O assunto que permeou os jornais da imprensa pró-imperialista de todo o país na semana passada foi a viagem do presidente Lula à China. Onde deixou claro que não está alinhado com o imperialismo e que está, pelo contrário, buscando uma política independente para o Brasil, nacionalista, voltada ao desenvolvimento do país e da melhoria das condições de vida dos trabalhadores brasileiros.
A contradição com o imperialismo fica clara com a condenação do FMI, órgão do imperialismo utilizado para asfixiar as economias dos países oprimidos, travando seu desenvolvimento. Lula também aproveitou para destacar a importância do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) aos países oprimidos contra a ditadura do imperialismo.
O caráter anti-imperialista de sua política externa ficou ainda mais claro quando condenou a ditadura dos EUA, que obriga todos os países do globo a comercializarem em dólar, apontando então para a necessidade de se criar alternativas entre os próprios países atrasados através do banco dos BRICS. Essa fala provocou reação imediata da grande imprensa, porta-voz dos interesses dos EUA no Brasil.
Conversas mais detalhadas sobre a questão da guerra na Ucrânia parecem ter ocorrido a portas fechadas, com Xi Jinping, o que não deu tanta munição para que a imprensa atacasse Lula o tanto como gostaria.
Na volta para o Brasil, Lula passou antes pelos Emirados Árabes Unidos, parando em Abu Dhabi, e reafirmou sua posição de que a Ucrânia também tinha responsabilidade pela guerra. Disse que “Zelenski não toma a iniciativa de parar”.
Em outras palavras, Lula novamente se opôs ao imperialismo, que, apesar de ter sido o artífice da guerra, joga toda a culpa da agressão imperialista na Rússia. No entanto, desta vez o presidente foi além, e complementou “A Europa e os Estados Unidos continuam contribuindo para a continuação desta guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles: ‘basta’”. Em outras palavras, condenou expressamente o imperialismo pela continuidade da guerra.
Ao retornar para o Brasil, o presidente recebeu Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores da Rússia, para o desespero do imperialismo e de seus lacaios aqui no Brasil (dentro os quais se encontram os principais jornais da imprensa burguesa: o Globo, o Estadão e a Folha de São Paulo).
O encontro se deu nessa segunda-feira, dia 17. O principal assunto discutido entre Lula e Lavrov foi a questão de um possível acordo de paz para dar fim à guerra na Ucrânia. O petista reiterou que “É preciso que os EUA parem de incentivar a guerra, e comece a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz”.
Lavrov, por sua vez, declarou que as visões do Brasil e da Rússia “são similares em relação aos acontecimentos” no mundo, e agradeceu à “contribuição do Brasil” para a solução da guerra.
A imprensa brasileira pró-imperialista, então, começou a desferir ataques. Colunas e editoriais pipocaram condenando o presidente Lula como peão de Putin e Xi Jinping, como aliado de autocratas e opositor da democracia ocidental.
Em Editorial publicado hoje (18), o Estadão, ao comentar sobre a visita de Lula à China e suas declarações a respeito do FMI e da desdolarização da economia mundial, disse que o mesmo “transformou o Brasil em sabujo dos interesses chineses só e exclusivamente para se distanciar dos Estados Unidos”.
Não há absolutamente nada de subserviência quando o Brasil se aproxima da China. É uma aliança entre países atrasados para se contrapor a uma força esmagadora e ditatorial que é o imperialismo. Tanto Brasil quanto China têm a ganhar. Não se trata simplesmente de “se distanciar dos Estados Unidos”, mas de se livrar da opressão imperialista que recai sobre o Brasil e impede o desenvolvimento do país.
O Editorial prossegue, dizendo que “No afã de parecer independente dos americanos, Lula esteve a um passo de alinhar o Brasil à Rússia na guerra criminosa de Vladimir Putin contra a Ucrânia. Não se sabe exatamente o que o Brasil ganhou com esses gestos tresloucados de Lula”. Novamente, um disparate.
A única guerra criminosa é a que o imperialismo iniciou contra a própria Ucrânia, com o golpe de Estado de 2014, que colocou no poder um regime suportado por milícias nazistas que travou uma guerra contra os russos étnicos do leste da Ucrâni. Foram oito anos de massacre, até que os Russos intervieram defensivamente, diante da ameaça imperialista de fazer a Ucrânia ingressar na OTAN.
O Estadão, no ápice do cinismo, diz: “Na viagem à China, Lula se destacou por sinalizar o alinhamento do Brasil a uma ordem internacional baseada no autoritarismo e na força em oposição a uma ordem baseada no direito internacional e na valorização dos direitos humanos, do pluralismo político e das liberdades civis”.
Qual seria a ordem baseada no direito internacional e na valorização dos direitos humanos, do pluralismo político e das liberdades civis? A ordem imperialista, liderada pelos EUA, que jogou de graça duas bombas atômicas no Japão? Que implantou centenas de ditaduras fascistas mundo afora após a Segunda Guerra Mundial? Que provocou e provoca a morte de centenas milhões de pessoas com a política neoliberal?
Por fim, em uma clássica inversão de valores, o jornal golpista diz: “Mas um dos pontos altos do vexame da viagem de Lula foi o momento em que, ao falar da guerra na Ucrânia, voltou a equiparar o agressor, a Rússia, ao agredido, a Ucrânia, e a condenar os EUA e a Europa por ajudarem os ucranianos a restaurarem sua soberania”.
Ademais (já afirmarmos, mas não custa repetir), o golpe do Euromaidan, de 2014, que resultou na atual guerra, foi realizado pelos EUA, retirando toda soberania da Ucrânia, uma vez que instalou no poder governos fantoche.
Hoje, a Ucrânia está destruída economicamente, além de o país estar já endividado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que é uma forma de atacar sua soberania. Portanto, Lula está certo em sua posição ao condenar EUA e Europa pela guerra que causaram.
Toda a grande imprensa segue na mesma linha que O Globo, que publicou editorial no dia 17 que chama a atenção, seu título é “Neutralidade de Lula revela apoio tácito à Rússia”. Versa sobre a vista de Lula à China, a Abu Dhabi e seu encontra com Sergey Lavrov. Critica, no geral, a política externa anti-imperialista do presidente, condenando especial à política relativa à Ucrânia.
Termina dizendo o seguinte: “A tradição de não alinhamento poderia ser seguida de modo mais produtivo em questões onde a voz do Brasil importa, como mudanças climáticas ou transição na Venezuela. Em vez disso, dentre quase 130 “neutros” no conflito ucraniano, o Brasil é o único que se meteu a criar um “clube da paz” e flerta abertamente com a Rússia. O perigo de provocar os americanos e europeus é evidente: Lula arrisca levar um tombo”.
Ora, O Globo age como um garoto de recados o imperialismo e parece ameaçar com um golpe de Estado, caso Lula continue com sua política.
Fica a reflexão: se o presidente Lula estivesse sendo um capacho do imperialismo (como setores da esquerda pequeno-burguesa apregoam) a imprensa pró-imperialista estaria em lua de mel com ele. Contudo, estamos vendo exatamente o oposto. Já chegam ao ponto de sugerir a sua derrubada!
E quais a conclusões que devem ser tiradas? Lula deve continuar aprofundando sua política externa em um sentido anti-imperialista. E não apenas ela, mas também sua política interna, a qual deve ser voltada para um desenvolvimento nacional que possibilite uma profunda melhoria nas condições de vida dos trabalhadores.
Para que Lula consiga realizar uma política anti-imperialista no âmbito interno, não há alternativa senão se ancorar na mobilização popular da classe trabalhadora, o que deve ser feito no plano imediato. E não apenas por Lula, mas a política de mobilização deve ser iniciativa também de toda a esquerda, de todas as organizações populares. O tempo urge.