Não pretendo aqui entrar nos detalhes da organização e dos debates reivindicativos da greve na Universidade de São Paulo. Mas sim, pretendo fazer uma breve análise de seu conteúdo político e do que a greve mostrou sobre a mobilização no movimento estudantil.
A USP, inegavelmente, é o centro político de todo o movimento de juventude. Apesar das mobilizações estarem paralisadas há quase uma década, ela ainda representa o local de maior influência e organização dos estudantes.
Mesmo nela, a discussão sobre as pautas do movimento estudantil e suas estratégias de luta estavam extremamente pedantes e desagregadoras. Como nada de fato acontecia, e no geral as conversas eram acerca de temas identitários como o uso de pronomes neutros, os estudantes pouco queriam saber de movimento estudantil.
Nesta etapa, nossa intervenção foi trazer uma discussão mais política para a juventude. Discutir os grandes problemas nacionais e internacionais, os temas mais polêmicos, os temas teóricos do marxismo, questões que realmente fossem interessantes para a juventude.
Agora, independente das revindicações puramente econômicas e também desanimadoras do comando da greve, a mobilização mostrou o que sempre foi e sempre será característico da juventude: é combativa, revoltada e é o setor mais disposto a travar uma luta revolucionária.
A greve começou pelos professores de Letras, no mesmo departamento de Filosofia e Ciências Humanas (FFLCH). Ainda em agosto deste ano reivindicaram principalmente a contratação de docentes e o gatilho automático para os professores que se afastavam. Alguns cursos, como a habilitação em coreano, estavam ameaçados de extinção, e em outros cursos, poucos professores trabalhavam por muitos.
Logo, quando os estudantes entraram na greve, as atividades de mobilização aumentaram radicalmente. Com ocupações, piquetes, manifestações, etc. Ao mesmo tempo, na medida em que mais estudantes se incorporavam na greve, as reivindicações econômicas foram sendo encobertas pelo que realmente queriam os estudantes: fora Tarcísio, contra as privatizações, por uma universidade verdadeiramente democrática, pelo aumento da verba da universidade, etc.
Isso foi o que eu mais escutei nos atos e nas atividades. Mesmo que as direções do movimento negociam especialmente as questões econômicas, que não resolveria o problema de fato para os estudantes, a juventude mostrou que, se bem organizada, quer derrubar todo o sistema.
Aqui esta a questão fundamental de todo o movimento. A luta econômica, ou seja, a luta por conquistas imediatas, foi o propulsor da mobilização, agora, ela é completamente insuficiente para resolver os problemas. A reitoria, por exemplo, prometeu contratar um número inferior dos apresentados pelos estudantes, ela nem quis discutir outras questões como as bolsas sociais com o valor de um salário mínimo, a democratização da entrada de estudantes, etc. E mesmo que ela discutisse, a qualquer momento pode voltar atrás quando os estudantes se desmobilizarem.
Não adianta. A situação atual, com as universidades completamente dominadas por funcionários da direita e a direita ela mesma funcionária do imperialismo, exige uma luta política. Não adianta pedir mais professores, é necessário acabar com a reitoria de Tarcísio, o projeto de privatização das universidades, e impor um governo universitário controlado pelos estudantes. É necessário lutar contra à direita no Congresso, contra a invasão do imperialismo no País e as privatizações desenfreados do ensino e outras áreas.
Se não vencermos a luta política, não venceremos as menores questões econômicas. E a animosidade da juventude para travar esta luta foi exatamente isso que a greve mostrou. Os pelegos, que infelizmente dirigem o movimento, como sempre, vão fugir destas pautas, mas ao contrário deles a juventude mostrou que quer não só mais professores como a cabeça do Tarcísio.
Mesmo com a possível derrota da greve, ainda mais com a intransigência da reitoria, ela causou um verdadeiro impacto na luta da juventude. Foi a greve com a maior número de departamento da USP participando. Ela chegou a chegar em outra universidade como a UNICAMP.
E mais do que isso, para todo mundo que foi nos atos e nas atividades, ficou claro que a juventude não é cansada como dá a entender após anos de paralisia. Pelo contrário, se bem dirigida, ela quer garantir um futuro pleno e digno, e está disposta a lutar por pautas reais e revolucionárias.