 99,28% das urnas apuradas, o direitista estava com 55,69% dos votos válidos contra 44,30% do atual ministro da economia da Argentina, uma derrota acachapante. A vitória de Milei poderia até ser maior se não fosse por setores que votaram em Massa como um voto contra Milei – ou seja, só não foi maior pelo medo que uma parcela da população tem de Milei.

A diferença entre a votação de ambos os candidatos é um primeiro dado importante no que diz respeito ao que o resultado eleitoral significa, pois mostra que existe uma determinação de setores importantes da burguesia argentina, setores principalmente ligados ao imperialismo, de impor uma nova política no país latino-americano e, consequentemente, em toda a região.

Quais são as características exatas dessa nova política é uma pergunta que só terá resposta com o desenrolar de seu governo. Mas fato é que Milei se apresenta não apenas como um ultraneoliberal, mas como um governo repressivo. Em seu pronunciamento após sua vitória, ele afirmou, assim como fez em outros momentos, que vai reprimir os piquetes, ou seja, o movimento popular que se opõe à sua política de fome.

Mais do que isso, é preciso considerar o aparecimento do governo Milei no marco da situação política internacional, que é o marco de uma investida do imperialismo no sentido de um golpe de Estado.

Surge, portanto, mais uma pergunta: os governos eleitos com esse proposito na América do Sul e na América Latina, de um modo geral, conseguirão concretizar esse golpe? No caso de Milei, essa preocupação fica clara, afinal, o que ele propõe é fazer uma reformulação completa das relações econômicas e políticas da Argentina.

Alguns jornais argentinos, como o Página 12, afirmam que Milei vem para romper o “consenso” que existe no país nos últimos anos. Jogando a linguagem rebuscada da imprensa burguesa no lixo, o que a publicação quer dizer é que, nos últimos 40 anos, há um acordo da burguesia de manter um certo padrão de “democracia” – levando em conta todas as limitações que esse tipo de modelo político possui, tratando-se de um país atrasado. Milei viria, portanto, para tentar subverter isso.

Se ele conseguir fazer isso – algo que, definitivamente, é um de seus principais objetivos -, terá sucedido em seu golpe de Estado.

Do outro lado, podemos observar o posicionamento da esquerda argentina. O peronismo, até o momento, não falou nada concreto sobre sua derrota, está atordoado pela diferença gritante dos resultados. Ao mesmo tempo, a esquerda que se diz revolucionária não tem consciência do que vem pela frente. Eles afirmam que o governo Milei é um governo direitista, que é preciso resistir etc., mas não colocam em questão o estabelecimento de um novo regime político na Argentina proveniente de um golpe.

A vitória de Milei, inclusive, reflete que se trata de uma esquerda completamente desorientada, pois, se houvesse uma campanha política maior, ele teria menos votos e poderia até mesmo ser derrotado – não fosse, ao lado dessa desmobilização, a popularidade baixíssima do governo Fernández e do próprio Massa.

É importante, também, situar esse novo governo na progressão da situação política principalmente na América do Sul. As pessoas, principalmente da esquerda, afirmam que Milei é uma espécie de Bolsonaro, mas ele não cumpre o mesmo papel. Quem cumpriu esse papel foi Macri, um governo que surgiu depois do enfrentamento da burguesia argentina, do imperialismo com a ala esquerda do peronismo. Milei é uma nova investida.

Macri fracassou, o peronismo voltou e, agora, aparece Milei. Trata-se de um governo muito mais agressivo que Bolsonaro e, por isso, marca uma evolução política mais agressiva do imperialismo na América Latina.

Entretanto, é preciso considerar em que medida o imperialismo vai conseguir generalizar essa ofensiva – algo que parece ser o aspecto decisivo do balanço da eleição. Do ponto de vista político, embora o imperialismo tenha tido várias crises – no Brasil, Lula; na Argentina, o peronismo -, ele continua evoluindo.

Milei, sendo um governo Macri muito mais agressivo, representa a política do imperialismo para os países oprimidos no geral: é preciso esfolar a população profundamente, algo que Milei definitivamente tentará fazer.

Isso mostra, inclusive, a inviabilidade, do ponto de vista do imperialismo, da política neoliberal “moderada” dos governos nacionalistas. Não existe mais aquele espaço entre o governo que não é nem abertamente neoliberal, nem um governo que trava uma luta dura contra o imperialismo. Ou é Milei, ou são formas mais radicais de nacionalismo.

Além disso, essa ofensiva redobrada por parte do imperialismo vem, também, sob a base do fracasso total e completo da política peronista, uma política de meias medidas, uma no cravo e outra na ferradura. Política que, neste momento, é a mesma de Lula. As eleições argentinas mostram que é uma política desastrosa, uma tentativa no mínimo ingênua de manter a situação política no centro quando a situação está altamente polarizada. 

Ou seja, se o governo Lula fracassar e não conseguir sair do que ele está fazendo atualmente, é muito provável que tenhamos um Milei no Brasil também. E não será um governo qualquer porque os partidos mais tradicionais, como o PSDB, estão todos liquidados. Será um governo bem mais agressivo do que todos os outros que já passaram pelo País.

No fim, permanece a pergunta: o imperialismo será bem-sucedido? Do ponto de vista das forças políticas argentinas, Milei possui a faca e o queijo na mão, pois ninguém sabe o que está acontecendo, ninguém tem uma política clara para enfrentá-lo. Até porque, quando a situação está assim, é preciso soar os alarmes, falar em golpe de Estado, falar que a população está em perigo, que as liberdades democráticas estão em perigo. Mas a esquerda não faz nem perto disso.

Por conta disso, é preciso observar qual a capacidade da classe operária argentina de resistir ao ataque que vem pela frente. Se ela enfrentar o governo e quebrar essa ofensiva, o imperialismo sofrerá uma derrota importante – o que não quer dizer que, mais para frente, ele não voltará.

Até lá, essa gangorra política, essa troca entre um governo nacionalista esquerdista moderado e um governo bem mais à direita vai continuar, até que a própria população acabe com isso e avance em sua luta contra o imperialismo.

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