Nessa quinta-feira (20), começou a Copa do Mundo Feminina. Poderia ser apenas um campeonato normal da modalidade feminina do esporte mais popular do mundo. Mas, em tempos de intensa propaganda identitária por parte do imperialismo, não consegue ser relativamente normal. Uma enxurrada de demagogia toma conta da imprensa: de comparações sem fundamento com o futebol masculino até o assédio moral contra aqueles que supostamente não dão valor ao campeonato.
Uma colunista do UOL/Folha de S. Paulo, Alicia Klein, fez um artigo mostrando toda a sua irritação com os machistas: “A Copa do Mundo começou: uma mensagem aos machistas que já saíram da toca”. A autora nem deve ter percebido, mas com esse título ela está dizendo que o mundo era bom, mas a Copa do Mundo fez os machistas “saírem da toca”.
É uma dura realidade para quem vive num círculo reduzido de classe média, descobrir que o resto do mundo, a maioria das pessoas, não compartilha dos mesmos dogmas que os identitários. Por isso, para ela, as pessoas que considera “machistas” estavam dentro da toca e só saíram agora, com a Copa do Mundo:
“Durante a transmissão da partida de abertura do Mundial, a CazéTV decidiu desativar o chat por conta de comentários misóginos. Desde os já populares ‘vai lavar louça’ até palavras ofensivas sobre a aparência física das atletas.”
Por mais reprováveis que possam ser tais comentários, eis o mundo real apresentando-se para a escritora do UOL. Para ela, o problema do que ela chama “machismo” é uma piadinha idiota sobre ir lavar louça e comentários sobre a aparência das mulheres. Se o problema das mulheres fossem apenas esses, o mundo estaria quase perfeito.
Ela não tem nem ideia do mundo em que vive e seu comentário revela porque os identitários, que são pessoas de classe média, ficam tão estarrecidos com coisas que são faladas. Isso explica porque eles querem tanto calar e censurar os outros. Eles não suportam nada que fira os seus ouvidos sensíveis, seu sentimentalismo de apartamento.
Ela nem percebe, por exemplo, que os “machistas” que ela não entende por que “se dão ao trabalho de ligar o streaming cedinho para assistir a um jogo que dizem desprezar, com o único intuito de falar merda”, muitas vezes fazem isso como uma reação ao comportamento de mocinha de apartamento dos identitários.
Não temos a intenção de entrar no mérito dos comentários que, além de tudo, mal sabemos quais eram além dos dois exemplos da autora. O que chama a atenção é o método do “vamos calar todo mundo que me incomoda”.
O que é interessante é que a própria autora acaba mostrando o erro desse método. Ela diz que “para silenciar os imbecis tiveram de silenciar todo mundo.” Essa é uma boa lição para os identitários. Silenciar os imbecis pode ser cômodo, mas vai acabar por silenciar todo mundo.
Isso, num chat de YouTube, pode não ser grande coisa, mas no mundo real, na política, no judiciário, no Congresso Nacional, na imprensa etc, é muito perigoso. Por isso a censura nunca é boa, por isso o melhor método para combater os imbecis é defender o mais amplo e livre debate e discussão. Se todos puderem falar, melhor, independente das ideias “imbecis” que cada um tenha. Se só alguns puderem falar, ninguém poderá falar, a não ser os poderosos, únicos que têm condições de decidir arbitrariamente o que são ideias imbecis e o que não são. Mas aí, é ditadura.