No início do século XX, o Império Otomano era um dos maiores países da Europa. Apesar disto, os otomanos não integravam o bloco de países imperialistas, ainda em formação no início do século XX, que, aos poucos, engoliam seu território. Mantinha-se grande apesar de ter perdido porções significativas de sua vasta extensão territorial: o norte da África para a França e outras regiões a Leste para o Reino Unido.
O Império Otomano era, de certa forma, um anacronismo histórico, uma sombra do grande Império Árabe, que em sua decadência fora conquistado pelos turcos e que agora estava à beira do colapso. Não por acaso, a imprensa da época referia-se ao Império Otomano por “o homem doente da Europa”.
A expansão do sistema capitalista já infiltrava as fronteiras otomanas e corroía um regime político cada vez mais frágil, sem sustentação econômica. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, a economia otomana era praticamente dominada pelo imperialismo alemão, como parte de sua luta contra os imperialismos britânico e francês. A eclosão do conflito, naturalmente, refletiu-se nessa situação.
A estratégia britânico e francesa, tanto para sabotar a aliança de seus adversários, como para antecipar a partilha do território otomano, em franca decadência, apoiou-se no crescente nacionalismo árabe que se opunha ao governo otomano. Com consciência de que os árabes eram um povo muito atrasado que não poderiam fazer frente à sua dominação, França e Inglaterra estimularam e armaram grupos guerrilheiros que se insurgiriam contra os otomanos. Em troca, as forças imperialistas prometeram a independência dos países árabes.
A divisão estava de fato nos planos imperialistas, mas sua independência certamente não. Os planos de França e Inglaterra foram definidos no início de 1916, firmados entre os diplomatas Mark Sykes, representando a parte britânica, e François Georges-Picot, do lado francês. O acordo Sykes-Picot, firmado com o aval do Império Russo e do Reino da Itália, especificava minuciosamente as áreas de influência das grandes potências sobre a região e foi tornado público pelos bolcheviques após a Revolução Russa de 1917.
O acordo Sykes-Picot abriria caminho para uma série de acordos que essencialmente impediriam a formação de uma grande nação árabe, de difícil dominação, em pequenos países sob controle imperialista.
Líbano e Síria têm raízes históricas, mas estavam mais próximos da unificação do que da separação após séculos sob domínio árabe e otomano. Separados, caíram sob o domínio francês. As monarquias do Iraque e da Jordânia, extremamente reacionárias, sustentaram-se no imperialismo britânico que as mantinham para a garantia de seus interesses econômicos na região. Em 1923, consolidou-se o mandato britânico da Palestina, um dos primeiros passos para a formação do estado sionista de Israel.
A partilha do Oriente Médio, sobre o cadáver do Império Otomano, deu-se da mesma forma que no continente africano. O plano colonial das potências imperialistas visou a distribuir os recursos dos países atrasados entre si segundo sua força política, ao mesmo tempo que procurou impedir a formação de um país grande, unificado, de difícil dominação. Não à toa, o pan-arabismo e o pan-africanismo são movimentos que se mantêm vivos até hoje e que, apesar de enfraquecidos, demonstram a necessidade histórica dessa unificação.
Inserido nos planos britânicos de partilha do Oriente Médio já estava a criação do Estado de “Israel”. Logo após Sykes-Picot, em 1917, o ministro de Relações Exteriores britânico envia uma declaração ao banqueiro britânico judeu, o barão de Rothschild, oficializando o apoio imperialista ao sionismo, meio pelo qual se valeriam para dominar a Palestina. O documento, conhecido como declaração de Balfour, falava na necessidade da “construção de um lar judeu na Palestina”. Sem esse apoio, a criação do Estado de “Israel” jamais teria sido possível, tema que exploraremos melhor em outros artigos.
Os desdobramentos da partilha do Oriente Médio refletem-se até hoje nas monarquias alinhadas ao imperialismo e nos golpes contra os governos nacionalistas de Saddam Hussein no Iraque, Bashar Al-Assad na Síria, Gamel Nasser no Egito, entre outros. É um dos principais fatores para a falta de unidade entre os governos em defesa da luta do povo palestino contra a ocupação sionista, algo que evidentemente é o desejo da população árabe de conjunto dadas as enormes manifestações de rua nesses países em defesa da Palestina.