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Questionaram as eleições...

Vão prender toda a população do Gabão por questionar as eleições?

A esquerda pequeno-burguesa que cultua o sistema eleitoral brasileiro deveria pedir a prisão imediata de toda a população gabonesa

No último sábado, este Diário publicou uma entrevista exclusiva com Daniel Mengara, o fundador do movimento Bongo Must Go e um exilado político gabonês que reside, atualmente, nos Estados Unidos. Na ocasião, Mengara forneceu informações valiosas e de difícil acesso acerca da situação política no atual do Gabão, que foi palco de um golpe há menos de 15 dias, e da história do país centro-africano. Não deixe de conferir a entrevista por meio deste link ou do link abaixo:

Leia na íntegra entrevista de líder dos exilados do Gabão ao DCO

Aos que não acompanharam o caso, um grupo de militares de alta patente derrubou o governo de Ali Bongo minutos depois que a autoridade eleitoral do país anunciou que o agora ex-presidente havia ganhado o pleito. A reação foi tão forte justamente porque o resultado foi escancaradamente manipulado, contrariando a expectativa não só da oposição, mas de toda a população.

Na entrevista, ao ser questionado sobre as eleições no Gabão, Mengara fez um rico relato de como ocorreram as eleições deste ano e de toda a história no país, mostrando como, desde sempre, o pleito é um jogo de cartas marcadas, feito para garantir que a família Bongo permanecesse no poder – algo que funcionou por mais de cinco séculos.

Aqui está um trecho de sua resposta (não se esqueça que o resto pode ser lido, com exclusividade, no Dário Causa Operária):

“Primeiramente, eu contei anteriormente sobre Omar Bongo chegando ao poder em 1967 e depois estabelecendo uma regra de partido único em 1968. Agora, é claro, sob um sistema de partido único, você vota apenas em um partido. Isso significa que, nesse caso, nem mesmo há um debate. Essas nem mesmo eram eleições. Quando alguém ganha com 99,99% dos votos, isso é ridículo, é o que chamamos de resultado “stalinista”. Portanto, de 1968 a 1990, foi o sistema que tivemos. E então, é claro, vieram as mobilizações estudantis de 1990.

Então, em 1990, tivemos as primeiras eleições legislativas para o parlamento, e o parlamento validou a Constituição que havia sido acordada em 1991. E, então, tivemos, portanto, a primeira eleição presidencial em 1993, resultante das reformas que haviam sido feitas de 1990 até aquele momento. Bem, acontece que, com base na impopularidade de Bongo, ninguém esperava que eles ganhassem aquela primeira eleição. Mas eles venceram. Mas sabíamos que o candidato da oposição provavelmente era o vencedor. Mas Bongo roubou aquela eleição, e depois em 1998, ele roubou a eleição novamente. E, então, em 2005, ele roubou a eleição novamente. E, então, Omar Bongo morreu, seu filho assumiu em 2009, e ele roubou aquela eleição. E então, em 2016, foi provavelmente a primeira eleição no Gabão em que tivemos prova direta de como o regime estava roubando essas eleições.

Então, agora, nesta eleição, eles fizeram exatamente a mesma coisa. Esta foi provavelmente uma das piores eleições que a família Bongo já viu, que eles iriam perder por mais de 60%. Mas o que fizeram foi basicamente inverter o resultado proclamando um resultado falso, assim como tinham feito em 1993, assim como tinham feito em 1998. O que se pode fazer? Porque não há um mecanismo para a oposição combater isso. Eles controlam a mídia, eles controlam as eleições. O sistema não permite que ninguém no sistema eleitoral saiba o que realmente está acontecendo. E assim eles podem ir à televisão e simplesmente anunciar qualquer resultado que desejarem. E foi isso que eles fizeram desta vez novamente, e é claro que o exército assumiu imediatamente – cerca de 15 minutos depois de terem proclamado esse resultado, o exército assumiu o poder.

Não há uma única eleição no Gabão que se possa dizer que foi democrática, que foi organizada de acordo com princípios básicos de Justiça. Não, sempre foram eleições roubadas.”

Ou seja, em suma, o que ocorreu foi: o povo do Gabão, representando por suas Forças Armadas, ficou cansado de ter que engolir resultados eleitorais claramente falsos por décadas e resolveu pôr um fim a isso derrubando a chamada “dinastia Bongo”. Antes disso, criticavam como as eleições ocorriam no Gabão – isso quando não eram perseguidos pelo governo por essas contestações.

O caso coloca em xeque a posição de um setor da esquerda pequeno-burguesa brasileira que defende que qualquer tipo de crítica ao sistema eleitoral deve ser punida com prisão. Para essa esquerda, a mera afirmação de que pode haver um problema com o sistema eleitoral do Brasil é o mesmo que pegar em armas e instaurar uma ditadura fascista no País – aos juízes de plantão, este Diário não está contestando as eleições brasileiras, tampouco está sugerindo um golpe.

Nesse sentido, deveriam defender que todos os cidadãos que apoiam o golpe no Gabão sejam presos por questionarem o processo eleitoral do país. Mais do que isso, deveriam publicar imediatamente notas em repúdio à derrubada do governo – feita com base em críticas ao sistema eleitoral – e se colocar frontalmente contra o movimento que livrou o povo gabonês de séculos de subserviência à França.

“Mas o regime gabonês é praticamente uma ditadura, o Brasil possui uma democracia consolidada”, diriam. Decerto que o sistema político no Gabão é completamente diferente e muito menos democrático que o brasileiro. Mas que tipo de “democracia consolidada” é a que permite um golpe como o feito contra Dilma em 2016? Que tipo de democracia é essa que, em 2018, prendeu o líder mais popular do País. O que falar do regime que diariamente, e principalmente por meio do Judiciário, destrói direitos fundamentais como o à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa?

Aqui, é preciso ter uma posição de princípios: a defesa dos direitos democráticos do povo deve ser absoluta. Nesse sentido, criticar seja lá qual for o regime político, bem como propor mudanças a ele como, por exemplo, o voto impresso, deve ser um direito inabalável.

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