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Esquerda filoimperialista

Um balanço golpista de 2013

Dez anos depois das manifestações que terminaram sendo sequestradas pela direita, surge do aquém e do além a teoria de que "a culpa nunca é da CIA"

Dos mesmos estúdios de onde saía o mantra “a culpa é do PT”, agora começa a ser produzido em série um novo refrão para a situação política internacional: “a culpa nunca é da CIA”.

Os personagens são mais ou menos os mesmos – uns pouco conhecidos à época, outros mais. Uma das pessoas que mais tem chamado a atenção pela insistência nesta posição é Jones Manoel, um youtuber filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) que começou a se tornar conhecido após fazer campanha eleitoral para Guilherme Boulos em 2020 (tendo inclusive viajado para São Paulo para isso) e por, no mesmo ano, ser elogiado pela Folha de S.Paulo e por Caetano Veloso. Para irmos direto ao ponto: trata-se de uma pessoa diretamente a ligada a pessoas que são ligadas aos serviços de inteligência norte-americanos. Boulos é do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) , parceiro da Global Americans, financiada pelo órgão de fachada da CIA, o NED, e Caetano Veloso é um homem da Rede Globo de Televisão.

Um dos momentos em que Jones Manoel repete o mantra da moda é no vídeo “Junho de 2013 foi uma “Guerra Híbrida” do imperialismo?”, publicado recentemente. No vídeo, o youtuber comenta as colocações do psolista Vladimir Safatle, em entrevista com Breno Altman – colocações essas com as quais Jones Manoel está plenamente de acordo.

O centro do debate levantado por Manoel e Safatle é comprovar que as manifestações de 2013 não foram uma “guerra híbrida”, criticando, assim, o conceito defendido pelo analista norte-americano Andrey Korybko. A crítica à confusa teoria de Korybko, conforme veremos, não tem o objetivo de estabelecer uma teoria precisa sobre a atuação do imperialismo, esclarecendo as massas sobre a atuação de seu inimigo, mas sim a de usar as falhas teóricas do analista, que não é marxista, para defender uma teoria profundamente reacionária e antimarxista: a de que os golpes de Estado ocorrem por culpa das vítimas desses golpes, e não por culpa do imperialismo.

No momento inicial do debate, tanto Safatle quanto Jones Manoel rejeitam o próprio uso do termo “guerra híbrida” por considerar que este seria um nome substituto para um termo que já existe, que é o imperialismo. Não se trata de lawfare, de “guerra híbrida”, nem da novidade das redes sociais: é o imperialismo, defende Jones Manoel. Até aqui, temos acordo.

O truque está quando, em uma fala pretensamente radical, Safatle afirma que “a esquerda sabe, há pelo menos 150 anos, que a sua atuação política sempre vai ser uma atuação sob guerra”. Tomada de maneira isolada, poderia apenas parecer uma frase de efeito para encorajar os adeptos de Safatle a se engajarem na luta de classes. Mas, conforme Jones Manoel ajudaria a esclarecer, o seu objetivo é outro. Ao dizer que a esquerda sempre está em guerra, Safatle quer dizer, na prática, que uma ofensiva do imperialismo 0 isto é, um golpe de Estado, é algo irrelevante, pois o é como se o “golpe de Estado” já estivesse sendo dado há 150 anos.

Jones Manoel reforça essa ideia ao afirmar que: “a ideia de que existe uma interferência de potências estrangeiras e nos últimos anos particularmente dos Estados Unidos na política interna brasileira para garantir os seus interesses é pão comido”.

Trata-se, obviamente, de um truque, de uma tentativa de explorar as deficiências das concepções mais oportunistas para estabelecer uma teoria supostamente radical. Se a esquerda institucional alega que não haverá um golpe de Estado porque as “instituições” não permitirão um golpe, Jones Manoel defende que as instituições já deram o golpe há milhares de anos, quando passou a existir a propriedade privada. Os dois levam ao mesmo raciocínio: impedir o golpe de Estado é impossível, seja por que ele não vai acontecer, seja porque ele já aconteceu.

Há, no entanto, uma diferença marcante. A crença nas instituições leva a uma mera paralisia, o que, obviamente contribui para o sucesso do golpe. No entanto, a crença de que o golpe já foi dado leva a uma outra conduta inevitável: a de que é preciso se alinhar ao golpe. Afinal, se é irrelevante os interesses do imperialismo no momento – isto é, se querem derrubar um governo de esquerda ou não -, qualquer ataque a um governo é uma oportunidade de inflamar a população contra esse governo, de modo a levantar as suas próprias palavras de ordem.

Isto é, suponhamos que para derrubar um governo de esquerda, o imperialismo faça uma campanha de que o governo é corrupto. Se você for um comunista a la Jones Manoel, você pensaria o seguinte: como eu acho que o governo é corrupto e como eu acho que o governo seria menos corrupto se ele seguisse o meu programa, eu vou incentivar as pessoas a se colocarem contra o governo. Assim, as pessoas, que estão lutando contra a corrupção, vão pressionar o governo em torno do meu programa. A luta contra a corrupção é uma farsa? Não tem problema. O imperialismo é muito mais poderoso que eu, está em uma ofensiva e vai utilizar as manifestações para derrubar o governo e depois estabelecer um governo ainda mais corrupto? Pouco importa. O golpe de Estado já foi dado, o que importa é que eu surfe na onda das manifestações golpistas e tente tirar algum proveito disso.

Não é mera hipótese. Esse raciocínio aparece de maneira cristalina na fala de Jones Manoel.

O youtuber se aproveita de uma fala de Safatle em que ele diz que o imperialismo só consegue manipular as massas para um golpe de Estado quando há fortes “contradições” no país em questão. Dito de outro modo, só existe golpe de Estado quando o imperialismo consegue explorar um problema real. Um problema, conforme melhor exporia Jones Manoel, que seja culpa do governo:

“Vamos dizer que o imperialismo estadunidense (sic) queira desestabilizar o governo Lula junto com a mídia (sic) burguesa, junto com os aparelhos ideológicos do Brasil, e comece uma campanha em 2024 dizendo que o governo Lula não está combatendo a fome (…).É mentira que tem milhões de pessoas passando fome? Não. É mentira que o governo Lula está preferindo conciliar com o agronegócio do que avançar numa política de reforma agrária e de combate à fome? Não”.

A fala é espantosa por dois motivos. O primeiro é o fato de que Jones Manoel deixa claro: se o governo não for “perfeito” – isto é, se o governo não for o governo de seus sonhos -, não merece ser defendido de uma ofensiva golpista. Mesmo que isso signifique a perda de milhões de empregos e de centenas de milhares de vidas, como aconteceu com o golpe de 2016, em que ele teve a mesma posição. O segundo ´é que o youtuber não deveria especular sobre uma ação futura do imperialismo – as movimentações golpistas estão acontecendo neste momento, e Jones Manoel, ao ignorá-las, já está dando mostras de que lado irá ficar quando o golpe de Estado se colocar de maneira mais aberta.

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