Em recente artigo, o portal estadunidense The Washington Post expressa preocupação com as ações dos representantes políticos de diferentes países que, no último período, têm apresentado uma política antiimperialista.
O colunista Farred Zakaria, especialista em análise internacional, apresenta uma série de acontecimentos que demonstram como vários países de capitalismo atrasado estão deixando a subserviência aos EUA.
Zakaria cita as observações que fez em relação às eleições gerais na Turquia e destaca a declaração do ministro do Interior, Suleyman Soylu, que chamou sua atenção. Com entusiasmo, o ministro prometeu que o presidente Recep Tayyip Erdogan “eliminará qualquer pessoa que cause problemas” para a Turquia, incluindo os militares dos Estados Unidos. Soylu já havia afirmado anteriormente que aqueles que seguirem uma postura pró-americana serão considerados traidores. O colunista destaca que Erdogan, presidente que derrotou o candidato do imperialismo, é conhecido por sua retórica veemente antiocidental, ou seja, antiimperialista, e isso ficou ainda mais evidente em uma publicação recente em sua conta no Twitter. Cerca de uma semana antes do primeiro turno das eleições, Erdogan afirmou que seu oponente não cumpriria suas promessas feitas aos “terroristas assassinos de bebês” ou aos países ocidentais.
E Erdogan não está sozinho nessa política. Zakaria considera que já é evidente que uma grande parte da população mundial não se alinha mais ao domínio dos EUA. A guerra da Ucrânia ressaltou um fenômeno mais amplo: muitos dos maiores e mais influentes países estão se tornando cada vez mais anti-imperialistas.
O caso do Brasil é apontado, para o jornalista, nos poucos meses em que Lula esteve no cargo, o atual presidente optou por fazer críticas incisivas aos EUA, expressando sua insatisfação com a hegemonia do dólar e afirmando que tanto a Rússia quanto a Ucrânia são igualmente culpadas pela guerra. O que para os imperialistas que estão promovendo a guerra é ter uma posição a favor da Rússia. Não deixam de citar também que recentemente, Lula recebeu muito bem o presidente venezuelano Nicolás Maduro, elogiando-o, e criticou os Estados Unidos por negar a legitimidade de Maduro e impor sanções ao país venezuelano.
O caso da África do Sul também é destacado. Se anteriormente o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa tinha uma reputação de ser um líder pragmático e favorável aos negócios com os EUA, estreitou seus laços com a Rússia e a China durante seu mandato. A África do Sul se recusou a condenar a invasão russa da Ucrânia, realizou exercícios conjuntos com as marinhas russa e chinesa e agora está enfrentando acusações dos Estados Unidos de fornecer armas à Rússia, embora o governo sul-africano negue essas alegações.
No artigo do TWP, não deixam também de apontar ações do governo da Índia que deixaram claro desde o início da guerra na Ucrânia que não pretendem se aliar contra a Rússia, que continua sendo o principal fornecedor de armas avançadas para suas forças armadas. As declarações da Índia sobre sua intenção de manter um equilíbrio em suas relações com o Ocidente, Rússia e até mesmo a China têm sido frequentes. Isso levou um estudioso renomado das relações EUA-Índia a alertar Washington para não presumir que a Índia ficará automaticamente do lado dos Estados Unidos em uma possível crise futura com a China.
Esses exemplos destacam que a crise geral do imperialismo está possibilitando que os países atrasados levantem a cabeça e não tenham receio de se opor à política dos países dominadores. Para os brasileiros que estão alheios a esses acontecimentos e observam a dificuldade de Lula governar o Brasil, pode parecer que são acontecimentos muito negativos no geral. Mas devemos considerar que esses acontecimentos só são negativos para a dominação dos países imperialistas sobre os países atrasados. Para os povos oprimidos, o enfraquecimento da política imperialista favorece uma rebelião cada vez maior contra o domínio do imperialismo.