Continuamos, no presente artigo, a série Diário de Cuba com Eduardo Vasco, correspondente do Diário Causa Operária em Cuba. Nesta entrevista, Vasco explica aos leitores como funciona a polícia cubana, a qual ele descreve como “guardinhas de desenho animado”, e não “os ‘robocops’ que temos nas polícias brasileiras”.
Além disso, o editor do DCO fala sobre Guantánamo, roubada de Cuba pelos Estados Unidos, e sobre o Primeiro de Maio deste ano, que contou com delegações de todo o País.
Confira a entrevista logo abaixo:
Diário Causa Operária: Como funciona a polícia em Cuba?
Eduardo Vasco: Os policiais em Cuba são todos garotos jovens. É muito curioso, porque são muito diferentes dos brucutus que vemos no Brasil. Os policiais cubanos não são treinados para massacrar o povo, ao contrário do Brasil. Andam geralmente apenas com um cassetete e sem nenhum tipo de proteção. Eles são do bairro, conhecem os moradores. Vi um transeunte cumprimentar um policial como se fosse amigo de longa data e inclusive vi uma moça paquerando um policial. Eles se parecem mais com guardinhas de desenho animado do que com os “robocops” que temos nas polícias brasileiras.
DCO: Durante a pandemia, os EUA tentaram provocar uma revolução colorida na ilha, mas fracassaram pela mobilização dos cubanos. Como o povo se organiza e se mobiliza para defender a revolução?
Eduardo Vasco: A polícia chegou a apanhar de manifestantes golpistas. Um cidadão que entrevistei me disse que passaram na rua dele alguns golpistas no dia 11 de julho de 2021 chamando o povo a se revoltar contra a Revolução e, no final da rua, estavam parados os policiais. Mas os policiais não fizeram nada, então os golpistas viraram a esquina e foram para outro lugar. Inclusive ouvi leves críticas de que a polícia deveria estar melhor preparada para lidar com isso. Ela fez o seu trabalho sem reprimir como reprimem as policiais burguesas mundo afora. Mas quem realmente dissolver a tentativa golpista foi o povo, que saiu às ruas convocado por Díaz-Canel.
O povo se organiza por bairros pelos CDRs, ele seus representantes e os monitora. Há diversas organizações de massa, como o PCC, a UJC, a FEU, a FMC, os CDRs etc., e praticamente toda a população cubana está organizada nesses movimentos. Além disso, as armas estão disponíveis para que o povo possa usá-las caso necessário, e elas são de fácil acesso. São as organizações de base que irão distribuí-las quando aparecer a necessidade.
DCO: Você esteve no 1 de Maio Internacional em Cuba. Quem mais da esquerda brasileira participou e o que fizeram?
Eduardo Vasco: Havia bastante gente do PT, mas eram filiados e pessoas que vieram aqui de maneira avulsa. Vi uma bandeira do MST, da CTB, do PCB e de algumas outras organizações ligadas ao PCdoB. Mas também eram pessoas avulsas, que não vieram organizadas por seus partidos. A maioria da esquerda veio organizada pela brigada de solidariedade a Cuba.
DCO: Como os cubanos veem Guantánamo?
Eduardo Vasco: Guantánamo foi tirada de Cuba nos primeiros anos de 1900 a partir da Emenda Platt, uma medida do governo dos EUA para tornar Cuba um protetorado, logo depois da independência da Espanha. E os cubanos acham isso um absurdo. A recuperação de Guantánamo é uma das principais lutas do povo cubano.