A corrente interna do PSOL, Resistência, publicou em seu portal na internet,Esquerda online, um artigo intitulado “A esquerda brasileira diante da guerra na Palestina”.
São importantes algumas considerações sobre algumas coisas que são ditas na matéria que mostram a confusão da esquerda em relação à questão da palestina.
O texto começa fazendo considerações sobre as teses de agitação e propaganda. Uma enrolação para preparar a política direitista que vemos a seguir:
“Palavras de ordem radicais pedindo o fim do Estado de Israel não nos torna mais ou menos revolucionário. Exaltar a violência revolucionária não nos torna mais ou menos recuados. É preciso saber a tática correta para o momento correto. No momento atual é preciso lamentar e condenar a morte de civis inocentes, buscar se diferenciar do Hamas, e isso não faz de ninguém mais ou menos comprometido com o internacionalismo e com a luta anticolonial.”
Aqui está o segredo da política do Resistência. Seu apoio à Palestina tem que estar disfarçado. Apoiar o Hamas não pode, porque “pouco nos permite dialogar com setores amplos da nossa classe, que deve ser nosso objetivo neste momento”. Uma teoria para disfarçar uma capitulação política.
A esquerda pequeno-burguesa acredita que o povo, os trabalhadores precisam ser tratados como crianças. Os trabalhadores não são filhos de apartamento que ficam escandalizados com qualquer radicalismo.
É interessante ver isso vindo de uma esquerda que acredita que as questões de costumes devem ser impostas sobre as pessoas. Funciona mais ou menos assim: em questões não fundamentais, como defender que homem pode ser mulher e mulher pode ser homem, a esquerda quer impor ao povo. Já em questões fundamentais, como defender o direito irrestrito e incondicional do povo palestino reagir, aí não se deve falar coisas que “não permitem dialogar”.
Diferentemente do que diz o Resistência, defender o Hamas como a expressão legítima da luta dos palestinos contra a opressão e defender o fim do Estado de Israel como uma luta contra o imperialismo são parte da luta política para fazer evoluir a consciência revolucionária das massas.
Sim, defender esses pontos fundamentais faz com que a pessoa ou o grupo sejam “mais ou menos revolucionário”.
Por trás dessa teoria fajuta do Resistência está o medo de defender abertamente e incondicionalmente a luta dos palestinos. E não defende porque o imperialismo impôs um veto. A longa tentativa da matéria de justificar por que não se deve ser tão radical é apenas a cobertura para essa capitulação.
A conclusão da matéria mostra bem isso:
“Diante disso, acreditamos que a esquerda brasileira deve ter responsabilidade e hierarquizar por palavras de ordem pela paz, cessar fogo e fim do genocídio do palestino. Denunciando o apartheid e a colonização. Colocando que o povo palestino tem direito a ter seu Estado-Nação. O centro deve ser a denúncia da guerra e do massacre cometido pelo Estado de Israel, palavras de ordem que mais parecem que se está reforçando a necessidade do conflito por parte do povo palestino não ajudam a romper o muro ideológico e ganhar mais pessoas para nosso lado. A esquerda deve condenar o terrorismo como estratégia política por quê tem como objetivo promover mortes indiscriminadas. Terrorismo e fundamentalismo religioso não podem ser tolerados pelos marxistas.”
O Resistência não quer tocar no assunto do direito à resistência do povo palestino. Falar em paz, cessar-fogo, fim do genocídio genericamente falando não é muito mais do que a demagogia feita pela próprio ONU e os jornais burgueses. Par um grupo que se diz revolucionário, é a posição mais direitista que se pode ter.
E essa posição fica revelada com a condenação do “terrorismo”. Repete a propaganda canalha da burguesia contra o terrorismo usando o nome do marxismo, o que torna o Resistência mais canalha do que a burguesia.
O marxismo apoia os métodos do terror sempre que eles forem necessários. Mais importante, os legitima sempre que eles forem a única saída do oprimido contra uma situação intolerável como é o caso dos palestinos.
Mas só o fato de chamar o Hamas de terrorista já é uma canalhice. É acreditar na propaganda mentirosa da burguesia para, atacando o Hamas, atacar todo o povo palestino. Não há “terrorismo” do Hamas, o que há é um grupo que está se defendendo de armas na mão, junto com outros grupos, contra um Estado fortemente armado e apoiado pelo imperialismo.
“No campo da política estatal, devemos cobrar que o governo brasileiro, que exerce a atual presidência do Conselho de Segurança da ONU, desempenhe papel de mediação no conflito em Gaza e siga a tradição da política externa brasileira de defender a soberania e autodeterminação dos povos, denunciando e condenando os ataques de Israel.”
O grupo Resistência abandonou o marxismo revolucionário – que eles dizem defender – para a defesa da política diplomática burguesa. É assim que se convence as massas? Com certeza não, porque para isso já existem a burguesia, seus jornais, suas instituições.